Destaque de segunda-feira pelos quatro cantos do País, a improvável classificação do Bahia ao octogonal final da Série C fez o clube literalmente ressurgir das cinzas. Também pudera: a alegria de anteontem, numa Fonte Nova em êxtase, foi a maior dos últimos cinco anos tricolores.
Desde 2002, quando a equipe conquistou o seu mais recente título o Campeonato do Nordeste em pleno Barradão , a torcida não comemorava tanto. De lá para cá, além dos fiascos que todos estão cansados de ouvir, e a reportagem de relembrar, o máximo que o time fez foi escapar da Série B de 2003 e o empate heróico com o Goiás, no Serra Dourada, que lhe garantiu nas oitavas-de-final da Copa do Brasil desta temporada.
Conforme mostra a reportagem abaixo, o orgulho de ser Esquadrão de Aço inundou a cidade. Para o tricolor Rafael Kafka, por exemplo, cujos fundos da casa dão para a Colina Sagrada, o gol de Charles lhe fez acreditar no sobrenatural.
Aos 48 minutos do segundo tempo, de joelhos e com o radinho na mão, olhei para lá e implorei: Meu Pai, não me falha nessa hora!. E ele não falhou! Se eu tinha alguma dúvida de que Deus existia, ela morreu, espalhou a mensagem por toda a internet, jurando ser a mais pura verdade.
ÓPIO Há quem diga, porém, estar enfrentando um sentimento dúplice, bem complicado de se explicar: alívio de um lado, já que o clube do coração segue vivo no certame; e preocupação do outro, pois a diretoria ganhou força para se manter no poder.
Tome-lhe mais uma dose cavalar de ópio para cima da torcida! Salvador hoje cheira a naftalina. Muitos torcedores estão felizes, só não sei de quê. Tô confuso. Não sei se não seria melhor a eliminação. Domingo terá novo recorde de público, os críticos se abrandam e as coisas voltam ao seu (in) devido lugar, acredita o estudante de administração Vladimir Costa, também no meio virtual azul, vermelho e branco. O medo é de que o triunfo sobre o amazonense Fast varra as tão comentadas mazelas do Bahia para debaixo do tapete.
Hipótese bastante crível, diga-se. Mas já estaria havendo uma mudança de mentalidade da galera, imaginam setores da oposição.
Nem na Igreja do Bonfim, onde comemoravam a vaga, os cartolas tiveram sossego. Como já havia acontecido durante os 90 minutos, o hino tricolor oscilava com gritos contra o presidente Petrônio Barradas e os conselheiros Paulo Maracajá e Marcelo Guimarães.
A maior queixa ainda é o sonho de eleições diretas, pleito colocado em stand by pela direção. A série de episódios de indisciplina no elenco também é motivo de discórdia.
RESPOSTA Barradas rebate: Durante todo o caminho até a Colina Sagrada fomos parados, pessoas tiraram fotos com a gente, mas continuo com o mesmo pensamento. Cada um tem o direito de se expressar do jeito que quiser, só não concordo quando partem para a agressão, falam mentiras.
Perguntado sobre o que diria aos que prefeririam ver o Bahia dando adeus prematuramente à Terceirona, com o objetivo de prejudicá-lo, acrescentou: Eu não digo nada. Para mim, não importa quem está à frente do clube, eu torço sempre para o clube, e sempre tive essa visão, mesmo do lado de fora. De 2003 a 2005, por exemplo, também torci fervorosamente.
O presidente garante que os que não estiverem satisfeitos com a sua gestão podem fazer campanha, mostrar os motivos, promover o bom combate e se candidatar quando ocorrer eleições. Mas não se torce para Beltrano, Fulano ou Cicrano, conclui, assegurando que a diretoria fez tudo e continuará fazendo o possível para o Bahia subir. Não vamos medir nenhum esforço para isso se concretizar.
AMIÚDE Barradas aproveita para explicar o motivo da reunião realizada ontem à tarde, no Fazendão. A manutenção ou não do técnico Arturzinho, assegura, sequer entrou na pauta de discussões.
A gente sempre conversa depois de um jogo, depois de uma fase, para fazer avaliações. Em um momento decisivo como esse, é preciso ter tranqüilidade. E continua: Decidimos que vamos procurar os jogadores mais amiúde, para que eles entendam que o campeonato começa agora, que é a reta final. Precisamos de uma união maior do grupo, que os atletas fiquem mais integrados.
Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta terça-feira 09/10/2007 do suplemento A Tarde Esporte Clube
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