De Eduardo Rocha, no Correio da Bahia desta sexta-feira:
“A vergonha não está na derrota, limpa, no campo de jogo. É traduzida na atitude covarde de esconder a cara por trás de cortinas cerradas e janelas fechadas na clara tentativa de fugir à responsabilidade pelo delicado momento em que o Bahia se encontra nesta Série C. A saída sorrateira, pelos fundos, é digna mesmo da derrocada do Bahia nos últimos anos.
Descenso à Série B em 2003. Fracasso no quase-retorno em 2004. Queda ainda mais vertiginosa em 2005. Permanência no porão do Brasileiro em 2006. E uma temporada 2007 problemática, com perspectiva de acabar neste domingo, na Fonte Nova. O vôo 1633 da Gol aterrissou no aeroporto de Salvador por volta das 17h40 de ontem, mas os 200 torcedores que lotaram o saguão não tiveram a quem direcionar seus protestos, senão à imprensa.
A tradicional rota de fuga, batida nos anos de fracassos nas séries B e C, reeditou as escapadas furtivas pelo terminal de cargas. O drible eficaz na torcida não contornou jornais e televisão. Acompanhado por batedores da Polícia Militar, o ônibus passou, mas foi perseguido sistematicamente em roteiro que inicialmente levaria ao Fazendão, mas acabou num tour por Lauro de Freitas, Estrada do Coco, Villas do Atlântico, Ipitanga, Stella Maris e Praia do Flamengo.
A estratégia inicial era dar voltas aleatórias; em vão. Mediante a persistência da imprensa, restou o pinga-pinga. A cada parada, desciam atletas mudos, indiferentes aos insistentes pedidos de resposta. O técnico Arturzinho desembarcou com Amauri, Fausto e outros tantos num posto de gasolina na Estrada do Coco.
De pronto, adentrou o carro preto e sumiu sem dar muita importância ao destino dos outros, no melhor estilo cada um por si e Deus por todos. A brusca movimentação chamou a atenção de clientes e transeuntes. As duas viaturas da unidade de Rondas Especiais (Rondesp) fizeram seu trabalho. Abriram caminho para o ônibus seguir viagem. O destino? Casa. O lar doce lar tricolor desde o ano passado a terceira divisão do Campeonato Brasileiro.
PROTESTO – A movimentação desmedida no aeroporto no final de tarde denunciou o protesto. A organizada Bamor conseguiu reunir aproximadamente 200 torcedores, que saíram do Iguatemi em dois ônibus. Nariz de palhaço, pipoca, calcinha, gritos de guerra e faixas as mesmas utilizadas a cada movimentação contra o grupo que se perpetua no poder desde a década de 70.
Maracajá: coveiro do Bahia; fora malditos: Marcelo, Petrônio e Maracajá; Maracajá, Marcelo e Petrônio: o trio do mal. Os dizeres em letras brancas garrafais no fundo negro ressurgiram. A gente coloca 60 mil no estádio… não podemos ter uma diretoria dessas. Eles tinham que sair desde o ano passado, chorou Bruno Rosa, 13 anos.
O garoto sequer se lembra do último título do clube de coração. O longínquo 2002 passa tão longe em sua memória que Bruno desafina: eu não sei, porque nem era nascido na época. A culpa pelo sofrimento inconsciente é do pai, incentivador das tardes de domingo, na Fonte Nova. Perseguido pelos colegas, desabafa. O Bahia tem duas estrelas no peito e não pode continuar assim.
O pedido ganha coro no setor de desembarque, mas em tom de ordem dura e direta. A gente já se cansou há muito tempo. Queremos uma nova administração para esse clube já, pregou Jorge Santana, presidente da Bamor. A torcida vai ao estádio domingo, mas para dar seqüência aos protestos.
Ninguém esqueceu a venda de Danilo Rios, diferencial do time, por mísero milhão de reais. Os cofres engordam e o Bahia segue em queda livre. Para tapar o buraco, Preto que ainda não disse para que veio. E Carlos Alberto na farra, brigando com supervisor de futebol, completou um dos muitos anônimos. A mobilização ainda ganhou a frente do Fazendão, mas sem jogadores ou diretoria por lá, o encontro ficou adiado para domingo.”
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