Confira o “Pingue-Pongue” que o jornal Correio da Bahia realizou com o meia Rodrigo Neves de Freitas, o Guaru, em sua edição de ontem:
A torcida do Bahia tinha Robert no ano passado como ídolo, e você chegou ao clube no início do ano para atuar na posição em que ele jogava. Você esperava viver uma grande fase já no início do trabalho?
Logo no início, assim, não. Tinha ambição de dar seqüência ao trabalho, porém, sinceramente, só achava que alcançaria um nível realmente bom, produtivo, agora no Campeonato Brasileiro. Fiquei surpreso e muito feliz pelo meu desempenho no Campeonato Baiano. Espero dar continuidade agora na Série B e, quem sabe, repetir o ano passado, quando conseguimos, com o Fortaleza, voltar para a Série A.
Talvez as assistências já fossem esperadas pelos torcedores e até mesmo por você, mas os gols são uma surpresa, não (Guaru fez nove gols em 17 jogos e é o segundo maior goleador da equipe na temporada)?
Hoje, no Bahia, tenho mais liberdade de jogar do que no Fortaleza e no Crac, por exemplo. Aqui eu posso, no mesmo jogo, tanto vir de trás com a bola dominada, quanto atuar encostado nos dois atacantes. Muitas vezes troco de lado também, apesar de, na maioria dos lances, sempre estar caindo pelo lado esquerdo. Entendo que os gols vêm saindo por causa disso também, mas estaria mentindo para você se não afirmasse que estou surpreso com meu rendimento como goleador.
Está é a melhor fase de sua carreira?
Tive uma passagem muito boa no Crac, da cidade de Catalão, quando em dois anos fomos campeões da segunda divisão e da primeirona lá em Goiás, mas acho que realmente estou vivendo minha melhor fase aqui no Bahia, pela grandeza do clube e pela maior proporção que os fatos ganham, sem contar que os adversários são, muitas vezes, melhor qualificados.
Por que você escolheu vir para o Bahia, tendo a oportunidade de seguir no Fortaleza, que joga a primeira divisão?
Foram muitas coisas. Primeiro o convite de Hélio dos Anjos e a estrutura e importância do clube no futebol brasileiro. Tinha total confiança que poderia ter sucesso aqui, e, graças a Deus, ao menos por enquanto, estou sendo recompensado. Teve também aquela vontade de dar a volta por cima, porque em 2002, quando estive aqui por um tempo, não consegui me encaixar no elenco e acabei dispensado. Queria mostrar para mim mesmo que eu era capaz de estar no Bahia. A torcida também é maravilhosa. Pensar em jogar em estádios cheios, com o calor humano que há aqui, é tentador para vários atletas.
Depois de três meses, o que você pode apontar como muito diferente entre o Fortaleza e o Bahia?
A estrutura que temos aqui, não havia no Fortaleza e na maioria dos clubes que passei. Certamente o atleta no Fazendão tem todo um aparato que o deixa apenas com a preocupação de jogar futebol. Isso, no futebol brasileiro, pode-se contar nos dedos quantas equipes podem oferecer essas condições aos jogadores.
Como tem sido sua adaptação a Salvador? Você está aqui com a família?
Não há muita diferença entre Fortaleza e Salvador. Minha adaptação aqui foi tranqüila e muito rápida. Cheguei na cidade e em 20 dias minha esposa veio também. Hoje estamos à vontade em Salvador e com os hábitos daqui. Não somos muito de sair, até porque temos poucas folgas, mas sempre que podemos vamos à praia. Quando não dá, fico em casa com ela, ou jogando videogame (ele gosta de se divertir com os CDs do Play Station 2 e é viciado em Winning Eleven, que reproduz partidas de futebol).
Como disse antes, você teve uma breve passagem pelo Bahia em 2002, mas acabou dispensado. O que aconteceu naquele ano? Você guarda alguma mágoa daquele episódio?
Não tenho mágoas de jeito nenhum. Quando cheguei aqui, naquele ano, tinha acabado de pegar meu passe no Guarani e não estava bem fisicamente. Enquanto o resto do grupo vinha num ritmo forte por causa do Campeonato Baiano. Eu estava muito abaixo do rendimento do elenco e o Bahia não tinha como esperar por mim. Não tive muitas chances também, mas vi aquilo como coisa natural. Entretanto, esperava ter a chance de retornar um dia e mostrar para mim, que, em boas condições, eu poderia ter ficado no clube.
Talvez a única queixa da torcida contra você é que seu futebol não brilhou nos jogos mais importantes, contra Vitória e Grêmio, por exemplo. Como você lida com isso e o que esperar nas partidas decisivas da Série B?
As cobranças aumentam, ainda mais quando você dá uma boa resposta em campo, mas até o próprio reconhecimento da torcida nas finais foi bem melhor do que nos dois Ba-Vis anteriores. Jogador de futebol vive sendo cobrado e tem que aprender a lidar com isso, aproveitando as críticas boas para evoluir. Também acontece que, quando a gente fica com apenas um armador no meio-de-campo, o adversário marca individualmente, muitas vezes revezando, e isso naturalmente prejudica um pouco a minha produção.
Em uma autocrítica, qual seriam os pontos em que seu futebol precisaria de uma evolução, a médio e curto prazos?
No futebol a gente está sempre evoluindo, aprendendo, principalmente com aqueles mais experientes, como hoje tenho aqui o Viola e o Dill. Observo muito a maneira deles se posicionarem e sempre ouço os conselhos com atenção. Uma cosia que vejo que posso melhorar muito são as cobranças de falta, porque sei que posso marcar mais gols assim. Tenho que treinar mais, porque isso pode decidir muitas partidas.
Como foi seu percurso pelo futebol até chegar ao Bahia?
Comecei com 11 ou 12 anos no Corinthians, de São Paulo, mas tinha muitas dificuldades de ir da minha cidade para os treinos. Todo dia era muito tempo de viagem, com o desgaste para ir e voltar. Então acabei desistindo. Tinha 14 anos e era muito novo para morar em São Paulo. Fiquei em Taubaté parado por um tempo, jogando futebol de salão e alguns torneios de várzea, até que um dia me chamaram para jogar em São José dos Campos, onde até encontrei uns ex-companheiros de Corinthians. Fiquei um ano lá e fui chamado para o Guarani. Não queria morar em Campinas, mas tinha um irmão que tinha um tumor na garganta e o pessoal de lá se ofereceu para ajudar (hoje o irmão de Guaru está bem e joga futebol profissional), então aceitei o convite. Me profissionalizei com 17 anos, mas fui emprestado para o São Paulo, para o time de juniores. Quando retornei ao Guarani, consegui meu passe, em 2002. Fiz testes em alguns times, mas acabei contratado pelo Crac. De lá fui para o Fortaleza e agora estou no Bahia.
Você sempre foi meia-atacante ou já passeou por outros setores do campo?
Sempre fui meia-atacante. Raramente fui adaptado para atuar como atacante, mas, mesmo assim, saindo bastante da área, vindo buscar jogo no meio-de-campo, tirando um zagueiro da área e pegando a bola sempre de frente com o gol.
Quais são seus planos de carreira?
A curto prazo, acho que estou focado em ajudar o Bahia a subir para a primeira divisão. Para o futuro, eu espero que, com o sucesso neste campeonato, consiga fazer um contrato melhor na temporada que vem, ou no Bahia, ou num grande clube do futebol brasileiro, quem sabe até no exterior. Jogar fora do Brasil, dar uma vida melhor para minha família, é um sonho.
Como você administra sua vida fora dos gramados?
Procuro sempre guardar um dinheiro sim, mas eu tinha uma pessoa que me ajudava, que era meu pai, que infelizmente faleceu no ano passado. Hoje tenho um tio que me ajuda nesse aspecto, conversando, dando algumas explicações. Quero trazer minha mãe para ficar um tempo aqui comigo, por causa do falecimento do meu pai também. No mais, tenho que economizar, porque quero fazer meu casamento este ano. A pressão da mulher lá em casa está grande por causa disso. (risos)
Você tem a fama de pé-quente em matéria de fazer equipes subirem de divisão. Existe algum segredo para isso?
Acho que temos que ter o espírito certo para disputar esse tipo de competição. O grupo precisa ter esse objetivo comum em mente e passar por cima das dificuldades não apenas da própria Série B, como também internas do clube. Aconteceu assim no Fortaleza, quando tínhamos pouquíssimas chances de classificar nas semifinais e nas finais, mas nos focamos e conseguimos o objetivo.
O que você espera desta competição? Será muito diferente da de 2004, quando você foi vice-campeão com o Fortaleza?
Engraçado a coincidência de começarmos com o Hélio e terminar com o Zetti, como foi no ano passado. Mas as competições serão diferentes. Este ano os times estão melhores do que no ano passado e a disputa será muito maior. Precisamos entrar bem nesse início e não deixar cair o bom rendimento. Tenho confiança de que podemos subir no final do ano.
Em relação à Série B, que mensagem você deixa para a torcida do Bahia?
A torcida pode acreditar que não faltará doação de todos nós aqui no Bahia. O grupo está forte e, se não ganhamos o Campeonato Baiano, mostramos nas finais que estamos em condição de igualdade com o Vitória, que é também um dos favoritos na Série B. Tenho certeza de que teremos o apoio da nossa torcida e nosso time crescerá muito na competição.
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