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JC Teixeira Gomes ironiza sobrenome de presidente

Notícia
Historico
Publicada em 5 de dezembro de 2006 às 01:31 por Da Redação

O texto abaixo foi publicado no jornal A Tarde da última sexta-feira. João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, é jornalista e autor de um famoso livro sobre o senador Antonio Carlos Magalhães (Memória das Trevas). Confira:

“PATRIMÔNIO DE ESCOMBROS

Passado o vendaval da torcida protestando nas ruas, o Bahia refluiu para a mediocridade dos seus dias presentes. Aquele ímpeto, porém, não pode ter sido um espasmo. A indignação redentora precisa ter conseqüências mais profundas e duradouras, pois raras vezes a sobrevivência de um clube de massa, no Brasil, esteve tão ameaçada como hoje ocorre em relação ao Bahia. Um patrimônio de escombros. Eis o que resta da torrente de incompetência que se abateu sobre o outrora Esquadrão de Aço, depois das desastradas gestões de Pernet, Marcelo Guimarães e Petrônio Barradas, todos eles representantes dos interesses permanentes de Paulo Maracajá nos destinos do clube.

Barradas, inclusive, com esse nome tão rubro-negro, foi assessor de Maracajá no Tribunal de Contas dos Municípios. Tinha, pois, uma relação subalterna de emprego com seu protetor. Exonerou-se do cargo através do ato número 241, publicado no Diário Oficial do Estado dos dias 23 e 24 de julho do ano passado, depois de ter ocupado uma assessoria DAS-2 para servir na vice-presidência do TCM. Foi parar na presidência do Bahia, levado pelo seu amigo, após ter sido um ineficiente diretor de futebol, cevado na desastrosa campanha da Segunda Divisao e nas contratações onerosas e inexplicáveis, que entupiram o Bahia de jogadores medíocres. Tudo isto precisa ser investigado. Aliás, qualquer jogador admitido pelo clube deveria ser convidado a inteirar-se da sua história, dos títulos e glórias que conquistou, das tradições que, outrora, o fizeram respeitado no Brasil. Vestir a camisa do Bahia é uma honraria esportiva que não pode ser partilhada por qualquer perna-de-pau.

Escrevo pouco antes de decisões importantes. Não tenho bola de cristal, mas o que a torcida espera é que a oposição assuma de vez, e sem tibiezas como anteriormente, o seu papel regenerador. Um clube como o Bahia, cujo poder tem repousado na força da sua torcida, não pode temer o futuro, nem se abater diante da magnitude dos fracassos de hoje. Quem quer que venha a dirigi-lo, terá que saber canalizar a vastidão da sua torcida para ajudar no suporte financeiro ao clube.

Movidos por uma visão provinciana e fundados em seus métodos arcaicos e coronelescos, Osório Villas Boas e Paulo Maracajá não tiveram competência para assegurar sequer ao Bahia a riqueza patrimonial de que ele sempre se fez merecedor, a exemplo de clubes como Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Santa Cruz e tantos outros, fora do eixo Rio-São Paulo. Apesar dos dois títulos nacionais conquistados, nas longas gestões dos dois coronéis o velho campeão não passou do escalão médio do futebol brasileiro, realidade que precisa mudar.

Bahia não pode ser grande apenas quando entra em campo, murchando quando deixa as quatro linhas e desce aos vestiários, para se deparar com a medíocre dimensão dos seus dirigentes. Um item decisivo para a recuperação do prestígio do clube terá que ser a reformulação do seu Conselho, que integrei na década de 70, levado pelo então presidente Fernando Schmidt. Credenciava-me ao cargo, além da minha notória paixão tricolor, o fato de ser filho do primeiro jogador do Bahia, o grande goleiro Teixeira Gomes, titular da seleção baiana. Logo percebi que o Conselho não funcionava, pois era apenas um apêndice dos interesses dominantes de Paulo Maracajá. Entramos em rota de colisão e, constrangido, abandonei aquele colegiado, até hoje ineficiente e decorativo.

Uma nova história do Bahia terá que registrar os prejuízos causados ao clube pelo oronelismo paralisante, que usa um patrimônio do povo baiano para acumular proveitos. Que fizeram dos recursos dos jogos e TV? Dos patrocínios? Onde meteram tanto dinheiro? O Conselho terá que transformar-se numa alavanca fiscalizadora. Se isto já houvesse corrido, o Bahia não teria afundado na crise monumental, como um dos mais dolorosos exemplos de assa falida esportiva, de força do povo massacrada pela ambição e pelo oportunismo.

Não vale, contudo, viver lamentando o passado. O que se espera dos recalcitrantes é que tenham, agora, a dignidade de largar seus cargos, para que uma nova geração de dirigentes possa conferir ao clube o papel que lhe está destinado, pelo poder da sua enorme vocação popular”.

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