De Cahê Mota, para o portal Globoesporte.com, o qual colocou a matéria como capa nesta sexta:
Tudo certo na Bahia. A frase que dá nome a um dos sucessos do último DVD da Banda Eva representa bem o momento vivido por Marcelo Lomba em Salvador. Cria do Flamengo, o goleiro viu em poucos meses o sonho de ser titular na Gávea se transformar no pesadelo de sequer ser relacionado para os jogos. Descartado por Vanderlei Luxemburgo e treinando separado, aceitou “no escuro” uma proposta do Bahia, e hoje, em Salvador, vive uma experiência que ele mesmo define em uma palavra: incrível.
Titular absoluto desde o primeiro dia em que vestiu a camisa do Esquadrão de Aço, Lomba precisou de apenas um jogo em Pituaçu para deixar de ser um desconhecido e receber o apelido de Paredão. A exibição de gala diante do Atlético-MG, pela quarta rodada do Brasileirão, foi suficiente para conquistar os fanáticos tricolores e transformá-lo em ídolo precoce de uma torcida que clamava por algo simples e fundamental para os goleiros: segurança.
– Eu preciso ser feliz. E hoje eu sou muito feliz no Bahia. As coisas na minha vida no lado profissional, pessoal, qualidade de vida… Estou bem em tudo. Não posso reclamar de nada. O Bahia me dá tudo que preciso. Estou realizado dentro e fora dos campos.
A trajetória entre a condição de titular no gol do Flamengo e a consagração no Bahia, no entanto, foi tortuosa. Da primeira vez como substituto de Bruno – preso após o desaparecimento da ex-namorada Eliza Samudio, em 15 de julho de 2010 – contra o Botafogo, até o muito prazer ao torcedor baiano, diante do Galo, dia 12 de junho deste ano, Lomba viveu 11 meses que, segundo ele, o amadureceram a ponto de encarar qualquer situação na carreira.
– Agora eu sei que, venha o que vier, nada vai ser pior. Sou muito mais tranquilo.
Tranquilo como se mostrou na varanda de sua casa em Vilas do Atlântico, bairro nobre de Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador. Da chegada desconfiada ao Bahia até a posição de melhor goleiro do Brasileirão pelo Troféu Armando Nogueira, passando pelos turbulentos momentos no Flamengo, Marcelo Lomba não fugiu de tema algum e deixou claro que, enquanto estiver na Bahia, está tudo certo. Confira toda entrevista:
Gostaria que você falasse sobre essa sua boa fase no Bahia. Imaginava que as coisas fossem dar certo tão rápido? Já com status de ídolo, apelido de Paredão…
Quando vim para cá, tinha um pouco de desconfiança. Até por estar há um tempo parado no Flamengo. Mas posso dizer que tudo isso é incrível. Desde a minha estreia fui bem e ganhei confiança. Logo depois, no primeiro jogo em Pituaçu, eu fechei o gol contra o Atlético-MG, em uma das melhores partidas da minha carreira, e a partir daí começou essa história de Paredão. Por onde eu passo, sou reconhecido. No shopping, nas ruas… O torcedor daqui realmente tem um carinho muito grande, e só posso retribuir treinando forte e jogando bem. O mais importante agora é o time se manter na Primeira Divisão. Depois, quem sabe chegar à Sul-Americana não possa ser uma grande conquista para quem voltou à Série A depois de sete anos? Estaríamos com os objetivos cumpridos.
Ficou com receio no início?
Não. Eu não podia ter dúvida, porque a situação que eu vivia no Flamengo não era fácil. Então, a partir do momento em que soube da proposta, aceitei. Sabia que era um desafio. Mas o que me impressionou foi realmente não conhecer a força da torcida do Bahia. Eu ouvia falar de Flamengo e Corinthians, tinha até visto um pouco da Série B ano passado, mas é inacreditável a força que eles têm, a forma como vão ao estádio. Vestem a camisa mesmo. Aqui, quando vencemos uma partida, é incrível o número de camisas na rua. Em minha apresentação, fui dar entrevista e ouvi que o time era favorito para ser rebaixado. E isso ninguém gosta de escutar. Via os comentaristas falando isso. Mas hoje temos o respeito de todos, dentro e fora de casa, onde também damos trabalho. Fico feliz por ajudar a colocar o Bahia no lugar onde merece.
Você diria que foi o cara certo, na hora certa e no lugar certo? Você precisava de carinho pela situação que vivia no Flamengo, e a torcida do Bahia esperava um goleiro que passasse confiança.
É verdade. Acredito que cheguei na hora certa, que era o começo de um sonho para o tricolor: o retorno à Primeira Divisão. Logo fui titular, atuei bem e a torcida gostou de mim. Nas ruas, eles sempre me falam que o clube tem tradição de goleiros. Foi assim com o Ronaldo (campeão brasileiro em 88), com o Emerson, e me passam muito carinho. Cheguei no momento certo e quero ficar aqui. Tenho contrato até o fim do Estadual e meu maior sonho e objetivo é dar um título para essa torcida. Nem imagino como vai ser festa. Não sei se vai ter trio elétrico, se vai ser feriado… Mas a emoção vai ser muito grande.
Você tem contrato até o fim do Campeonato Baiano, mas é vinculado ao Flamengo, que está se programando para renovar com o Felipe por um longo período. Diante disso, seu projeto de vida é ter uma continuidade no Bahia ou fica aquele desejo de dar a volta por cima no clube que te revelou?
Eu preciso ser feliz. E hoje eu sou muito feliz no Bahia. As coisas na minha vida no lado profissional, pessoal, qualidade de vida… Estou bem em tudo. Não posso reclamar de nada. O Bahia me dá tudo que preciso. Salários em dia, estrutura de campo, profissionais qualificados… Não tem como eu pensar que algo pode ser melhor. Aqui está ótimo. É um clube com torcida de massa. Tenho que respeitar os contratos que tenho, mas, se possível, fico aqui. Estou realizado dentro e fora dos campos.
Hoje, você olha para trás e pensa o que do seu ano de 2010? Você era terceiro goleiro do Flamengo e tudo aconteceu de forma muito rápida. De repente, era o titular, substituindo um ídolo, e por conta de uma situação delicada. Você acha que não tiveram paciência?
Sempre sonhei ser titular do Flamengo. E esse foi um objetivo que conquistei. Mas ninguém vai passar pelo que eu passei. É impossível. Substituir um goleiro que era o atual campeão brasileiro, capitão, ídolo, cotado para Seleção e que saiu da forma que foi. Para uma prisão. Íamos treinar e era aquela perseguição. Tudo teve muita projeção. No primeiro jogo, as câmeras estavam todas em mim. Como que ele vai substituir o Bruno?. Fora isso, era o Flamengo. O maior clube e a maior torcida do Brasil. Ainda assim, joguei bem, terminei o primeiro turno como o goleiro menos vazado. Só que depois o time todo entrou em uma fase que não conseguia vencer. Entrou o Rogério, depois o Silas, até que chegou o Vanderlei. Era complicado. Eu não tinha a maturidade que tenho hoje. Agora sei que, venha o que vier, nada vai ser pior. Sou muito mais tranquilo. Minha mulher ficou grávida, e eu nem era relacionado para os jogos. Tive que buscar forças, dar a volta por cima e consegui. Estou em um time no qual amo jogar.
Ficou alguma mágoa de alguém ou algum momento desta fase no Flamengo?
Não. Só que eu era o titular, e respeito muito o Felipe, que é um grande goleiro, mas de uma hora para outra eu não servia mais (Marcelo passou a quarto goleiro, atrás de Felipe, Paulo Victor e Viinícius). É estranho. Mas tenho que respeitar o clube, as decisões. Sempre falavam que eu devia procurar meu espaço. Foi o que eu fiz e vivo o momento mais feliz da minha vida. Em fevereiro, eu era uma pessoa triste. Treinava separado do grupo. Já agora figuro entre os melhores goleiros do campeonato. Só o prazer de poder jogar, praticar minha profissão, já compensa tudo. Fico feliz por essa volta por cima, por provar para minha família o meu potencial.
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