De Diana Gomes, no jornal A Tarde deste sábado:
“Viadutos, prédios históricos, pontes, túneis e outros espaços públicos. A dúvida agora é: quais são as outras construções públicas que escondem os perigos da falta de manutenção na cidade? O primeiro laudo sobre o acidente na Fonte Nova, ocorrido no último domingo, confirma a irresponsabilidade e o descaso dos poderes públicos. Para o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Bahia (Crea), a falta de manutenção do estádio foi a principal responsável pela queda de parte da arquibancada, que matou sete torcedores, no final da partida entre Bahia e Vila Nova, pelo Campeonato Brasileiro da Série C.
O acidente foi ocasionado principalmente pela falta de manutenção. Na nova avaliação, observamos que as condições precárias se estendem por grande parte do anel superior. Além da falta de manutenção, o acúmulo de água nos degraus, a deficiência da drenagem, a umidade e a ação do tempo contribuíram para a corrosão, concluiu o presidente do Crea/BA, Jonas Dantas, sobre o estádio que é de responsabilidade da Sudesb.
O laudo divulgado nesta sexta e enviado para o Ministério Público, Governo do Estado, Sudesb e Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Brasília (Confea), pouco acrescenta ao que já havia sido apresentado pela entidade, em advertências enviadas aos órgãos públicos antes do acidente acontecer. A quantidade de alertas sobre a precariedade da estrutura, a maioria delas presente em documentos antigos, escandaliza a falta de sensibilidade e preocupação dos órgãos competentes, que ignoraram todos os avisos e só decidiram por interditar o estádio, após as mortes.
Perícia Sete profissionais, entre engenheiros civis, arquitetos, técnicos de fiscalização e conselheiros, trabalharam na perícia.
Durante a visita, realizada na última terça-feira, os funcionários do Crea chegaram a retirar parte da arquibancada com as mãos, mostrando a fragilidade da estrutura. O nível de corrosão não estava somente naquela parte da laje. Vigas de sustentação e pilares estavam desgastados, comprometendo ainda mais a resistência e a segurança daquele anel. Havia pedaços de ferro em estado bastante acentuado de desgaste, quase rompendo, sem nenhum tipo de resistência, afirmou Dantas.
O relatório apresentado pelo Crea, aponta ainda problemas como desplacamento do concreto, fiação elétrica exposta de forma indevida e manta de impermeabilização danificada.
As fotos tiradas pelos engenheiros e arquitetos, que estiveram na Fonte Nova após o acidente, mostram a situação precária do local onde a arquibancada cedeu. A estrutura em volta do buraco de cerca de 5 m de comprimento por 0,78m de largura, apresentava a ferragem corroída.
A espessura da laje da arquibancada era de apenas 5 cm, conforme mostrou a medição dos funcionários do Crea.
Além dos problemas evidentes da falta de manutenção na estrutura, foram observadas falhas de condições de higiene nos banheiros e nas arquibancadas, com presença de poças de água e urina.
A falta de acessibilidade também é destacada. No estádio não foram encontradas rampas de acesso para cadeirantes e pessoas com mobilidade física reduzida, ou mesmo sanitários para portadores de necessidades especiais.
Perícias Outros dois laudos sobre o acidente na Fonte Nova estão sendo preparados. Um deles é da Perícia Criminal do Departamento de Polícia Técnica (DPT). Por se tratar de um inquérito policial, o órgão afirmou não poder dar detalhes do andamento da perícia, mas disse que o resultado sai até o final da próxima semana, quando termina o prazo de dez dias para a divulgação da análise. Conforme explicou a assessoria de comunica, antes do parecer final, nenhum representante da polícia técnica está autorizado a dar entrevistas.
O que se sabe é que dois peritos e um coordenador do DPT estão envolvidos na elaboração do laudo. Uma equipe esteve na Fonte Nova na noite do acidente e uma nova visita foi feita na segunda-feira, pela manhã, para que se tivesse conhecimento da situação à luz do dia. Os materiais colhidos da estrutura que cedeu, foram encaminhados para análise no laboratório do DPT. Somente se forem exigidos exames mais minuciosos é que a análise poderá ser encaminhada para outro laboratório.
Um último laudo é feito pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O professor Luiz Edmundo Prado de Campos, que comanda a perícia, não foi encontrado para falar sobre o andamento do laudo, que foi encomendado pela Sudesb. O professor estava em reunião pela tarde e até às 20 horas não havia voltado para o laboratório de geotécnica da escola, na Federação. A reportagem deixou telefone de contato, mas não recebeu retorno.
Procurado pela equipe de A TARDE, o diretor geral da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), Raimundo Nonato Tavares da Silva, o Bobô, não se pronunciou sobre o resultado do laudo do Crea. De acordo com a assessoria de comunicação da Sudesb, o órgão ainda não havia recebido oficialmente o documento, até esta noite. Disse ainda que assim que o laudo for encaminhado, dará o parecer oficial”.
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