Está na página 45 da edição de setembro da Revista da Metrópole, editada pelo radialista Mário Kertesz e distribuída gratuitamente no início desta semana na cidade: “A ditadura de Maracajá, por Nestor Mendes Jr.
Em 1972, o Brasil vivia os anos de chumbo. A ditadura militar instalada no Brasil em 1º de abril de 1964 completava 8 anos e, na sua infância perversa e pervertida, já havia calado ou pelo menos tentado – todos os críticos. Pela tortura, pelo exílio, pela cassação, pela exterminação, a Redentora destruía todos os seus opositores.
E é do longínquo, e nada saudoso, 1972 que se instaura no Esporte Clube Bahia a era Paulo Maracajá Pereira. Segundo Tyrso, o nosso endiabrado ponta-direita Chiquitinha, ele dirigia um Fusca e fazia os serviços de leva-e-traz de alguns jogadores na porta da Fazendinha.
Advogado, formado em 1966, se aproximou de Osório Villas-Boas o cartola que dominava com mão-de-ferro o Esporte Clube Bahia desde a década de 50, idolatrado pela massa Tricolor pela ousadia de conquistar, em 1959, a Taça Brasil e o título de campeão brasileiro contra o todo-poderoso Santos, o esquadrão monumental de Pelé e Pepe.
Com o passar do tempo, a cria superou o criador. Osório mandava; Maracajá, fingia. Osório nunca passou do Paço; Maracajá foi vereador e, 10 anos depois, em 1982, chegou à Assembléia Legislativa sufragado por 40.744 votos.
Era a torcida do Bahia retribuindo uma década de títulos: hepta-campeão baiano de 1973 a 1979.
Paulo Maracajá Pereira, o filho do padre Pereira, ex-sócio da I. Pereira e da Manopel, deixou uma frota de táxis em chamas e alçou da baixa classe média para integrar a elite do poder carlista na Bahia.
Em 35 anos, Paulo Maracajá Pereira conquistou inúmeros títulos. Dezenas de certames baianos e o título de Campeão Brasileiro de 1988.
Em 35 anos, Paulo Maracajá Pereira levou o Bahia à bancarrota: deixou um time inteiro ir para o rival porque assinou sem ler; deu o primeiro tricampeonato ao rubro-negro; reduziu o clube a um quadro minguado de associados. É responsável direto por dois rebaixamentos para a 2ª Divisão; por dois anos na 3ª Divisão; por uma dívida de R$ 60 milhões e por um futuro nebuloso.
Sem estrutura, sem planejamento, sem visão estratégica, o Bahia está condenado a viver de hemoptises. Grande parte da fiel abandonou os estádios. A minoria que vai à Fonte Nova ainda assim faz do clube um dos campeões brasileiros de público e renda. Os netos e bisnetos dessa massa fantástica estarão na Fonte Nova em 2031, no centenário do Tricolor?
Paulo Maracajá Pereira fala manso. Não briga. No mesmo diapasão em que a ditadura silenciosa torturava os inimigos do regime no pau-de-arara, impiedosamente, silente, destrói os rivais. Usa o poder com a sutileza de uma torquês na cutícula. Alguém está sempre pronto a assumir-lhe a feição Torquemada. Se acha que lhe ofenderam a honra, o ventríloquo usa o boneco para pedir reparação. Elimina, sem que o semblante denuncie alguma contração, todos aqueles que podem fazer-lhe sombra no projeto megalomaníaco de ser o eterno presidente.
E para ser eterno, o presidente se escudou em medíocres. O Bahia que jogou no estádio (sic) Floro de Mendonça, no Amazonas, é o retrato impiedoso desse paradoxo: um clube gigante apequenado pela mesquinhez.
Em 35 anos, Paulo Maracajá Pereira é o déspota dessa ditadura no Fazendão. Talvez sem os métodos diretos de Idi Amin Dada, de um Ceausescu, de um Trujillo, mas com todos os seus resultados. Um homem que só ele – se acha invisível, mas que a Bahia e o Brasil inteiro sabem que é o detentor absoluto da responsabilidade pela falta de democracia, transparência, profissionalismo e planejamento no Esporte Clube Bahia.
Com a obrigação de tirar o clube da 3ª Divisão, disse que está pronto a disputar uma eleição direta em 2008. O comandante-em-chefe supremo da vergonha e da humilhação tricolores quer ser o herói macunaímico de uma possível volta à Série B, quando o caso é de indagar: Quem nos tirou da A?.
Como todo ditador tem um pouco de mágico, Mister M quer agora hipnotizar o mundo inteiro: quer ele próprio – o eterno presidente – sepultar o grande coveiro – como estava escrito em uma faixa na Fonte Nova desagradável epíteto que já incorporou à sua biografia, iniciada em 26 de março de 1944.
Repetindo Shakespeare, que o jornalista Gilson Nascimento, de forma brilhante, escreveu como ghostwriter de recente discurso proferido no TCM: O tempo é muito curto para os que festejam.
A ditadura, com certeza, ruirá.
Nestor Mendes Jr., jornalista, é autor de Bahia Esporte Clube da Felicidade 70 anos de Glórias”
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