No jornal A Tarde desta sexta-feira:
Por volta das 17h da última quinta-feira, 17, o ex-presidente do Bahia Marcelo Guimarães Filho chegou à sede do Jornal A TARDE com a edição do dia do ESPORTE CLUBE em mãos. Na entrevista de capa do atual mandatário Fernando Schmidt, rabiscos de caneta sublinhavam todos os pontos que ele fez questão de rebater em um bate-papo exclusivo com a reportagem.
Marcelo Filho diz continuar torcendo pelo clube, mas admite estar temeroso com a possibilidade de rebaixamento e afirmou que, se estivesse ainda no cargo, não deixaria o time cair. Ele também chamou Schmidt de “incompetente” e respondeu a todos os questionamentos sobre o resultado da auditoria da empresa Performance, contratada pela intervenção, que apontou irregularidades em sua gestão.
Qual foi sua reação ao ler a entrevista de Fernando Schmidt, na qual ele diz que vai te processar por “gestão temerária” à frente do Bahia?
O presidente atual não consegue olhar para frente. Não consegue me esquecer, desencarnar da minha figura. Fernando Schmidt não tem as rédeas do clube, é incompetente. Isso está mais do que provado, pois ele foi nomeado chefe da Casa Civil do governo do Estado e acabou demitido. Depois, foi criada a Secretaria de Relações Internacionais para ele assumir. Mas, assim que Schmidt foi eleito presidente do Bahia, o governador extinguiu essa secretaria, o que mostra que não tinha nenhuma função. Sobre a ameaça de processo, pelo que li na entrevista, não há nenhuma acusação. Nenhum motivo para tal.
Sabe-se que, para o processo, ele usará o resultado da auditoria da empresa Performance. Esta aponta, entre outras coisas, que o clube, na sua gestão, chegou a uma dívida de R$ 83 milhões e que, desse valor, R$ 20 milhões teriam sido contraídos apenas no primeiro semestre deste ano.
Eu refuto as duas informações e desafio quem quer que seja a provar. Em auditoria feita pela Pluriconsultoria, publicada no balanço no site do clube, ficou comprovado que o Bahia tinha uma dívida de R$ 61 milhões em 2012. Ou seja, é impossível que esse valor tenha subido para mais de R$ 80 milhões em tão pouco tempo. Aliás, o próprio Schmidt disse que a auditoria não terminou, que só tem um resultado parcial. Mas, mesmo assim, ele sai criando factoides. Eu não quero duvidar da idoneidade da Performance, mas ela é uma empresa local que foi contratada com o objetivo específico de encontrar alguma coisa.
Um exemplo dado por Schmidt para embasar a acusação de “gestão temerária” é o fato de você deixar de pagar o FGTS de empregados do clube.
Todos os clubes do Brasil têm dívidas fiscais. Por isso, o governo federal está renegociando essas dívidas. O próprio Schmidt deixou de pagar quando foi presidente (75 a 78) e eu tive de quitar o débito na minha gestão. E eu desafio ele a provar que está pagando os impostos agora.
Você diz que todos os clubes do Brasil têm problemas com dívidas fiscais, mas por que só o Bahia perde jogadores por conta disso?
Bom… durante a minha gestão, perdemos dois ou três atletas. Mas isso não aconteceu apenas por causa do não pagamento do FGTS. Na verdade, ocorreu por conta de problemas com os empresários desses jogadores, especificamente Sandro, Gessé e Bobô. Eles, por sinal, são aliados do atual presidente.
Schmidt afirmou que encontrou “terra arrasada” no Bahia.
É mentira. Eu que encontrei quando entrei (no início de 2009). O elenco estava com seis meses de salários atrasados, o Fazendão não tinha campo decente, academia, fisiologia… Ele encontrou o time na Série A, com o novo CT pronto e um contrato de TV de R$ 30 milhões ano. Aliás, ele disse que eu antecipei toda a cota deste ano, mas já mostrei a carta da Globo que prova que isso não foi feito.
Segundo a auditoria da Performance, o Bahia teria transferido R$ 2,3 milhões para a empresa Consultiva, que pertence a seu pai (Marcelo Guimarães) e seu irmão (Marcos). Confirma a informação?
Não, e desafio qualquer um a provar. Essa empresa não prestou serviço ao Bahia e a transferência não foi feita.
E quanto ao empréstimo de R$ 200 mil feito pela empresa Protector, que também seria do seu pai? A dívida, devido aos juros, teria alcançado R$ 3,4 mi.
Essa empresa não é de meu pai. É só olhar na junta comercial. O empréstimo, na verdade, foi de R$ 800 mil e, devido aos juros de mercado, o valor chegou a R$ 3,4 milhões e foi pago na minha gestão. É normal. Também pagamos cerca de R$ 1 milhão ao empresário André Cury e R$ 500 mil ao meu ex-vice-presidente Gilberto Bastos pelo mesmo motivo. Só não fomos ao banco porque o Bahia não tinha mais crédito.
Você ainda pretende voltar à presidência do clube?
Claro. O processo corre. As pessoas querem espalhar o mito de que o assunto morreu, mas não é verdade. Já entramos com recurso contra o arquivamento do processo e ele está correndo. Esse caso certamente vai chegar a Brasília. É o rito normal.
E como você tem acompanhado o time?
Em casa, pela TV. Torço para que não caia, mas, pelo modo como o clube está sendo gerido, tenho dúvidas. Agora, posso afirmar que eu não deixaria o Bahia cair. Afinal, nunca fui rebaixado. Eu daria suporte ao departamento de futebol, que está uma confusão. Soube que nove premiações estão em débito, além de o elenco estar com um mês de salário atrasado. Além disso, Schmidt enganou o torcedor dizendo que faria contratações de peso e só trouxe um jogador de Série C. Ele não pode entregar o futebol a Sidônio Palmeira e Valton Pessoa. Você acha que eles entendem de futebol?
Schmidt garante que sim…
Mas ele também não entende (risos).
Você ainda tem contato com pessoas de dentro do clube?
Eventual. Tinha mais na época da intervenção, quando a situação estava indefinida. Fiz isso em prol do clube. Tinha conversas diárias com Anderson Barros (gestor) e Cristóvão (técnico).
E os jogadores?
Não.
Nem Souza, que chegou a publicar mensagem de apoio em rede social a você?
Não. Aquilo que ele falou eu acredito que é um pensamento de todos. Já a gestão atual não é bem vista. Soube que os funcionários vem sendo tratados a chicote.
Ainda na época da intervenção, para provar que o Bahia tinha recebido o pagamento do Flamengo pela venda de Gabriel, você acessou as contas do clube. Como, se estava afastado?
As pessoas querem mudar o foco de um problema maior para um menor. Não vou dizer como consegui, mas o que importa é que provei que o dinheiro havia caído. Esqueceram de me tirar o direito de acessar as contas e eu continuei acessando. Agora, não consigo mais.
Com relação ao novo CT, Schmidt afirmou que, no contrato, o Bahia teria passado de permutante a devedor. É fato?
De jeito nenhum. O contrato foi aprovado e está lá. Se há alguma irregularidade, é preciso provar. Aliás, isso tudo será levado à Justiça. Vou processar Schmidt por todos esse factoides criados sem provas e também acionarei Carlos Rátis (que atuou como interventor no clube) por declarações dadas lá atrás. Ainda sobre o novo CT, essa atitude de rejeitá-lo só porque a minha gestão o construiu é mesquinha. O CT não é meu, nem dele. É do Bahia.
Durante a intervenção, foi divulgado que duas de suas irmãs (como advogadas) e o radialista Elizeu Godoy (como consultor) recebiam como funcionários do Bahia. Por que isso não era público?
As pessoas não têm conhecimento sobre todos os funcionários do clube. Minhas irmãs trabalhavam lá, iam ao clube. Assim como Elizeu, que prestava consultoria pra gente. Aliás, falaram de mim, e a nova gestão fez o mesmo, contratando o filho do diretor financeiro Reub Celestino (o médico Adriano Fonseca, que já se afastou) e o cunhado de Carlos Rátis (Pablo Arruela, diretor de negócios). Não vejo nenhum problema, já que o estatuto não proíbe. Assim como não vejo problema no fato de o Bahia estar politizado. Todos estão trabalhando lá com a estrelinha do PT no peito. Só é preciso deixar clara essa missão política. Cadê a transparência? Cadê a lista desses 14 mil sócios que eles dizem ter conseguido? Não está no site.
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