Depois de ler a reportagem Polícia no encalço, publicada no dia 9, o presidente Petrônio Barradas, que dizia estar ocupado com o clube para conceder entrevista, resolveu abrir as portas da sua sala no Fazendão para conversar com o repórter Adalício Neto, do jornal A Tarde.
O presidente rebateu as acusações contra ele levadas por oposicionistas ao Ministério Público Federal, o que rendeu o pedido de abertura de inquérito na Polícia Federal do procurador André Batista. E contra-atacou seus adversários afirmando que é vítima de calúnias. Confira:
A TARDE | Temos testemunhado a campanha Público Zero, na Fonte Nova, como forma de forçar a saída do grupo do conselheiro Maracajá. Hoje há clima para o tricolor ir para o estádio?
Petrônio Barradas | Acho que sim. Porque o torcedor do Bahia é amoroso. Ele não é um torcedor que tem paixão. A paixão é efêmera. O torcedor do Bahia é diferenciado dos demais torcedores não como ser humano, mas pelo amor que ele tem ao seu clube e essa transmissão de energia, essa vontade que eles têm de o time ganhar, o time também responde dentro de campo, como estamos respondendo no equilíbrio das contratações. Nós vamos errar, vamos, mas estamos acertando mais do que errando. Então, o torcedor percebe que existe o planejamento para esse tipo de atividade e ele volta para o campo, ele sente que precisa voltar. Porque o torcedor do Bahia, dizem que é o 12º jogador, não. Ele é o primeiro jogador do Bahia e eu me incluo entre eles.
Esse mesmo grupo, que vem fazendo oposição à atual administração do clube, fez denúncias ao Ministério Público Estadual e agora no Federal. Como o senhor vê essas atuações?
Acho que todos têm o direito de se pronunciar, de dizer o que querem, mas desde quando com responsabilidade. Você vê, por exemplo, li na reportagem de A TARDE, essas pessoas esquecem a Justiça, que ela vai à polícia, ao promotor público, ao juiz etc., mas vai atrás também de quem ocasiona casos de calúnia, infâmia, difamação.
Explique melhor…
Eles estão ocupando o espaço de um promotor, de um delegado da PF, desses órgãos que têm responsabilidade e usam o erário da nação. Então, amanhã ou depois, esses mesmos órgãos vão atrás de quem ocupou os espaços deles indevidamente.
A oposição diz que o senhor cometeu o crime de falsidade ideológica por se apresentar com diferentes cargos?
Por exemplo, eles dizem que não sou oficial da reserva do Exército, mas fui o segundo aluno da minha turma de infantaria, sou aposentado da Petrobras, sou porque fiz um concurso para fluidos de perfuração. Sou aposentado da empresa. Quando me nomino oficial do Exército é porque tenho orgulho de ser oficial da reserva do Exército. Inclusive faço parte de uma associação dos oficiais da reserva, da sexta região, que tem como presidente o Castro Lima, cuja sede é no 19º BC.
Como foi esta sua passagem no Exército?
Comandei aqui, no 19º, cinco companhias, fiz estágio no curso de comando, no curso de pára-quedismo, fui instrutor de educação física do 19º BC. Então, tenho uma vida profissional como oficial do Exército. É uma leviandade falar que não sou, eles estão atirando a esmo. Não sabem o que estão dizendo. Não tenho aposentadoria no Exército, saí de lá para a Petrobras e sou aposentado da Petrobras. Não tenho que me esconder e com muito orgulho também sou ex-funcionário da empresa.
E quando tiver deixado o Bahia, como será?
Quando estiver fora da direção do clube terei orgulho de dizer que dirigi e pertenci aos quadros diretivos do Esporte Clube Bahia. Sou um dos poucos dirigentes do futebol brasileiro que tem um currículo dentro de um clube.
E o que o senhor tem a dizer sobre o autor oficial das denúncias, o líder da torcida organizada Bamor Jorge Santana?
Quanto a Jorge, acho ele um intempestivo.
Como o senhor avalia o perfil psicológico de seu opositor?
Uma pessoa que não tem emocional. Ele tem que estar preocupado com o atentado que matou o torcedor da Imbatíveis (Hermílio Júnior), naquele episódio, tem que estar preocupado com o episódio de domingo do espancamento que ocasionou a morte do senhor, um pai de família (no Ba-Vi de domigo), ele é o presidente da Bamor, já que estão atribuindo também a essa torcida. Ele tem que estar preocupado com o episódio da Fonte Nova (no jogo contra o Ipatinga), que a polícia, promotoria pública etc, estão atrás dele. Isso é uma atitude política, porque ele era candidato a vereador e está querendo aparecer às custas do Bahia, ou às minhas custas. Ele era candidato e perdeu, mas vai ser candidato de novo e está chateado comigo porque cortei os 300 ingressos por jogo que ele recebia para se promover politicamente. Ele pensa que a imprensa só vai dar ouvidos a ele.
E quanto aos profissionais, estão recebendo em dia?
Problemas com salários existem com alguns grupos. Colocamos até um profissional da área de finanças para fazer uma gestão junto à organização financeira e já está em andamento. Os funcionários com salários de 800, 700 reais, receberam os três meses que estávamos devendo. Esta semana vamos colocar em dia, o pessoal que chegou agora ao departamento de futebol profissional vai receber o mês que está vencendo. O pessoal que estava também no mês de dezembro nós vamos equacionar. Estamos movendo gestões financeiras para isso. Não temos funcionários, eu os encaro como meus companheiros de trabalho.
Quem ficou sem receber está reclamando?
As pessoas estão sendo bastante compreensivas, querem e fazem a parte delas de ajudar o Esporte Clube Bahia. Ao contrário de muita gente, que não trabalha pelo Bahia e quer aparecer no momento em que o clube está em uma fase ruim dentro de campo. Jorge (Santana, da Bamor) foi preso no episódio contra o Ipatinga, ele foi um dos mentores da invasão de campo e deu um prejuízo ao clube de quase um milhão de reais. Sou torcedor do Bahia, mas nunca em minha vida, quando estava na arquibancada, vaiei meu time. Quando você faz isso está colocando maior ansiedade no atleta. Independente da renda, ainda temos dois jogos sem renda para cumprir, que pode ser agora na Copa do Brasil. Independente de termos prejuízos numa final de reta de Série C. Outra mentira que fica se espalhando é que o Fazendão tem água cortada. Desafio alguém a dizer que algum dia tivemos a luz cortada aqui.
O grupo que entrou com a denúncia no MPF também foi ao DRT alegando que o Bahia teria 600 ações trabalhistas, o que o senhor diz sobre isso?
Eles ouvem boato e entram com ação, é uma insanidade. Dizem que nós temos 85 ações trabalhistas, sendo que 33 já foram julgadas e temos 52 em fase processual. O que ele diz é uma inverdade, como a de que a luz tinha sido cortada.
E o caso da acusação de apropriação indébita de FGTS?Não tem como haver essa apropriação. Até porque, quantas pessoas saíram daqui, e quantos funcionários já estão aqui? Será que todos ficariam calados? Até profissionais, por exemplo, que saíram daqui chateados. É mais uma acusação indevida e infundada.
Os denunciantes fazem uma ligação do senhor com Paulo Maracajá, Rui Accioly, Marcelo Guimarães, afirmando que todos queriam vender o Bahia na negociação com a Liga de Futebol e o Banco Opportunity.
Isso é um crime que está sendo feito. Primeiro, as pessoas sabem como sou, como é o perfil de minha família e sabem que não estou envolvido e não me permito estar envolvido em alguma negociata. Não vou ficar mais rico, nem vou ficar mais pobre. Tenho minha estabilidade de vida. Trabalhei para estar onde estou.
Eles dizem que esse contrato com o Opportunity teria sido feito de uma forma obscura, na comarca do Rio de Janeiro, com Em tempo da ata de reunião aprovando o contrato, mesmo com desconhecimento dos conselheiros.
Tudo o que é feito no Bahia está registrado em ata. As pessoas seriam muitos infantis em registrar algo irregular. O que é irregular você não tem por que registrar. Falam também da venda de Daniel (Alves). Mas a venda foi feita pelo Banco Central e pelo Banco Itaú, está tudo contabilizado. Convoquei, em nota oficial, as autoridades para investigarem aqui no clube. Nós estamos abertos, não temos nada que esconder. Não sou advogado que não pode assinar petição por ter problemas com a OAB.
O senhor, então, sente-se alvo de injustiça…
Não sou fisioterapeuta que se passa por médico, então as pessoas precisam saber o que estão dizendo. Quero que as apurações ocorram o mais rápido possível, quero ter tempo de ser presidente do Bahia e autuar essas pessoas.
Durante a investigação feita pelo Ministério Público Estadual (MPE) a promotora Rita Tourinho relatou que a negociação com a Liga de Futebol teria sido muito confusa e que, ao final do contrato, a única coisa que sobraria para o Bahia eram as dívidas de R$ 48 milhões.
Eu até já conversei com ela. Quarenta e oito milhões é a dívida com impostos. O Bahia tem um débito rotativo que gira entre 8 e 10 milhões de reais, 15 milhões foi o empréstimo que a Liga fez e os 25 milhões são distribuídos em impostos. Acontece que esse distrato está sendo feito porque o Bahia não vai ter desembolso de capital, o Bahia está voltando a ter sua autonomia total e irrestrita. E eu, enquanto puder ter alguma influência e autoridade dentro do clube, jamais farei nenhum outro contrato com o percentual maior de ações do poder econômico sendo do parceiro. É como em um casamento. Você vive 10, 20 anos com uma mesma pessoa, e quando não dá certo, então você procura fazer a separação legal.
Mas no caso do Bahia a outra parte terá interesse, mesmo ela tendo os direitos das marcas do time por 25 anos?
O Bahia movimentou o distrato, mas a Liga também quer esse distrato. Se não quisesse não teria havido discussões, em termos dos advogados terem sentados para conversar. Inclusive começou o distrato com o parecer do ex-vice-presidente jurídico Ademir Ismerim, com algumas recomendações que iremos seguir. Não quer dizer que foi só o Bahia que teve interesse.
Qual a influência de Maracajá na atual administração?
A raiva, o ódio e o rancor só prejudicam a quem tem. Paulo Maracajá é conselheiro, tem influência no clube como outros têm. Por que só direcionam para um nome? Muitos tricolores deviam ajudar o clube. As pessoas sempre olham o Bahia como uma galinha dos ovos de ouro e, na realidade, um clube de futebol tem muito trabalho. Eu poderia fazer, na minha gestão, o que muitos fizeram por aí: a partir do meu momento, cumpro com minhas obrigações e daí para trás não cumpro. Mas quem entra no clube tem a obrigação de arcar com o ônus e com o bônus.
Há quem diga que o senhor é o laranja do ex-presidente Paulo Maracajá.
Não tenho perfil para ser laranja, nunca fui. Sou uma pessoa independente na minha vida. Desafio a qualquer pessoa a declarar se eu pedi favor pessoal para mim ou para alguém de minha família. Nunca pedi, não peço e não pedirei. Não é questão de orgulho. O único continuísmo que sou é de meu pai Maurílio Barradas e de minha mãe Antonieta Barradas. Tenho idéias próprias.
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