Entre um guichê e outro, um papel de ofício afixado na parede da bilheteria dava as boas-vindas ao torcedor. Ingresso a preço único: R$ 15, informava o aviso, para insatisfação geral de quem precisou se deslocar até o Estádio Armando Oliveira, na cidade de Camaçari, rumo à estréia do Bahia no Estadual 2008.
Isso é um absurdo. E olhe que liguei para cá, mais cedo, e disseram que seria R$ 10, reclamou o mecânico José Roberto França, que mora perto do novo mando de campo tricolor. Que bela surpresa para os campeões de público do último Brasileiro, completou o comerciante Augusto Santos, extremamente irritado.
EXPLICAÇÕES Sem qualquer aviso prévio, e de olho numa compensação financeira após a perda da Fonte Nova, o clube majorou em 50% o valor da arquibancada a partir de quarta-feira da semana passada. O preço não aumentava desde 1994, então havia uma defasagem muito grande, alega o diretor financeiro do Bahia, Marco Costa.
A idéia é apostar no fanatismo da torcida. Como existe uma necessidade de o clube se manter, buscamos a massa, que é parceira e sempre apoia. Para você ter idéia, alguns chegaram a sugerir que cobrássemos R$ 20, mas acho R$ 15 mais justo.
Segundo ele, a decisão foi combinada com o arqui-rival. O problema é que o presidente rubro-negro, Jorge Sampaio, desmente a história.
Não tem nada a ver. Ouvimos foram várias correntes dentro do Vitória. Uma delas preferia que fosse R$ 15 no Baiano e R$ 20 no Nacional, mas a que prevaleceu foi R$ 15 o ano todo, assinala o cartola, acrescentando que hoje em dia, mesmo no caso do Leão, dono de um estádio próprio, as despesas alcançam a metade da arrecadação de uma partida.
Embora reconheça toda a dificuldade que o trabalhador baiano enfrenta, também ressalta as 13 temporadas de ingressos congelados em Salvador. Pois, se por um lado o reajuste deixou o bilhete equiparado ao de uma sofisticada sala de cinema na cidade, quando o conforto não é nem de longe semelhante, por outro ainda fica longe da inflação acumulada no período.
QUASE O DOBRO Responsável pelo escritório regional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na Bahia, Ana Georgina Dias conta que, se fosse levado em consideração o índice oficial do governo (IPCA), o ingresso já deveria estar custando R$ 29,28. De setembro de 1994 a dezembro de 2007, a inflação se acumulou em 192,79%.
As correções salarias, dependendo da categoria profissional, superaram esse número ao longo do tempo. Nesse sentido, a majoração realmente não foi injusta, contemporiza Ana. Atualmente, o preço de uma entrada corresponde a 4% do salário mínimo (R$ 380), igualzinho ao que acontecia no ano do tetracampeonato da Seleção (R$ 2,60 de R$ 64,79).
PRECEDENTE A história mostra, porém, que o tiro pode sair pela culatra. Verdade que na época o aumento foi maior de 100% , mas em 2003 a atitude terminou revista pela dupla Ba-Vi apenas um mês depois. O fiasco nas bilheterias falou mais alto.
Organizada fala em vaquinha
Enquanto o presidente da Federação Bahiana de Futebol, Ednaldo Rodrigues, considera justo o aumento de 50% nos ingressos, a maioria das torcidas organizadas da dupla Ba-Vi reclama. Relações públicas da Leões da Fiel, Jairo Aragão vê uma faca de dois gumes.
Ao mesmo tempo em que entende ser R$ 10 defasado para o futebol atual, acha o novo preço caro para o público mais carente. Como o clube não nos fornece ingresso, domingo passado chegamos a fazer uma vaquinha para o pessoal que segura faixa e toca instrumento. A gente, que é da diretoria, tem Sou Mais Vitória (programa de sócio-torcedor), diz Aragão.
Presidente da União de Torcedores do Vitória (UTV), Moisés Almeida apresenta opinião semelhante. E critica a atitude unilateral da cartolagem, sem conversar com as uniformizadas antes da majoração.
Para o líder da Povão, Rosalvo Castro, a diretoria do Bahia mais uma vez deu uma mancada. O valor está exorbitante para o nível baixíssimo do campeonato, com o agravante de as partidas serem em Camaçari, porque também há despesas com deslocamento. Fátima, da Fiel, foi a única a concordar.
Oposicionista, Nestor Mendes Jr. discorda do processo de elitização do público, que deve se intensificar com o novo estádio do governo para a Copa do Mundo de 2014. Não passa de uma solução paliativa.
Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta sexta-feira 18/01/2008 do suplemento A Tarde Esporte Clube
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