Em nova entrevista concedida nesta semana de clássico, o presidente Marcelo Guimarães Filho voltou a falar sobre diversos assuntos questionados no dia a dia pelo torcedor. A certa altura, admitiu que uma derrota no Ba-Vi pode custar o cargo do técnico Rogério Lourenço. Confira o longo bate-papo, feito pelo repórter Luiz Fernando Lima, para o site Bocão News:
Você definiu como prioridade do semestre a conquista do estadual. Você acredita que é possível reverter este cenário?
Acredito sim, estou muito confiante. O planejamento continua. Não começamos bem, mas o futebol tem dessas coisas. Eu uso o exemplo da minha própria gestão, em 2009, que foi o meu primeiro ano, a gente começou de forma avassaladora. Se eu não me engano foram 13 jogos, 11 vitórias e dois empates. No entanto, perdemos o campeonato. O futebol é muito dinâmico, nós precisamos corrigir, mas temos tempo para isso e nós vamos disputar o título com força.
Inclusive, no início da temporada, você ainda disse que a responsabilidade era maior porque o Vitória estava na série B. Ainda acha que esse tipo de provocação extra-campo contribui de alguma forma?
Acho que na medida certa é sadio. Eu tenho certeza de que não passei do limite. É uma gozação natural para manter acesa a chama. Mas eu me dou bem com a diretoria do Vitória. Isto (provocação) é sadio, alimenta a rivalidade sem ser agressivo ou outra coisa.
Estamos no quarto jogo da temporada: duas derrotas, uma vitória e um empate. Já se fala em salários atrasados, corpo mole dos jogadores. Esse é o prenúncio de uma crise?
Não. Acho que pela história do Bahia, pelo que representa para o futebol, pela grandeza do clube, às vezes as coisas são superdimensionadas. Nós já pagamos os quatro atletas que estavam com os salários atrasados desde dezembro. A gente tem 30 atletas no clube, dos quais apenas quatro estavam com esta pendência. Isto é natural, a gente tem que enfrentar estas coisas no futebol.
Qual a atual situação do clube hoje?
O salário de todo mundo está em dia. Agora, a situação do clube como um todo, com a subida para a séria A melhorou, mas ainda é uma situação difícil. Nós não conseguimos aqui no Nordeste potencializar a receita de marketing que é muito importante, a venda antecipada de ingressos, a associação que é algo que a gente ainda precisa avançar. Mas estamos numa situação muito melhor do que a do passado. Por exemplo, as dívidas que a gente herdou, dívidas trabalhistas, nós já avançamos muito nisto.
O que falta para se ter no Bahia, que é um grande clube do Brasil, o mesmo nível de profissionalização de marketing e desenvolvimento de outras ações para ampliar a receita e colocar no mesmo patamar que times como Corinthians, Internacional, Flamengo?
Acho que nós já evoluímos muito neste aspecto de profissionalização. Mas o que eu acho que acontece e a gente sente isso no dia a dia, é o fato de nós estarmos numa economia nordestina, em especial da Bahia, que é a sexta do país, em que os olhos dos empresários ainda carregam um pouco a indiferença. O cenário dos clubes do Sul, as empresas veem o futebol com outros olhos, o nível de investimento, o nível de patrocínio é outro. Para se ter uma ideia, o Bahia deve ter um orçamento na casa dos R$ 40 milhões, se nós conseguirmos potencializar as nossas receitas de marketing podemos chegar a R$ 50 milhões. O orçamento do Corinthians é de R$ 300 milhões. Então é difícil competir neste cenário, a empresa que investe lá quer pagar dez vezes menos para investir aqui.
O que você está me dizendo é que isto é uma coisa mais externa do que falta de profissionalismo dos clubes daqui?
Com certeza. Acho que o papel do Bahia, assim como os outros clubes do Nordeste, é entender o seu tamanho e brigar para poder mudar isso, mas atualmente é uma coisa muito mais externa do que interna.
Domingo tem BA X VI no Barradão. O Bahia tem obtido bons resultados na casa do seu maior rival, mas a fase não é boa. Circula a informação de que em caso de derrota o técnico Rogério Lourenço sai da jogada. Qual é o real peso deste jogo?
O planejamento existe e o Rogério continua no time. Agora, o futebol é dinâmico, não tenha dúvida, o clássico sempre foi um divisor de águas, isto em qualquer lugar do mundo. Então tudo depende de como se ganha o clássico e de como se perde também. A situação da arrancada do campeonato não é boa, se a gente perder fica mais complicada ainda. A situação dele também, mas a gente não pensa nisto hoje, a gente pensa na vitória domingo. O clássico tem sempre uma história diferente. O Bahia já entrou favorito e saiu derrotado, já entrou desacreditado e venceu.
Mas o cargo do técnico depende do resultado de domingo?
O cargo do treinador sempre depende de resultado. Se perder domingo fica difícil a sua permanência. Porque a gente vai para o quinto jogo, se estivéssemos bem no campeonato e perdessemos o BA X VI a situação seria outra.
E o caso Jael? O que houve de fato entre o atacante e o diretor André Araújo? O estopim teria sido realmente um exame que o atleta se recusou a fazer? De um lado, um grupo afirma que o jogador é importante para o clube, é torcedor e merece uma chance. Do outro, estão aqueles que acreditam que jogador de futebol precisa de comando e tem que respeitar a hierarquia. De qual dessas formas de pensamento a diretoria se aproxima mais?
Nós fomos pela segunda opção. O Jael cometeu uma falta grave e como qualquer funcionário de qualquer empresa foi sumariamente demitido. A diretoria tem que agir, por mais que sejamos torcedores também, com o máximo de isenção possível. A decisão foi essa. A situação de Jael, embora tenha nos ajudado, já vinha sendo comprometida. Por exemplo, a discussão toda que gerou a agressão foi por conta da falta dele a um exame. Isto por si já gerava advertência. Lembramos também que na primeira tentativa de trazer ele para o Bahia, nós anunciamos que ele viria, colocamos no site oficial, esperamos ele chegar e ele foi para o Cruzeiro. No final do ano fizemos de tudo para renovar o contrato dele e ele preferiu ir para a Suécia. O Bahia, depois que ele não deu certo lá, o recebeu de braços abertos, no inicio do ano houve uma possível saída para o Grêmio e nós aumentos o salário dele. Era uma relação um tanto desgastada, não com atleta, o problema maior era com os agentes.
É muito difícil lidar com estes intermediários, agentes. Acabamos de assistir o caso Ronaldinho Gaúcho, que de certo modo, mostrou como a coisa funciona nos bastidores. É mesmo complicado assim?
Não é uma situação fácil, porque muitas vezes são dois interesses distintos. A diretoria tem que buscar o interesse do clube e os agentes os do jogador, geralmente, dinheiro. O futebol é um esporte que para o atleta rende muito dinheiro, então isto é negócio e é complicado.
Circula a informação de que a premiação referente ao acesso para a série A não foi paga aos jogadores. Houve aumento de ingressos para pagar isto, como é que está questão?
É verdade em parte. O Bahia pagou aos seus atletas R$ 900 mil em premiações de cerca R$ 1,5 milhão. O Bahia ainda não pagou o restante porque a CBF deve repassar ao clube os R$ 500 mil que está devendo. Assim que a CBF nos passar este valor nós automaticamente pagaremos a todos os jogadores. Esta dívida da confederação com o Bahia é referente a uma premiação pelo acesso. No que tange aos ingressos do ano passado, o arrecadado foi utilizado para o pagamento, mas não foi suficiente.
Presidente R$ 50 não é um preço muito caro? É quase 10% do salário mínimo.
Na verdade, nós não aumentamos o preço do ingresso. Os R$ 25 era a meia entrada só que nós começamos a cobrar a carteira de meia. Por isso que muita gente está tendo que pagar esse valor. Eu concordo que não é barato para realidade brasileira e nós já esperávamos esta reação. Estamos nos preparando para, em breve, oferecer outras oportunidades. Como o Torcedor Oficial, que pode comprar toda a temporada; os torcedores com até 18 anos pagam meia, com menos de 10 ou acima de 60 não pagam. Estamos buscando alternativas, já conversamos com a Sudesb para fazermos uma setorização do estádio como acontece em diversos lugares do país, a exemplo do Pacaembu.
Duas coisas: o preço do ingresso é definido pelo clube e existe possibilidade de mudar o valor até que as alternativas sejam implementadas?
A decisão do preço é do clube. Neste momento o ingresso fica neste valor, mas eu acredito que antes do final do Baianão nós já teremos a setorização de Pituaçu. Quero aproveitar para pedir que os torcedores se tornem membros da Torcida Oficial.
Quais as vantagens?
Começa pelo preço do ingresso, que sai a R$ 21. Ele vai entrar por uma catraca especial, pode pegar ingresso antecipadamente. Tem mais de 30 empresas que podem dar descontos. Uma série de premiações durante o ano.
Quantos associados já se credenciaram e qual a meta?
Em menos de um mês já temos 3,5 mil associados. A nossa meta é alcançar os 10 mil em seis meses.
Presidente, qual a contrapartida de trocar o Fazendão, que foi reformado recentemente, por um terreno em Dias DÁvila, bem longe da torcida tricolor?
Nós vamos ter um Centro de Treinamento (CT) muito melhor, mais amplo e mais preparado. Será um dos CT mais modernos do Brasil. O Fazendão será entregue à construtora OAS, que é a nossa parceira, e ela faz o novo CT, este é o modelo de negócio. Estamos reformando o Fazendão porque isso valoriza o nosso patrimônio e consequentemente melhora a negociação. Outra coisa é que a gente precisa viver até o primeiro semestre de 2013 lá. Atualmente, temos apenas um campo, agora vamos ter dois campos e um sintético, para usarmos nos treinamentos da série A deste ano e do ano que vem.
Foram feitas 16 contratações para o início do ano. Você acredita que o time está montado para a disputa do Brasileirão?
Não. Nós vamos precisar de reforços. Nós já sabíamos disso, não é hora ainda, mas vamos fazer. Temos uma conversa com Jeancarlos, que estava no Botafogo. Eu tenho um desejo muito grande de trazer o Moraes novamente, esta parceria com o Corinthians pode ajudar nisto. Atualmente, não tem condições, mas acredito que é possível no futuro. A gente precisa se reforçar para disputar a série A. Outra coisa é que este time ainda vai render mais no campeonato, os jogadores sabem disso e a comissão técnica tem esta responsabilidade.
Já fez algum contato com PC Gusmão? O Rogério foi uma aposta do Bahia.
Não teve nenhum contanto com Gusmão. O Rogério não deixa de ser uma aposta. Ele treinou apenas o time profissional do Flamengo, chegou a treinar a divisão de base da seleção brasileira. Mas a rigor, o Flamengo e agora o Bahia, é um técnico jovem. Agora eu acho isso bastante relativo, às vezes, contratamos um técnico experiente e não dá liga, não funciona, não corresponde. O Rogério tem conhecimento técnico para comandar o Bahia.
A divisão de base do Bahia acabou de voltar de São Paulo, quando foi a segunda melhor equipe da Copinha. Este é um grande resultado para o futebol da Bahia, como é que está sendo organizada esta divisão de base no Bahia?
Nós investimos por ano cerca de R$ 3 milhões nas categorias de base do Bahia. O (Newton) Mota é um grande profissional, a gente sabia que ele daria certo, precisávamos dar o tempo necessário para amadurecer. O trabalho nas categorias de base é de médio e longo prazo para funcionar. Todos esses jogadores que foram para a copinha têm contrato com o clube de mais dois ou três anos. É um trabalho diário, a garimpagem está sendo feita e agora é importante saber como aproveitar estes garotos.
Quem vai subir para o time principal agora?
Já subiu o Rafael, o Mádson (lateral) e o Felipe (meia), a gente tem que ir colocando estes atletas aos poucos. Até porque tem os jogadores sub-20 que já estão sendo aproveitados. Este atletas que voltaram de São Paulo são sub-18, muitos ainda podem jogar a copinha do ano que vem.
Como é que você tem visto a arbitragem neste início de campeonato?
A crítica que eu vou fazer aqui não é desculpa para os nossos resultados negativos, mas, sem dúvida nenhuma, a arbitragem, não só nos jogos do Bahia, tem sido equivocada. A arbitragem baiana tem sido muito ruim no geral. Eu tenho conversado com o presidente da Federação Baiana de Futebol Ednaldo Rodrigues e acho que eles tem que melhorar muito os aspectos técnicos porque os árbitros da Bahia não tem ido bem. Para o BA X VI eu defendi que fosse trazido alguém de fora, até para preservar os árbitros daqui. Tenho criticado isso publicamente e acho que deve melhorar.
Seu mandato vai até o final deste ano, você pretende tentar a reeleição?
Ainda falta este ano todo, mas confesso que tem muita coisa que eu quero fazer. Tem o acordo com a Fonte Nova, tem o novo CT que vai começar este ano. O meu desejo é deixar todas estas coisas prontas.
Como funciona a eleição?
A eleição, até esse momento, é via conselho deliberativo. Isto porque tem uma ação na Justiça travando a reforma do estatuto. Nós propusemos uma reforma que foi votada no conselho e parcialmente da assembleia geral dos sócios e então houve uma ação na Justiça questionando esta votação na assembleia. Para que possamos dar o próximo passo é preciso que esta ação seja resolvida.
Quais são os entraves?
Na minha proposta o Conselho elege dois candidatos e estes vão para uma eleição na assembleia geral de sócios. Hoje quem elege o presidente é só o Conselho. O outro grupo defende que a eleição não deve passar pelo Conselho. Onde qualquer associado pode indicar ou participar, alijando o conselho do processo. A minha discordância, neste sentido é que eu não conheço nenhum exemplo de clube no Brasil que tenha este modelo de eleição. Em todos passam pelo Conselho. Outro ponto divergente, é que alguns defendem que atualmente eu tenho maioria no Conselho e que o risco seria de os dois indicados serem do mesmo grupo. Contudo, na reforma que propusemos, está previsto também a eleição para Conselho. No novo formato, a eleição para o Conselho seria proporcional. Hoje, a chapa vencedora coloca todos os membros do conselho, o que eu proponho é que a eleição seja proporcional. Se há um grupo que contrario a atual administração e ela coloca uma chapa e tem 10% dos votos ou 20% este grupo vai ter direito a ocupar este percentual no conselho.
Este modelo foi importado de algum clube?
Sim. O Internacional de Porto Alegre funciona assim. Isto porque o Inter é o clube que tem mais sócios na América Latina. O modelo deles tem este mesmo mecanismo.
Mudando de assunto, o PMDB, seu partido político é apontado como o grande fiador do segundo mandato de João Henrique. Agora com a separação, o que o seu nome aparece como um dos três cotados para ser o candidato peemedebista à sucessão de Salvador em 2012. Você confirma está possibilidade?
Eu tenho defendido dentro do partido justamente isso. O PMDB não teve participação continuada durante quatro anos do governo de João Henrique, ele já pediu para sair do partido. Ele teve o apoio do partido no começo deste segundo mandato, mas em algum momento ele se afastou. A gestão então deixou de ter a cara do partido. Eu defendo que o PMDB tem que colocar um projeto para Salvador. Eu pretendo, durante este ano, já que estou sem mandato, montar este projeto. Vou fazer algumas viagens até o Congresso Nacional. Eu quero ser candidato, hoje eu sou pré-candidato, quero levar isso internamente, acho que a gente tem que ter candidato e temos condições de vencer as eleições. Eu espero que seja o meu nome. O prefeito não faz uma boa gestão isto é claro.
Você considera que tem bagagem política, experiência, para assumir Salvador?
Penso que sim. O que a cidade precisa, fundamentalmente, é de gestão e gestão significa você escolher os melhores, se cercar dos melhores e saber comandar estas pessoas, gerir este trabalho. No Bahia nós conseguimos alcançar os nossos objetivos de voltar para a série A, de contornar as contas do clube, ter um cenário melhor, porque soubemos escolher as pessoas certas. Houve momentos em que estas escolhas foram ruins e a gente tirou essas pessoas e colocou outras e a coisa começou a andar. É isso que Salvador precisa, você não precisa entender de tudo, nem de todos os aspectos. Você ter o melhor secretário da Saúde, o mais competente secretário da Educação, o melhor secretário da Fazenda e saber coordenar este grupo. Eu acho que é isso que falta. Está claro no número de secretários que o prefeito teve em todo esse período, não é possível que todos foram incompetentes, no mínimo ele que não soube coordenar esta equipe este tempo inteiro. Não é essa gestão que Salvador precisa. Eu me dou muito bem com ele, João Henrique no trato pessoal é muito afável, muito educada, mas não teve sucesso.
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