A entrevista coletiva do gestor de futebol Paulo Angioni, nesta quarta-feira à tarde, foi na realidade um grande desabafo. Aliás, já o terceiro da semana, que começou com o técnico Paulo Roberto Falcão bradando contra os críticos do esquema com três volantes, domingo, ao final do empate com o Santos (relembre aqui), e depois teve o goleiro Marcelo Lomba dizendo na segunda que o grupo campeão baiano deveria ser “mais respeitado” após a péssima repercussão da derrota para o Grêmio, quinta passada, e o aumento da preocupação para o Brasileiro (aqui).
(parênteses: será que eles acham que, graças ao título, nada mais pode ser cobrado?)
(só mais uma observação: para calar a todos, nada melhor do que simplesmente eliminar o Grêmio… poderão até repetir Zagallo e lançar um “vocês vão ter que engolir”; a Nação iria adorar)
Bem, a conferência está distribuída em duas partes, abaixo, mas colocamos na sequência a maioria dos assuntos, por escrito, inclusive com trechos não mostrados pelos vídeos. Confira:
O ENCONTRO
“Normalmente, não sou uma pessoa muito de estar falando com vocês no dia a dia, é uma característica minha, mas, quando eu vi que estava sendo muito procurado novamente, eu falei com o Jayme (Brandão, assessor de imprensa) para que pudesse esclarecer dúvidas que vocês possam ter, o que é muito natural num início de competição”, iniciou Angioni.
Vamos, logo, às palavras mais duras:
“Temos que ter a criatividade necessária para encontrar mecanismos para nos fortalecer. Não podemos ficar sentados numa cadeira, como muitos admitem que eu que fico, sem raciocinar. Eu raciocino. E muito, até. Estamos tentando e, a qualquer momento, nós vamos encontrar jogadores para as posições que a gente precisa, dependendo desse mercado ainda muito efervescente, mas é questão de esperar um pouquinho, diminuir a ansiedade.
“Foi até boa pergunta (se o Bahia também buscaria atletas em times menores, não se limitando apenas a peças que não estão sendo aproveitadas em grandes clubes), para eu dar outro desabafo. Minha formação ideológica é de igualdade, não tem discriminação, mas eu vivo no sistema e sei como ele é, mas não me assusta. Tanto, que estou aqui. Eu acho que não tem um profissional na história do Bahia, desculpe a minha franqueza, porque aí vai um pouco do meu sentimento… que está machucado… que valorizou tanto essa marca como eu”.
“Desde que cheguei aqui (em 2010), já recebi seis propostas, sendo que a última delas fica a 20 minutos da minha casa. O que ocorre é questão de metodologia, conceitos, ideias, convicção. Se a gente tiver jogador da base pra suprir uma carência que a gente tenha, pra complementar a formação do elenco, não preciso ir no varejo, ir no mercado menor. Eventualmente, a gente pode buscar. Agora, jogadores pontuais, tem que trazer jogadores com embasamento forte num Brasileiro. Recentemente, vi um jogador do Feirense que gostei e fui buscar (o zagueiro Alysson). Como ele, podem vir outros, mas não posso de forma alguma fazer o que foi feito antes e não deu certo. Isso cansou de ser feito aqui. E qual foi o resultado?”.
“Tenho que buscar coisas para esse processo de fortalecimento do Bahia com coerência. Não há nenhuma hipótese de ter qualquer coisa sórdida aqui. Aqui tem honestidade e dignidade. Num mundo empírico como é o futebol, temos o caso do Donato, que todo mundo achava um estúpido e agora todos vão lamentar se sair”.
“Meus amigos, vamos ter coerência naquilo que a gente fala. A gente não está aqui brincando. Tenho grande responsabilidade com as pessoas que acreditam em mim, e com a Nação Tricolor. A gente tem um retrospecto muito bom, mas a gente não está deitado em berço esplêndido. Se eu fosse covarde, eu teria ido embora. Pra mim, seria muito mais fácil. Ou não? Simplesmente, só uma proposta do Flamengo… Me procuraram por um mês, e eu dizendo `não` todo dia. Se eu gostasse de ficar na poltrona, eu ficaria na poltrona da minha casa (no Rio)”.
“O que me fez deixar de estar em casa com a minha família foi o prazer de estar aqui, onde sou respeitado, bem tratado, minha relação com o presidente é das melhores, e vejo o Marcelo Guimarães Filho pela sua juventude, tenacidade, pelo seu modernismo de adminsitrar um clube… Talvez seja o clube mais profissional do Brasil, isso é uma coisa que pouca gente fala. Eu, quando fui solicitado pra trabalhar no Flamengo, eu disse claramente que seria difícil, porque lá não tem essa cultura do profissionalismo”.
“Salvador é uma cidade de sol, como o Rio, e quando fica um tempo mais chuvoso, fica melancólico. No domingo, acordei extremamente melancólico com saudade da minha família, mas nem por isso me arrependi. Sou feliz aqui. E nada me demove, não é dinheiro, glamour de estar numa outra marca… É difícil para todos. Ano passado, a gente teve uma competição de um nível técnico muito grande. Acredito que, nesse ano, não será da mesma forma. Será mais na tenacidade. E acredito muito que a gente possa fazer uma belíssima campanha no campeonato”.
“Não me sinto pressionado, muito pelo contrário. É aquilo que eu disse: sou uma pessoa sentimental, extremamente romântica, não gosto de mercantilismo. E quando você vê as pessoas te atrelarem supostamente ao mercantilismo, isso me deixa muito triste. Não gosto da agressividade, não gosto da polêmica, sou uma pessoa dócil. Então, meu amigo, quando eu vejo injustiça, me incomoda profundamente, ainda mais quando tem leviandade. Aí que me entristece profundamente. Mas a vida é a vida, o tempo é o tempo, o tempo é o melhor remédio”.
“Meu compromisso com o Bahia vai até quando o Marcelinho quiser”.
CONTRATAÇÕES
“Quando um profissional chega ao Bahia, a primeira cosa que fazemos é esclarecer esse ponto. O Falcão sabe perfeitamente desde que chegou que o Bahia não teria condição de ir para o mercado quando o mercado estivesse aquecido. Ele, em nenhum momento, pode dizer que o Bahia não atendeu aos anseios dele, porque ele sabe a realidade”.
“Eu demorei um pouco a chegar porque estava fazendo contato com o Sul e estava buscando detalhes (sobre uma eventual contratação do meia Marcos Aurélio, ex-Coritiba, hoje no Inter), mas não tem nenhum tipo de veracidade nessa informação. O Bolatti (volante argentino, também do Inter) não é um jogador que o Bahia procurou, nem tampouco o Marcos Aurélio. Se o Internacional liberasse, seria um jogador que iríamos buscar, sim. O Bolatti, não”.
“Fábio Bilica, não tem nenhuma possibilidade. Isso é uma situacão jogada (na imprensa), o que é muito comum nessa época. É um jogador renomado, que passou pelo futebol italiano e hoje está na Turquia, mas não é um jogador de um perfil que a comissão técnica pretende”.
“Estamos de olho também no mercado sul-americano, na janela de transferências para repatriar brasileiros, mas é sempre bom deixar claro que não pode-se criar grandes expectativas, porque no nosso entendimento a gente tem que buscar jogadores pontuais e, às vezes, isso se restringe a duas ou três contratações, no máximo, e o restante jogadores de composição”.
“Vamos buscar um zagueiro (pela saída de Diego Jussani e pelo possível adeus de Rafael Donato), mais um atacante de velocidade. Mas pode ser um `nove` que faça uma dupla função, também saia da área. Você pode ter aí, numa outra situação, um jogador que faça essa aproximação. A gente já tem Morais, Magno e pode ter mais um”.
“Futebol é pura paixão, e respeitamos isso, porque sem a paixão o futebol não sobreviveria, por isso a ansiedade (de torcida e imprensa) numa competição tão difícil e desproporcional que é o Brasileiro, pelo desquilíbrio financeiro dentro da competição. Mas somos sabedores disso. De toda forma, a gente é obrigado a conseguir soluções”.
“Primeiro, respeitando os jogadores que estão aqui, que no nosso entendimento nos dão retorno, e por isso a gente prioriza as renovações, porque lá no início eu disse que hoje contrataria 20, amanhã 18 e, se Deus quiser, montaria uma equipe só com reforços pontuais. E é o que o Bahia tem hoje. Um time, de jogadores com contratos de um ano, um ano e meio. Além disso, aproveitar jogadores da base, que faz parte desse projeto de equipe, e é uma realidade”.
LOMBA E DONATO
“Das renovações, realmente o problema são eles. Lomba, o procurador já estava negociando um possível distrato com o Flamengo. A parte contratual com o Bahia já está toda resolvida há muito tempo, mas o Bahia precisa esperar o procurador conseguir o distrato. Depende disso. O Flamengo sabe que ele tem vontade de permanecer, já o gratificamos a nível salarial”.
“O que esbarra hoje é o Rafael donato, um profissional que acreditamos muito, tivemos coragem em trazê-lo para um clube da grandeza do Bahia. O Eduardo Barroca (um dos auxiliares) me referendou esse jogador, e acredito nele, que é uma pessoa séria e competente. Estava jogando a segunda divisao do Rio… E hoje tem grandes dificuldades de chegar a um entendimento. Sou muito sincero e franco em dizer que vamos lutar até o final, ele sabe disso. Eu disse que só esperaria o presidente chegar para uma conversa pessoal. Mas ele está cumprindo com dignidade todas as normas de conduta, como no passado cumpriu o Paulo Miranda, mesmo já tendo assinado um pré-contrato com o São Paulo. Mas a gente não tem receio sobre isso”.
“Quando a gente se acertou com o Audax, que é do grupo Pão de Açúcar, o compromisso era do Donato ficar de maio a dezembro. Mas é uma operação triangular, que também envolve o jogador, e vem sendo o mais complicado. Mas vamos admitir que não dê certo. Ele só sai do Audax negociado, e o Bahia tem um percentual que não posso divulgar, por dar a vitrine a ele”.
“Morais, já iniciei conversas com ele, acredito que semana que vem seja resolvido. Há interesse dele em permanecer. O cotrato dele com o Corinhians também termina agora, em junho, e por isso não podíamos ter feito um contrato maior. Na oportunidade, quisemos fazer dois anos de contrato, mas seu representante não quis”.
“Não tem por que dizer que o Morais não deu certo. Pelo contrário, foi das mais importantes peças para o acesso em 2010. Agora, não teve uma sequência de jogos, por causa de algumas lesões. Ninguém pode discutir a qualidade do Morais”.
ZÉ ROBERTO
“Eu também ouvi inúmeras críticas ao Souza, ao Rafael Donato. É até interessante, porque quando ele deu uma declaração (em dezembro) de que queria jogar aqui, foi um clamor público e o presidente fez um esforço hercúleo para trazer. Zé Roberto foi contratado pelo clamor público, o desejo da torcida. Está passando por um mau momento, sim, mas precisamos esperar um pouco. Ele tem contrato de dois anos, mas dizer que tem que jogar no lixo? Isso não existe”.
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