Segue a íntegra da entrevista concedida pelo superintendente dos esportes olímpicos do Tricolor, Ruy Accioly, ao jornal Correio da Bahia. Confira, pois possui vários pontos interessantes:
O que mudou no esporte amador do Bahia nos últimos anos?
Quando assumi a superintendência do Esporte Clube Bahia, só tínhamos o basquete como esporte amador competitivo estadualmente, num trabalho abnegado de Hernani Santos. O que mudou primeiro, de 1998 para cá, foi a reestruturação da sede de praia, com reformas e bombas para nossa piscina olímpica, uma das três da cidade. Houve também uma troca de estrutura do nosso ginásio, seguramente um dos mais requisitados por diversas federações. Depois dessa ação no suporte físico do clube, reativamos o futsal, o vôlei, a natação e o caratê. Fomos atrás dos patrocinadores para isso e tenho que agradecer a Comercial Ramos e Cerâmicas Gerbi, que foram os primeiros a apostar nessa empreitada. Hoje, contamos ainda com o importante apoio das Tintas Renner, Perlex, Insinuante e Varejão Autopeças.
Quantas pessoas são empregadas graças ao esporte amador do Bahia?
Eu não diria empregado, mas são beneficiadas com ajuda de custo cerca de 120 pessoas, num investimento anual de R$350 mil. Um ponto forte de todo esse trabalho que realizamos aqui na verdade é a população flutuantes de atletas e técnicos na sede de praia. Por dia, são cerca de 300 a 350 pessoas, entre atletas e técnicos, que circulam por lá graças ao esporte amador. Damos ajuda de custo apenas para nossas equipes adultas, mas temos que observar o trabalho social por todas as outras categorias. Temos ainda escolinhas para todos esses esportes.
Qual a maior dificuldade de administrar equipes de esportes olímpicos?
Sem dúvida, para qualquer dirigente ou diretor dessa área, arranjar um patrocinador é o nosso principal obstáculo. No Bahia, nas nossas limitações, nem podemos reclamar, porque somos um dos poucos que temos nossas modalidades assistidas por essas empresas.
O Bahia já tem uma hegemonia estadual nos esportes que mantém equipes, como o vôlei, basquete e futsal. Vocês pensam em explorar mais modalidades? Quais seriam?
Em 2004 queremos colocar handebol. É um esporte tradicional e no qual o Brasil classificou suas duas equipes para as olimpíadas. Infelizmente não temos condições de trabalhar no clube com times femininos, por uma questão de limitação de espaço e tempo, já que não teríamos como treinar o dobro de atletas em nosso único ginásio. Nunca pensei em investir, pelo menos a curto e médio prazos, em esportes individuais como atletismo e tênis de mesa, mesmo sabendo do custo baixo de algumas categorias.
Você está totalmente satisfeito com o resultado dos esportes em que o Bahia e seus parceiros investiram?
Não. Apesar dos nossos ótimos resultados, estou um pouco decepcionado com futsal, um esporte que não é olímpico e é muito caro em relação aos demais. As taxas de arbitragem caras, os jogadores querem ganhar muito e a Bahia não tem uma competição atrativa para a mídia e conseqüentemente aos patrocinadores. Disputamos só com o interior, mas damos muito mais retorno a eles do que o contrário. Todo sacrifício é do nosso clube. Tem sido um investimento muito alto de nossa parte, mas o retorno está baixo e deixando a gente sempre no vermelho.
Vocês ainda estão numa distância grande para jogar de igual para igual com equipes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O Bahia pretende superar essa barreira? Como isso seria possível?
O Bahia sozinho não conseguirá isso, pode ter certeza. Em minha opinião, as federações têm que promover torneios que sejam atrativos para os esportes olímpicos, enfrentando outros times do nordeste, por exemplo. Não há uma rivalidade para o público. Falta um patrocinador que invista forte para trazer bons atletas também. É tudo muito complicado. O retorno de mídia é pequeno para um investimento desse.
Quais são as chances do Bahia disputar alguma Liga nacional?
Só arranjando mesmo um patrocinador forte. Sabemos que podemos entrar na maioria das grandes ligas nacionais desde que tenhamos o dinheiro para isso.
É verdade que o Bahia já tentou uma parceria com o Itapagipe para manter uma equipe de remo, podendo rivalizar com o Vitória também nas raias?
É verdade, mas o problema dessa história é que Marcelo Guimarães, que é um vencedor, quando era presidente do Itapagipe, foi campeão 18 vezes do remo, tentou colocar o Bahia num convênio com o Itapagipe. Mas fazer essa parceria é difícil porque o conselho do Itapagipe teria que aprovar esse acordo, mas existem muitos conselheiros e sócios de lá que são torcedores do vitória, e vetariam isso. Existem problemas também com o registro na Federação de Remo, porque o Bahia não e um clube desse esporte e segundo o estatuto da entidade, teria que ser para entrar na disputa do campeonato estadual.
O Bahia também tem uma divisão de base em seus esportes amadores?
Em todas modalidades temos nossa equipe principal, adulta, mas fazemos questão de trabalhar também em todas as categorias de base desses esportes. Esse trabalho tem sido feito, com retorno de título, além de revelações para nossas equipes principais.
O mandato de Marcelo Guimarães encerra em 2005. Você tem data para deixar a superintendência do esporte Clube Bahia, ou tem projetos nessa área para o futuro?
Meu cargo é de confiança, e portanto, estarei ao lado de Marcelo Guimarães, certamente. Ficarei se convidado se o próximo presidente for uma pessoa do nosso grupo e que me convide para o cargo, é claro. Se entrar outra pessoa, a gente ficará até onde der.
Você foi diretor de futebol do Bahia em duas oportunidades. Por que você acha que o time foi rebaixado?
É uma pergunta que precisaria de uma resposta longa, mas vou tentar resumir. Temos que admitir que alguns equívocos foram cometidos, mas não se pode responsabilizar uma pessoa só por isso. O presidente responde porque é o comandante máximo, mas o porquê da queda é coletivo. A administração do departamento de futebol foi um caos, mas o clube está se recuperando nas divisões de base, estruturando com hotelaria, esportes amadores, sede de praia, ginásio etc. Os títulos dos juniores, infantil e dente-de-leite não vieram por acaso. Esse trabalho só será feito no profissional agora, e a gente sabe que acontece um pouco tardiamente, mas já estamos fazendo.
Mas como vê a situação atual do clube?
Vejo que podemos nos recuperar, mas precisamos rever vários assuntos. Acho que temos que rever nossa atual parceria. Entendo que poderiam haver maiores investimentos, apesar do banco (Opportunity) dizer que não quer ser dono do clube. Entendo que eles não têm a obrigação, por contrato, de investir, mas existem outras saídas. Por exemplo, se já se sabe que vamos receber os US$1,4 milhão de Daniel, porque não pode haver um adiantamento desse dinheiro para que as contratações aconteçam mais cedo? São coisas como essa, entende, que deveriam ser revistas e repensadas. Entendo também que falta um marqueteiro no Bahia. No Vitória, Paulo Carneiro é muito mais marqueteiro do que administrador. Ele faz o negócio dele parecer muito mais do que na verdade é. O Bahia não tem um trabalho desse. Somos um clube de massa, de proporções muito maiores para repercussão de qualquer tipo de fato, mas não exploramos da melhor maneira esse potencial.
Você é da linha de que para a Série B deve ser montado um time de segunda divisão, ou você entende que grandes jogadores podem se sair bem no campeonato que o Bahia vai disputar?
Temos que montar um time bom. Não existe isso de técnico e jogador de segunda. Você conhece esse conceito? Entendo somente que eles têm é que ter um compromisso com o Bahia e sua torcida, além de uma boa preparação para o campeonato.
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