A reportagem abaixo foi publicada na edição desta quarta-feira do jornal A Tarde. Apesar de se encontrar no caderno de Informática, o texto – que fala do ecbahia.com.br, do Bahia Livre e da AABB – é do editor de A Tarde Esporte Clube, Paulo Leandro. Confira:
“GOLAÇO VIRTUAL – CIBERTORCIDA EM CAMPO
Páginas esportivas produzidas na Bahia rompem a censura e divulgam livremente na internet as informações e opiniões sobre os clubes de futebol
Posso não discordar de uma só palavra do que dizes, mas defendo até a morte teu direito de dizer. O sonho do iluminista francês Voltaire está vivo. E, quem diria, seus mais novos seguidores são os torcedores de futebol baianos, que descobriram o ciberespaço como palco de democracia.
É o exemplo do torcedor Edmilson Gouveia, também conhecido como Pinto. Ele está organizando os fiéis tricolores no Bahia Livre (www.bahialivre.com.br). Queremos eleições diretas no Bahia, propõe, indo direto ao ponto.
Pinto e outros cibertorcedores debateram o papel desta mídia tão democrática no encontro mais recente da Confraria do Esporte, que reúne leitores de A TARDE Esporte Clube, o caderno de esportes diário encartado em A TARDE.
Na reunião, realizada na sede da empresa, com a presença do editor-chefe Florisvaldo Mattos, a cibertorcida comemorou algumas conquistas na luta pelo direito à informação, como a publicação de balanços relacionados às empresas de sociedade anônima que controlam ou influenciam os grandes clubes baianos.
Pinto vai além e segue a tradição de quase 200 anos do pioneiro jornalista brasileiro Hipólito José da Costa, referência no gênero interpretativo. Passamos para o torcedor do Bahia o contexto atual, as dívidas do clube e as chances de mudança, disse.
Tal como fazia Hipólito, em seu Correio Braziliense, capaz de analisar o cenário político brasileiro nos anos que antecederam a independência, em 1822, o Bahia Livre vem interpretando o momento tricolor. Debatemos o cenário que vamos encontrar nas eleições diretas no Bahia, explica Pinto, responsável pela página, aberta à participação de navegantes tricolores de todas as tendências
Segundo Pinto, o Bahia Livre teve 29 mil acessos desde o início de outubro, quando foi ao ar. Temos links para o Bahia Paixão, outro site dedicado ao clube, e para a Confraria do Esporte, anuncia. Os cartolas tomam conta de grande parte da mídia e a nossa idéia é dar voz ao torcedor.
Ele critica ainda os métodos considerados abusivos da direção do Bahia para tentar controlar também a informação distribuída via internet. Tentaram até processar o site www.ecbahia.com.br, por ter veiculado um noticiário que desagradou ao clube, disse Pinto, no encontro da confraria, realizado em 7 de maio.
Primeira página tricolor baiana surgiu em 1997
Outro site desenvolvido para tratar de assuntos do Bahia é o Ecbahia, produzido por três amigos, estudantes universitários e loucos pelo Tricolor. Marcelo Barreto, Nelson Barros Neto e José Carlos Júnior se revezam três turnos. Incluindo madrugada, acrescenta o estudante de jornalismo e direito, Barros Neto.
O trabalho tem a colaboração de nomes como o do pesquisador da história do Bahia e jornalista Nestor Mendes Júnior, que assina uma coluna de opinião.
O resultado de tanta dedicação está lá no placar virtual: média de 3,5 mil usuários por dia ou 8 mil entradas com 30 mil cliques nos diversos links oferecidos no Ecbahia, incluindo o que acolhe os textos dos cibertorcedores, seguindo a tendência de interatividade da seção MegaFone, publicada em A TARDE Esporte Clube. Não somos movimento de oposição, mas temos seções destinadas ao torcedor, pois somos um portal independente.
O Ecbahia foi a primeira página tricolor, lançada ainda em 1997, pelo então estudante Zamil Cavalcânti, numa época em que a direção do clube nem pensava em internet, embora até o pequeno Galícia, nesta mesma época, já tivesse sua home page, desenvolvida pelo ex-diretor do clube, Renato Santarém.
O Vitória, também nesta fase inicial do ciberespaço esportivo baiano, já disputava até um campeonato virtual com as principais torcidas da Europa e da América do Sul, em um movimento organizado pelo cibertorcedor Aristóteles Moreira e que conseguiu destaque nacional em reportagens veiculadas nos maiores jornais paulistas, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo.
Os responsáveis pelo Ecbahia sabem que a ousadia de realizar o sonho de Voltaire na internet é sentido como uma ameaça para os planos políticos de quem controla o clube atualmente. Democratizar o acesso à informação e deixar que o torcedor se pronuncie, fazendo as opiniões circularem, é uma pedra no sapato deles e já sofremos perseguição com ameaça de processo e tudo, lembrou Nelson Barros Neto.
Próximo passo é fazer com que o ecbahia se torne rentável, graças à atração de anunciantes, como forma de sustentar o hábito de tantas atualizações capazes de tornar a página uma referência até para os jornalistas esportivos em busca de uma boa pauta ou um texto interessante sobre a história dos confrontos entre o Bahia e seus rivais.
CONSCIÊNCIA Até a pequenina Associação Bancários da Bahia já está na rede. Duas vezes campeã baiana da segunda divisão, em 1978 e 1986, a ABB é uma dissidência da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e vem desenvolvendo um trabalho de revelação de talentos para o futebol. Sem torcedor declarado, nem por isso o presidente e responsável pela página, Carlito Santos ignora a importância do meio digital para fazer a informação circular sem censura.
Mas reconhece que o contato com os navegantes tem como principal objetivo a indicação dos meninos bons de bola para os times de base da ABB, que vem se organizando a fim de voltar à primeira divisão de profissionais.
Já o Vitória, embora também inspire a criação de páginas como a do Barradão online e a oficial do clube, entre outras, tomou WO, que é como fica o placar, quando o time não vai a campo. O organizador do encontro entre os cibertorcedores, Fred do Chame-Chame, disse que chamou, os leões confirmaram, mas não apareceram”.
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