De Darino Sena, para o Correio* desta terça-feira:
“Debatem-se os métodos, as mentalidades, os prós e contras das heranças de suas gestões, mas quem conhece minimamente o Bahia não discute: Osório Villas Boas e Paulo Maracajá foram os maiores dirigentes nesses 82 anos de existência do clube. Alcançaram esse status porque foram os presidentes nas campanhas que bordaram as duas estrelas douradas da camisa tricolor. Com Osório no alto de sua hierarquia, o Bahia foi o primeiro campeão brasileiro, em 1959. Com Maracajá, bi, em 1988. Marcaram pra sempre. Fizeram história.
Na noite de hoje, o atual presidente, Marcelo Guimarães Filho, também terá a oportunidade de marcar seu nome definitivamente na história do Bahia, assim como seus predecessores, ou não. Diferentemente dos cartolas de antes, por um feito grandioso fora e não dentro de campo. Mas, nem por isso, menos importante, porque tende a deixar o Bahia mais próximo de reviver glórias, por ora, aprisionadas no passado.
Esse passo histórico de Marcelo Filho pode ser dado a partir das 18h de hoje, na assembleia geral de sócios do Bahia, na antiga sede de praia da Boca do Rio. Basta que o atual mandatário, enfim, viabilize a democratização pra valer do processo eleitoral para presidente do clube. Uma das principais promessas feitas pelo presidente ao assumir o primeiro mandato (está no segundo), no final de 2008. Até agora, não cumprida. Mas “a esperança nem sempre morre”, já dizia minha saudosa vó Helena, que nunca me ensinou nada de errado.
Para democratizar o pleito, é preciso reformar o estatuto. A expectativa é que a reunião de sócios de hoje sirva pra isso. A um amigo comum, Marcelo Filho confidenciou que, hoje, a reforma sai, nem que seja “na marra”. Será?
Atualmente, pelo que rege o estatuto, os sócios do Bahia não podem votar para presidente. A cada três anos, eles participam da eleição para o conselho deliberativo. Apenas uma chapa sai vencedora do pleito e pode indicar todos os conselheiros, que, por sua vez, elegem o presidente. É um processo excludente. Impede que correntes divergentes tenham voz ativa na eleição e na posterior fiscalização do mandatário, já que todos os conselheiros fazem parte do mesmo grupo político. A não ser que haja um racha interno radical, o que é raro, a tendência, neste modelo, é o continuísmo.
Em outros clubes, não é assim. No Internacional-RS, por exemplo, na eleição do conselho, as chapas concorrentes elegem um número de conselheiros proporcional à votação que receberem dos sócios, a partir de um número mínimo de votos exigido por chapa. Assim, o conselho pode ser formado por grupos de mentalidades distintas. Esses conselheiros votam nos candidatos à presidência. Os presidenciáveis que obtiverem mais de 25% dos votos dos conselheiros participam da eleição posterior, entre os sócios. Se apenas um candidato atingir mais de 25% dos votos no conselho, ele não precisa passar pela eleição entre os associados e é nomeado presidente automaticamente.
Outros clubes não utilizam esse filtro do conselho. A votação é feita diretamente entre os associados. São os casos de Corinthians, Vasco e Flamengo, por exemplo. Esse é o sonho da torcida tricolor, mas não é a proposta que vai emplacar.
A atual diretoria do Bahia vai apresentar uma proposta similar à da eleição no Inter, com o filtro do conselho aos candidatos a presidente, antes da votação entre os sócios. A dúvida é saber qual o percentual de renovação do conselho que vai ser proposto a cada eleição. Quanto menor esse percentual, obviamente, mais tempo o grupo atual tende a se sustentar no poder. A tendência é que apenas 25% do conselho seja renovado por pleito.
Não deixaria de ser uma evolução, é fato, porém, tímida e frustrante demais pra quem já espera há 82 anos e não vê a hora de ter o direito de eleger o presidente do clube que ama. O ideal é que a totalidade do conselho pudesse ser renovada por eleição, como acontece na Câmara dos Deputados nacional e estadual, por exemplo, o que aumentaria as chances de um bate-chapa equilibrado, com contraposição de ideias e propostas para desenvolver um Bahia, enfim, democrático.
Entre uma mudança frustrante e uma democratização pra valer, faça história, presidente.”
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