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Timemania não é salvação para o Esquadrão

Notícia
Historico
Publicada em 20 de fevereiro de 2008 às 00:42 por Da Redação

Após uma série de polêmicas e dois anos de discussões, a Timemania finalmente foi lançada nesta segunda-feira, em Brasília. A nova loteria da Caixa foi criada pelo Ministério do Esporte para pagar – através do dinheiro dos apostadores – as dívidas dos clubes de futebol com a Receita Federal, Previdência e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Durante a solenidade, o presidente Lula não fez discursos. E se recusou a comentar o assunto com os jornalistas. Ao ser questionado se o projeto era um prêmio do governo para agremiações com administrações fracassadas e cartolas corruptos, preferiu não responder.

O presidente do campeão brasileiro São Paulo, Juvenal Juvêncio, falou em nome dos clubes e, como já se esperava, rasgou elogios à iniciativa. Desde que se falou em Timemania pela primeira vez, dirigentes de todo o País chegaram a estourar fogos e disseram, em uníssono, tratar-se da salvação do esporte nacional.

A situação se repetiu na Bahia. Não foram poucas as vezes em que, indagado sobre o vazio nos cofres tricolores, o presidente Petrônio Barradas depositou todas as suas esperanças no jogo. Idem para a cúpula do Vitória.

Mas há um grande porém nisso tudo, que parece não ser levado em conta, principalmente no Fazendão. É que, além de o Palácio do Planalto impor contrapartidas aos times, a distribuição das receitas da venda das cartelas será ínfima em relação aos que estavam na Série C, ano passado.

ENTENDA O CASO – A previsão inicial de arrecadação com a Timemania é de R$ 500 milhões anuais. Deste valor, entretanto, apenas 22% vão para os clubes – e eles terão cotas diferenciadas. Os 20 participantes da Série A ficam com 65%; os 20 da B, com 25%, e um terceiro grupo, formado por 40 agremiações, com somente 8%. É que, apesar de aparecerem 80 equipes no volante da loteria, outros 20 times, que seriam “reservas” em caso de desistências, fariam jus a 2% do valor.

Todos eles, ao entrar no programa, precisam confessar sua dívida à Receita e manter os novos recolhimentos em dia. O débito a ser coberto será parcelado em 240 meses (20 anos) e o clube ficará obrigado a complementar o pagamento mensal se a sua cota for insuficiente – está aí o principal detalhe da história.

“Por isso, mesmo que a Terceira Divisão receba 10% dos 110 milhões previstos às agremiações pela Caixa, a situação do Bahia seria complicada, tendo de desembolsar cerca de R$ 46 mil mensais para continuar `se beneficiando´ com a loteria”, explica o economista da Associação Bahia Livre, Marcus Verhine. Ele chega a este número dividindo a dívida fiscal do tricolor, que estima em R$ de 25 milhões, pelos 240 meses do parcelamento acertado.

O resultado da conta dá R$ 104 mil, ao passo que o Bahia, por estar enquadrado no terceiro grupo, só deve arrecadar R$ 58 mil mensais – necessitando, portanto, complementar a quantia para seguir no projeto.

“O clube também não poderá atrasar nenhum imposto, sob pena de ser retirado do jogo. Então, essa tradicional prática adotada pelo Esquadrão não vai poder continuar. Assim, pergunta-se: será que o Bahia está realmente planejado para a Timemania? Os clubes do Rio já estão há meses falando em se reestruturar, mas nunca vi uma declaração de Petrônio, de ninguém, sobre o assunto”, acrescentou.

Verhine explicou que a loteria pode até ser boa para os clubes, mas é muito melhor para o governo: “É perfeito para o Fisco. O dinheiro não vai entrar diretamente nos times e, sim, numa conta específica da dívida confessada de cada um deles. As equipes só terão chance de utilizá-lo para contratações, por exemplo, depois de estarem quites com a Receita. Então, o governo se cobre, garantindo dívidas impagáveis, e ainda posa de fomentador do futebol nacional”.

Para os clubes, o lado positivo é que, sem débitos exorbitantes, fica mais fácil de conseguir crédito, financiamento e investimentos junto a bancos e empresas. “Times com patrimônio líquido negativo, como é o caso do tricolor, não podem obter empréstimos de instituições financeiras”, ensina o economista.

“FUTURO” – Mesmo assim, o vice-presidente de Marketing tricolor, Marco Costa, defende a participação do Bahia. “O clube já sabia que era assim quando aderiu. Só que achava que ia subir em 2006”, explicou, reconhecendo que, “num primeiro momento, a loteria não é tão rentável, mas pensamos no conjunto, no que pode ocorrer no futuro”.

Ele aproveita para garantir que o clube já cumpre todos os requisitos estipulados na lei da Timemania. E lembra que o Esquadrão de Aço terá participação nas apostas. “Portanto, o torcedor também poderá apostar mais no time do coração, o Bahia, e nos ajudar”, vislumbra.

Governo garante que não vai abrir `brechas´

De acordo com o economista da Associação Bahia Livre, Marcus Verhine, uma saída para o clube não se prejudicar tanto com a Timemania seria usar a sua força política e influência de fundador do Clube dos Treze. A idéia é tentar algum diferencial financeiro sobre os demais times que disputaram a Série C 2007, pois sua dívida é muito maior que a do restante deles.

Um dos idealizadores da loteria, o empresário José Carlos Brunoro lamenta a situação tricolor, porém é enfático: “Se o Bahia deve muito, não é um problema da Timemania”. Gerente da co-gestão Palmeiras/Parmalat, que fez sucesso na década de 1990, ele argumenta que a equipe é exceção entre as 80 a serem beneficiadas pelo projeto. “Ninguém esperava que o clube fosse para a Série C. Então, realmente está numa situação atípica”.

Brunoro assegura que o governo repartirá as receitas eqüitativamente por divisão do futebol nacional, sem analisar “caso a caso”.

“Quando tivemos a idéia, pensamos em dois enfoques. O primeiro é que no mundo inteiro o Estado interveio para ajudar os clubes. Mas se a gente fizesse isso no Brasil, iam acabar dizendo que é um absurdo. Então, criamos a loteria com o objetivo de ser uma ajuda democrática para os clubes quitarem suas dívidas fiscais”. A segunda missão, afirma, são as contra-partidas, “que ajudarão a modernizar os clubes, forçando-os a andar em dia e com seus balanços auditados”.

Quem também fala com pesar sobre o que acontecerá com o Bahia, mas sem ver possibilidades de o clube reverter o quadro, é o diretor do Departamento Técnico da CBF, Virgílio Elísio. Ex-presidente da Federação Bahiana de Futebol, ele é um dos oito integrantes da comissão elaborada pelo Ministério do Esporte para gerenciar o projeto.

“Há realmente um grande problema. Não existe nenhum time da expressão do Bahia no grupo dos 40 que recebem a menor fatia do rateio. Mas é questão de escolha do clube: entrar e amenizar os débitos ou não entrar e não dispor dos recursos”, considera. Elísio só não enxerga chances de o Bahia, politicamente, conseguir aumentar a sua parte: “O padrinho dessa causa se candidataria a um processo de queimação”.

Se o Bahia tivesse subido até 2006, as contas fechariam. Pelo rateio da Segundona, a equipe receberia algo em torno de R$ 114,5 mil mensais e não teria maiores problemas para honrar seus compromissos com a Receita Federal. Ao final dos 240 meses previstos pela Caixa, o que viria seria lucro.

RANKING DOS DEVEDORES
A dívida fiscal de alguns dos principais clubes do País:

Flamengo | R$ 180 milhões
Botafogo | R$ 160 milhões
Fluminense | R$ 155 milhões
Portuguesa/SP | R$ 145 milhões
Atlético/MG | R$ 112 milhões
Grêmio | R$ 80 milhões
Vasco | R$ 70 milhões
Santos | R$ 62 milhões
São Paulo | R$ 43,2 milhões
Cruzeiro | R$ 32 milhões
Corinthians | R$ 30 milhões
Bahia | R$ 30 milhões
Palmeiras R$ 27 milhões
Coritiba | R$ 20 milhões
Figueirense | R$ 6 milhões
Vitória | não divulgada

Fonte: www.globo.com (em valores aproximados)

Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta terça-feira 19/02/2008 do suplemento A Tarde Esporte Clube

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