O técnico René Simões deu a primeira entrevista depois da dispensa do atacante Jobson por seguidos casos de indisciplina no Bahia. E, após quase 20 minutos de papo no início da noite desta terça-feira, disse que a decisão foi um “somatório de coisas”, chegou a falar em “país de maus exemplos” e citou até um caso de suicídio envolvendo um amigo de adolescência.
Ouça a primeira parte da entrevista, cedida pela assessoria de comunicação do clube:
“Antes de falar da reunião [da véspera, que definiu o desligamento do jogador], é preciso que a gente coloque algumas coisas e fique muito claro isso. Um clube de futebol é uma empresa. Embora ela seja uma empresa privada, pertence aos torcedores. E qualquer um que tem uma empresa, você quer que seus funcionários cumpram todas as obrigações, enquanto você cumpre com as suas, também”, iniciou o comandante tricolor.
“No Bahia, isso tudo não pode ser diferente. Então, em respeito aos torcedores, em respeito à tradição desse clube octagenário, a todos aqueles que já vestiram essa camisa, temos que pensar que estamos representando uma nação”, destacou.
“O segundo ponto é dizer que ninguém ficou feliz aqui. O grupo de jogadores, desde que assumimos o risco da contratação, comprou a briga. Todos estavam muito empenhados em ajudar o ser humano. Como jogador, ele tem altíssima qualidade. Como ser humano, tem alguns problemas que precisam ser corrigidos. E todos estavam enpenhados. Todos. E, por diversas vezes, ajudaram, ajudaram muito”. A partir daí, foi explicando o caso.
Ouça a segunda parte da entrevista, cedida pela assessoria de comunicação do clube:
“Porém, ele não soube administrar o sucesso que vinha tendo. Algumas coisas foram acontecendo. Fora de campo, o relacionamento começou a se deteriorar um pouco e depois esse relacionamento começou a se deteriorar dentro de campo, e aí nós não tivemos outra opção senão tomar essa triste decisão. Particularmente, lamento profundamente não poder dar continuidade ao processo educacional que a gente vinha fazendo. Espero que ele tenha sido sacudido de novo, para saber aproveitar o seu talento para jogar futebol”, afirmou.
Apesar de negar ser um novo caso de drogas com o atleta, flagrado com cocaína no Brasileiro de 2009, René relatou um episódio pessoal para ilustrar a situação.
“Eu tinha um amigo na época de 16, 17 anos, o Celsinho. Éramos grande parceiros. O pai dele disse que ele estava envolvido com drogas. Briguei com ele, não quis ouvir. Lamentavelmente, dois dias depois, ele deu um tiro no ouvido. Tive a dor de saber que fui a última pessoa que ele procurou para receber alguma ajuda. Eu simplesmente joguei em cima dele toda a minha raiva e indignação por alguém que tinha caído num pecado, para mim… num deslize, numa fraqueza. E prometi que jamais isso aconteceria de novo comigo. Que eu sempre tentaria ajudar”.
“A dor do Celso eu vou levar pelo resto da vida. Agora, a do Jobson, não. Jobson eu só lamento. Mas dor eu não vou levar por qualquer coisa que aconteça com ele. Torço para que não aconteça absolutamente nada, mas nós tentamos tudo, a comissão técnica sempre esteve muito presente”. No próximo dia 5, o atacante conhecerá o resultado de seu julgamento pelo doping na Corte Arbitral do Esporte, sediada na Suíça, realizado no dia 21 de junho.
E René continuou.
“Seria muito legal se eu pudesse tirar 1.000 ml de maturidade e experiência e injetar nele. Com meus 58 anos, que já errei a beça, fui aprendendo, aí você fica maduro e vai ficando experiente pelo tempo. Mas algumas pessoas vivem muito, e não aprendem nada”.
“Incomodou. As pessoas se sentiram todas muito incomodadas com isso. E eu sou o responsável por administrá-las, então a gente não pode permitir que coisas aconteçam sem tomar decisões. As decisões eram tomadas, ele era punido, muito dinheiro foi tirado em multas aqui, depois houve o afastamento, mas aí chegamos a uma conclusão de que as coisas estavam caminhando para um momento muito difícil, e você não pode jogar todo um grupo de trabalho por causa de um jogador só, não importa quem ele seja”.
Em seguida, fez um desabafo.
“Vinha acontecendo em pequenas proporções [os episódios de indisciplina], mas acho que o fato de ele se tornar o jogador mais importante da equipe deu a sensação de que ele podia tudo, e ninguém pode tudo. Não importa a cadeira que você senta, o espaço que você ocupe, essa é uma mensagem que tem que ser deixada clara. Principalmente no nosso país”.
“Esse país é um país de maus exemplos. Nós temos um país em que as pessoas riem na frente das câmeras desmentindo as barbaridades que fazem principalmente com o povo, na educação, na saúde, em tantas coisas que fazem. E riem. Então, a gente tem que começar dando exemplo nisso aí, porque as pessoas não podem tudo, não. E a gente tem que se revoltar quando imaginam que podem tudo. Não podem, não! Senão, você deixa de ter uma sociedade equilibrada, harmônica, justa, igualitária. Senão, vai virar anarquia”.
Folha.com
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