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Um dilema hamletiano

Notícia
Historico
Publicada em 4 de junho de 2007 às 12:09 por Da Redação

Se um dos mais famosos personagens de Shakespeare fosse tricolor e, claro, vivesse nos dias atuais, certamente sua dúvida seria outra. Em vez da célebre questão existencial sobre ser ou não ser, Hamlet se perguntaria, em meio a mais uma crise do clube do coração: “Afinal de contas, Maracajá é, ou não é, o presidente de fato do Bahia?”

foto: Eduardo Martins/Ag A TardeJá se vão quase 13 anos desde que o cartola tomou posse no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), em 21 de junho de 1994. Mesmo assim, permanece como senso comum entre torcida e até diversos setores da imprensa ser ele o verdadeiro manda-chuva da nau azul, vermelha e branca.

“De jeito nenhum. Ajudo as gestões que querem ser ajudadas”, rebate, alegando não passar de um mero conselheiro do Esquadrão. Por que, então, sempre negar tal condição? A resposta é simples.

Segundo o artigo 22 da Lei Orgânica do TCM, promulgada em 6 de dezembro de 91, pelo então governador Antonio Carlos Magalhães (um dos responsáveis por lhe colocar lá), é proibido aos seus sete membros “exercer cargo técnico ou de direção de sociedade civil, associação ou fundação de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, sem remuneração”. Está no inciso II.

“FLAGRA” – Não foi à toa, portanto, que, ao se deparar casualmente com a equipe de ATEC, quinta-feira retrasada, saindo da sede administrativa do Fazendão, Maracajá antecipou-se a dizer que o carro no qual estava prestes a adentrar não era oficial. E não gostou nada de ser registrado no Centro de Treinamento tricolor. “Para que essas fotos todas?”. A mise-en-scène da situação chegou a fazer o profissional de A TARDE indagar se o dirigente preferia que as imagens fossem apagadas, no que recebeu o aval de permanecer com elas.

Há quem diga, inclusive, que o presidente de maior mandato na história do Bahia (15 anos, mais até que o lendário Osório Villas-Bôas) freqüenta diariamente as dependências do clube, no Alto de Itinga. Logo do primeiro jogador interpelado sobre o assunto, o atacante Moré, surge a confissão: “Ele tá lá todo dia pela manhã”.

“Vou diversas vezes ao Fazendão, não nego, não. Mas aí há um exagero”, refuta “Dr. Paulo”, como vira e mexe é citado em entrevistas de atletas recém-contratados e integrantes da comissão técnica. Em 2007, já aconteceu pelo menos com Preto, Nonato e Beijoca.

A justificativa é seu prestígio. “Naquele dia das fotos, por exemplo, Petrônio e Ruy Accioly convidaram Beijoca para ser auxiliar de Arturzinho. E como Beijoca foi jogador da minha geração de presidente, e eu tenho muita amizade com ele, me pediram para convencê-lo a aceitar”, diz.

MAIS – E quanto à ida justamente do senhor para tentar negociar as dívidas trabalhistas da dupla Ba-Vi, numa reunião no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), no ano passado? Pelo lado rubro-negro, compareceram um diretor financeiro e o advogado do clube.

“Eu soube que times de Minas e Pernambuco tinham feito acordos desse tipo, então aproveitei para comparecer. Moro no mesmo condomínio de Dr. Roberto Pessoa (presidente do TRT) e sou amigo dele. Fizemos o que a lei permitia”.

BIBLIOGRAFIA | William Shakespeare (1564-1616) é o escritor mais famoso de língua inglesa. Sua peça de teatro Hamlet, de 1600, é uma das mais conhecidas do mundo ocidental

FORA MARACAJÁ! | Foi o título de uma reportagem da revista Placar, em 1980, logo após o Bahia ficar de fora das finais do 1º turno do Estadual, o que não ocorria há 7 anos na época

FEUDAL | Na reportagem, Roque Mendes dizia que alternando habilidade com autoritarismo, Paulo Maracajá tinha transformado o clube num feudo. E que era comum ele ir aos proprietários de jornais pedir demissões daqueles que pegavam no seu pé

76 | foi o ano em que Maracajá teria imposto a barração do zagueiro Roberto Rebouças, porque este, também candidato a vereador, poderia lhe roubar muitos votos

78 | marcou o ano de sua campanha para deputado estadual pela Arena, quando obrigou o time a uma verdadeira peregrinação pelo interior

94 | foi o ano em que Maracajá se envolveu numa polêmica com o radialista Antonio Tillemont, que disse ser ele ainda o presidente de fato

RÉU | Outro cardeal tricolor que está sendo processado é o presidente Petrônio Barradas. O jornalista Nestor Mendes Jr. exige a prestação de contas de sua gestão

SEM DESCULPA | Segundo a oposição, o Bahia S/A é realmente auditado, mas o Esporte Clube Bahia não. A ação foi dada entrada na última terça-feira

Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta segunda-feira 04/06/2007 do suplemento A Tarde Esporte Clube

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