Volante diz que até pensou em fazer uma besteira

De repente, tudo silenciou. Em questão de segundos, as arquibancadas se transformaram em figuras sem forma, o chão desapareceu e o corpo desabou. Na mente, veio a lembrança imediata de uma sensação semelhante, experimentada nove meses antes. Assim Jair descreve a grave contusão sofrida no jogo contra o Vila Nova, anteontem, quando voltou a romper o ligamento cruzado anterior do joelho direito.

Numa artimanha do destino, o volante se machucou justamente na partida em que sentiu de novo o gosto de ser titular. A última vez havia sido no dia 24 de agosto do ano passado, contra o Atlético-MG, no Mineirão. Foi a partir dali que o problema começou a persegui-lo.

Sobre o lance da lesão, após uma dividida com o grandalhão Cláudio Luiz, o meia pouco recorda. “Não sei se o cara do Vila Nova me tocou, só lembro que senti a perna solta. O médico do Bahia ainda quis me tranqüilizar, mas sabia que era grave, pois a dor foi igual à da primeira contusão. É uma situação muito difícil”, lamentou.

No dia seguinte, Jair tentava manter a calma. Diz que precisa mostrar força, para não abalar ainda mais a mãe, que vive chorando por causa de seu drama. Filho caçula de uma humilde família de 17 irmãos, o volante itaparicano de 22 anos fala que depende do futebol, “pois ainda não tem nada na vida, só um carrinho, porque só pensava em jogar bola na ilha”.

Telefonemas solidários do goleiro Márcio e do zagueiro Accioly, hoje na Portuguesa, serviram de alento nesta quarta-feira. Mas a maior motivação para retornar logo aos campos tem só oito meses de vida. “Pensei até em fazer uma besteira, mas minha filha, Kayani, afasta pensamentos negativos. Ela e minha mulher dependem de mim. Por isso, tenho que voltar a jogar o mais rápido possível”, sonha ele, que tem contrato com o Bahia até 2007.

A Tarde (Adaptado)

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