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Exclusivo! Ronaldo Passos conta detalhes de seus tempos de Bahia

Notícia
Entrevista
Publicada em 24 de fevereiro de 2017 às 14:45 por Victor de Freitas

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Fonte: Arquivo Pessoal/Ronaldo Passos

Colaboração de Manoel Messias para o ecbahia.com

Ele nasceu em Salvador em 1959, chegou ao Bahia com 13 anos em 1972, ainda na categoria dente de leite e jogou no clube por 18 anos. Na época, residindo no Bairro da Ribeira de onde saiu para o Esquadrão, levado pelo seu irmão, Roberto Passos. Foi o primeiro goleiro das Regiões Norte/Nordeste a ser convocado para uma Seleção Brasileira. Estamos falando de, Ronaldo Vieira Passos, goleiro titular do Tricolor de Aço na final do Campeonato Brasileiro de 1988. 

Hoje, advogado em Salvador, Ronaldo concedeu uma entrevista exclusiva para o ecbahia.com. Ao portal, o ex-goleiro falou sobre os tempos em que atuava, fez ‘revelações bombásticas’ – inclusive sobre o antigo comandante Evaristo de Macedo, comentou sobre a titularidade de Jean no Bahia e revelou o motivo pelo qual o também goleiro, Sidmar abandonou o elenco em plena Quartas de final do Brasileiro de 88.

ecbahia.com: Onde nasceu e qual foi seu primeiro clube?

Ronaldo Passos: Nasci em Salvador no Bairro da Ribeira em 27 de Novembro de 1959, de onde saí para o Bahia e comecei em 1972 como Dente de Leite. O Bahia foi meu primeiro clube e fui levado pelo meu irmão, Roberto Passos. Fomos juntos eu, ele e mais alguns amigos da Ribeira. A maioria foi aprovado no teste e eu seguir minha carreira até 1990 quando fui para o Vitoria.

ecbahia.com: – O que era mais difícil para um goleiro naquela época?

RP: Naquela época, o mais difícil pra ser goleiro é que existia um tabu onde nenhum goleiro saído da base tinha sido titular do Bahia e eu consegui chegar à condição de titular do Bahia saindo das categorias de base, ganhando 14 títulos entre a base e profissionais. Isso foi um grande feito. O outro grande feito foi eu ter sido o primeiro goleiro das regiões Norte/Nordeste do Brasil a ser convocado para uma seleção de base e disputar o Campeonato Mundial sub-20, na França, onde ficamos em 3º lugar. O mais difícil daquela época era você chegar a ser profissional, porque as restrições eram muito grande e o clubes tinha o comportamento de sempre trazerem jogadores de fora.

ecbahia.com: Revendo a final de 1988 quando ainda se pegava bola recuadas por jogadores de linha, com as mãos, percebe-se que você gastava o tempo, segurava o jogo, mas hoje não se pode mais contar com este tipo de artifício. Teria dificuldade nos dias atuais ?

Ronaldo Passos: Eu tinha a percepção de fazer o jogo esfriar em relação aos resultados que tinham. Se a gente estava vencendo eu procurava esfriar o jogo e atenuar o ímpeto do adversário. Mas acho que não teria problema se atuasse hoje porque certamente passaria por adaptações.

ecbahia.com: Na maioria das vezes que o Bahia contratava novos goleiros, você quase sempre virava reserva. Sentia-se injustiçado com isso?

RP: Eu passei para o profissional com 15 anos, foi um tabu também que quebrei eu já era terceiro goleiro profissional do Bahia em 1976. Daí em diante, não voltei mais para a base. Só fazia jogar as partidas decisivas. Só aconteceu isso quando trouxeram o Rogério em 1986 e depois, por solicitação do Evaristo (de Macedo) para o presidente Paulo Maracajá, que queria mais um goleiro, mas na verdade ele não gostava muito do meu futebol. O Bahia tentou trazer o Tonho, mas eu indiquei para o Maracajá o Sidmar, que eu acompanhava nas categorias de base e ele trouxe ainda para o Estadual, onde nós fomos tricampeões, em 1988, quando eu era o capitão da equipe. Comecei o Campeonato Brasileiro daquela temporada como titular e só saí da equipe porque quebrei o dedo mínimo da mão direita no quinto jogo contra o Goiás lá no Serra Dourada.

ecbahia.com: Pereira, um ex-zagueiro de seu tempo, assim como Dico Maradona, deram a entender que tiveram dificuldades por não terem empresários na época. Você sentiu isto também?

RP: A questão de empresário eu nunca fui adepto porque eu sempre procurei estudar, tirei o segundo grau com 16 anos, fiz vestibular para medicina por três vezes e nunca parei de estudar até me formar em Direito, em 2008, quando consegui passar na OAB e hoje sou Advogado com muitos orgulho. (Para mim) A questão do empresário era irrelevante, porque o que valia mesmo era seu potencial como atleta.

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Fonte: Arquivo Pessoal/Ronaldo Passos

ecbahia.com: Quando Sidmar deixou o Bahia nas quartas de final, você assumiu o gol e fez defesas milagrosas, salvando o time em Porto Alegre, garantindo o título. Naquele dia, jogou para dar uma “resposta”?

RP: Sidmar não quis voltar para as quartas de final porque ele não admitia o método que Evaristo usava em relação aos atletas a nível de tentar menosprezar, tentar pisar no jogador. Ele (Evaristo de Macedo) tinha um comportamento muito áspero e por outro lado era um conhecedor profundo do futebol e isso a gente não pode negar. Foi um dos maiores técnicos que tive na minha vida. Afinal, eu joguei sim com o ímpeto de mostrar que ele estava errado, que eu tinha qualidade e bati mais um recorde, sendo o único goleiro na historia da Revista Placar a tirar uma nota 10 numa partida. Foi uma partida irretocável. Eu tenho auto-critica que foi a maior partida que fiz na minha vida e culminou com a ajuda da minha atuação, no titulo inédito e inesquecível e imortal que é o bicampeonato Brasileiro de 1988.

ecbahia.com: Quem você via como um grande goleiro na sua época?

RP: O grande goleiro daquela época na minha opinião era o Emerson Leão. Ele era um goleiro fantástico, tanto que foi o 3º goleiro na Copa de 1970, com 19 anos e foi titular até 78 da Seleção Brasileira. Um goleiro fantástico, independente do seu gênio, da sua natureza, ousadia, irreverencia… mas era um goleiro fantástico.

ecbahia.com: Se for garimpar os goleiros criados no Bahia e que ganharam destaque nacional, encontramos apenas você, Jean e Márcio. Não é pouco para quem sempre investiu e trabalhou com divisões de base, Ronaldo ?

RP: Goleiro tem que ser feito em casa. Não é admissível que um time de Série A não tenha uma categoria de base capaz de formar um grande goleiro. Realmente os últimos foram, Jean, Marcio e eu, mas teve também o Roberto Baía. O Ricardo Dantas e Chiquinho tiveram poucas oportunidades, porque eu passei muito tempo no clube. Sou o jogador que mais tempo ficou no clube. Eu consegui ficar 18 anos no clube com muito orgulho e acho que nenhum atleta de 1931 pra cá, quando foi fundado, conseguiu ficar por tanto tempo.

ecbahia.com: Como você analisa essa desconfiança de parte da torcida do Bahia com o goleiro Jeanzinho?

RP: Quanto a questão do Jeanzinho, eu acho que ele tem um potencial muito bom, tem um pouco das características do pai, mas ainda não está preparado para ser titular do Bahia. Por questão de ainda não ter absorvido primeiro o equilíbrio emocional necessário pra ser goleiro de time grande. Segundo, todo jogador tem que ter dentro dele um senso de definição de jogada, em relação a goleiro momento de sair do gol, momento de ficar, momento de fazer 1, 2 na jogada, momento de segurar a bola firme, momento de fazer o atacante pensar ou esperar a reação do atacante… Isso se dá também com qualquer jogador normal de linha. O jogador de linha precisa ter o discernimento de saber o memento de driblar, o momento de chutar e o momento de passar. E quantos jogadores não definem isso ao longo de suas carreiras?

ecbahia.com: Um dos períodos mais difíceis do clube foi a intervenção Judicial, em 2013. Como você viu todo aquele processo, Ronaldo?

RP: Eu vi da seguinte forma: acho que ninguém é dono de clube nenhum. E o Bahia precisava passar por essa reforma político-administrativa de uma forma menos traumática, mas passou através de uma intervenção. E hoje o clube está aberto para os torcedores elegerem seus dirigentes. O Bahia acho que é pioneiro e, se não me engano, é o estatuto mais amplo que tem no futebol Brasileiro. E isto é bom para um clube de massa, como o Bahia. Agora eu achava que deveria ter alguns filtros. Qualquer um não poderia se candidatar, teria de ter alguns critérios de formação intelectual, de história no clube, algumas coisas do tipo. Mas o Bahia está aberto.

ecbahia.com: Ronaldo pensa um dia ser presidente do Bahia?

RP: Na vida nada é estático, mas no momento não penso nisso não. Talvez no futuro, não sei… Depois que o futebol ficar mais organizado, mais sério.. quem sabe?

Ronaldo Vieira Passos, além do Bahia, também teve passagens como goleiro no Vitoria, onde encerrou sua carreira nas quatro linhas. Com a camisa tricolor, o ex-arqueiro chegou à final do Brasileiro e sagrou-se campeão. No rival, foi vice-campeão em 1993. Atualmente possui 57 anos.

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