A primeira competição oficial do Bahia em 2015 será o Campeonato Baiano. Muitos torcedores dizem que vencer o estadual é obrigação, principalmente pelo fato de só haver um rival de verdade na competição – aquele pobre-diabo que há 84 anos vive do que cai de nosso prato.
O primeiro estadual do qual me lembro foi o de 1990, quando conquistamos o título sobre o Fluminense de Feira. Naquele último ano da década de 80, o Bahia manteve sua hegemonia regional, mas, já no ano seguinte, deixa evidente que começava a perder sua força. O bonde da história estava de partida e os eternos achavam que dava pra parar o bicho no grito ou na carteirada.
Curiosamente, os campeonatos estaduais começaram a perder relevância a partir da década de noventa. Os maiores clubes do país passaram a dar maior importância às competições internacionais, surgira um novo torneio nacional há pouco tempo Copa do Brasil e a popularização da TV empurrou goela abaixo do país apenas os jogos dos estaduais do Rio e de São Paulo. Times tradicionais do Norte e Nordeste foram perdendo ainda mais torcedores para os enlatados sudestinos. Com tantas opções, novas, modernas, mais atraentes, a morte dos estaduais era uma questão de tempo.
Para piorar a coisa, a partir de 2003 o Brasileiro passa a ser disputado em turno e returno, 46 rodadas que achataram os estaduais e o que era fraco, velho e desinteressante já podia cair na vala do esquecimento. Mas, tal qual Jason, forças sobrenaturais insistem em manter os mortos-vivos atrapalhando os clubes grandes e sustentando federações parasitas e centenas de clubes amadores.
Quatro parágrafos já se passaram e ainda não justifiquei o título dessas mal-traçadas linhas. Ora, não haveria pessoa melhor a comparar com os estaduais do que dona Maria Odete Brito de Miranda, mãe, cantora, dançarina e ex-atriz de filmes de ozadia. Seu auge esteve nas décadas de 70 e 80. Fama, dinheiro, multidões lotando estádios para ver seus espetáculos.
Mas, a partir dos anos 90, sua decadência começou a ficar visível. Não bastasse o surgimento de outras moçoilas com talentos maiores que o seu, a crueldade do tempo deixava evidente que a Conga la Conga perdera espaço para a lambada e depois pro Gera Samba e suas coreografias ginecológicas.
Para não ficar para trás, tia Odete tornou-se uma criatura caricata, cheia de cirurgias plásticas, cicatrizes e outras marcas que mais parecem um remendo. Ainda recorreu aos filmes adultos como última tentativa de se manter em evidência, entretanto era óbvio para todos que a sua época já passou há tempos.
Assim como os estaduais alimentam uma estrutura viciada e parasita, existe um sub-mundo de entretenimento que sobrevive dando espaço para artistas decadentes, celebridades subterrâneas e seu universo de bizarrices e inutilidades.
Ao invés de reconhecer que já não tem a beleza, o vigor e atratividade de vinte, trinta anos atrás, essa pobre criatura insiste em aparecer, atazanando a vida de quem prefere ver atrações mais bonitas, arrumadas, modernas, que despertem novas emoções que não só a repulsa, pena e saudades do passado.
Mas, ainda assim, há os corajosos, quem consomem qualquer coisa que se refira a essa peça de museu. Notícias em jornais e internet, fotos, programas de TV. Também existem os que ainda vêem nela um alvo cobiçado, objeto de conquista, como se ainda estivesse congelado nos tempos do Landau e do Mavecão.
Desculpem-me aqueles que viveram intensamente os anos 70 e 80 – tenho sincera inveja de vocês por isso -, entretanto, cresci com outros referenciais. Para mim, estadual é como brigar com bêbado. Não consigo ver atratividade numa competição amadora que só serve para cansar o time, endividar o clube e encher as burras da FBF. Dona Maria Odete está a anos-luz daquilo que se pode chamar de atraente.
Por um futebol com menos Gretchens e mais Alines Rosa ou Cláudias Leitte.
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