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Publicada em 24 de agosto de 2010 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

A gente não fez nada

Dessa vez, a coluna vem em um formato diferente e será apenas uma reflexão sobre tudo o que vi e sobre o que não fiz nesses trinta e três anos de vida. Não vi muita coisa, mas vi que outros disseram que viram, desde tempos remotos. Portanto, na verdade, a coluna é muito mais sobre tudo o que sei que vi e que viram, e sobre tudo o que não fizeram, muito mais sobre o que fizeram, apesar de que o que não foi feito, foi reação ao que foi.

Sei que viram trazerem seres-humanos contra a própria vontade, como escravos, arrastados, acorrentados e humilhados, em porões imundos de navios imundos. Muitos – gente demais – viram pais, mães, filhos e filhas serem torturados em praça pública. Pais viram seus filhos estuprarem filhas de escravos impunemente e ocuparem postos relevantes da sociedade.

Alguém me contou que depois de mais de trezentos anos os tataranetos dos homens e mulheres que vieram nos porões dos navios foram libertos, numa liberdade que era pior que a prisão. Libertos estavam os tataranetos dos homens e mulheres que foram estuprados e torturados. Libertos, mas ainda presos às regras de uma elite que os tratava como mais próximos aos chimpanzés que a si mesmos.

Sei que viram os donos dessa terra serem despojados, sem dó nem piedade, e depois serem exterminados, como baratas que não fazem nenhuma falta a um ambiente sadio. As filhas dessas baratas também foram estupradas e os pais dos estupradores eram comandantes da sociedade. Viu-se muita coisa nesses dias.

A Bahia também viu homens de honra e valor erguerem-se pela liberdade, igualdade e fraternidade. Minas Gerais viu um dentista fazer o mesmo. O Brasil viu todos eles serem traídos por brasileiros. Também sei que viram enforcarem os mártires de nossa Bahia na praça da Piedade – que ironia – e os cariocas viram os restos mortais do dentista espalhados pela cidade maravilhosa.

Meus pais viram um regime de exceção torturar, matar e estuprar em porões. Os pais de meus amigos viram os estupradores ocuparem cargos relevantes na sociedade. Os pais dos que não conheço, viram jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão apoiarem o regime que seqüestrava, matava e torturava nos porões.

Hoje, eu vejo os mesmos jornais, revistas e emissoras de TV se dizerem vítimas e combatentes do regime do qual se beneficiaram.

Alguém já disse que viu juiz de direito vender sentença e policiais protegerem criminosos. Também já disseram que viram político pagar pra jornalista não denunciar e jornalista esconder denúncias por dinheiro.

Hoje eu vejo dizerem que viram político roubar, mentir, enrolar e praticar todo tipo de crime e já se viu prefeito e governador perseguirem camelô, barraquinha e banca de revistas na capital do desemprego.

Ontem, eu vi a prefeitura derrubar as barracas de nossas praias, exterminado assim um pedaço de nossa cultura, diferencial da nossa velha e cansada capital do desemprego, como se exterminam as baratas, assim como faziam os que despojaram e estupravam os donos originais dessa terra que é de ninguém e como fizeram os que falsamente libertaram os tataranetos dos homens e mulheres que vieram nos imundos porões de imundos navios.

Também sei que todos nós vemos um grupo destruir o Bahia ano após ano, dia após dia, assim como os que vieram nos porões dos navios eram mortos, sob tortura e aos poucos, para aumentar o sofrimento.

Eu vi, você viu, nós todos vimos tudo isso e como nossos pais, da mesma forma que os pais de nosso pais, não fizemos nada. Nada mesmo. Aqueles que fizeram ontem, morreram impunes e incólumes, em seus ricos leitos. Os que fazem hoje, são autoridades.

É nossa sina continuar vendo tudo o que é feito, sem nada fazer. Eles fazem, nós vemos e não fazemos.

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