“Ba-vi na final: vai (re)começar o circo da FBF?”, por Dimitri Tavares

Por Dimitri Tavares, sócio patrimonial do Esporte Clube Bahia

Após o susto na partida de ida da fase semifinal, o Bahia conseguiu garantir sua vaga na decisão do título, ao golear o Jacuipense por 5×0 no estádio Joia da Princesa. Na final, o Tricolor de Aço enfrentará seu tradicional rival, o Vitória, que atropelou o Atlético de Alagoinhas no outro confronto da semifinal. 

A priori, o Bahia deveria ser considerado favorito ao título no confronto contra seu rival, por ter um elenco superior e investimentos mais vultosos. Mas a arbitragem da FBF pode ser um importante fator a equilibrar a balança do favoritismo.  

Bastaria lembrar do ano passado: em três Bavis com arbitragem da FBF, o Vitória ganhou dois e um terminou empatado; em três Bavis com arbitragem de fora do estado, o Bahia ganhou dois e um terminou empatado. Mas resolvi ir além e fiz um minucioso levantamento de todos os quinze confrontos de mata-mata ocorridos entre Bahia e Vitória, ao longo do presente século, no qual constatei uma correlação estarrecedora: nos oito confrontos que contaram com trios de arbitragem totalmente de fora do estado, o Bahia levou a melhor na maioria (cinco vezes, contra três do Vitória); por outro lado, nos sete confrontos que contaram com participação total ou parcial de membros da FBF nos trios de arbitragem, o Vitória levou a melhor em TODOS!

Segue levantamento detalhado de quem teve êxito nos Bavis de mata-mata deste século, em cada contexto:

Com trios de arbitragem totalmente de fora do estado

Bahia: 2002 (N), 2012 (B), 2014 (B), 2017 (N), 2018 (B) (cinco êxitos)
Vitória: 2011 (B), 2013 (B), 2016 (B) (três êxitos)

Com trios de arbitragem total ou parcialmente da FBF

Bahia: nenhum êxito
Vitória: 2004 (B), 2005 (B), 2006 (B), 2009 (B), 2010 (B), 2017 (B), 2024 (B) (sete êxitos)

Obs. 1: Com (B), confrontos pelo Campeonato Baiano; com (N), confrontos pela Copa do Nordeste.

Obs. 2: As fontes das informações sobre a arbitragem a cada ano seguem ao final do texto.

Um breve parêntese: 2001, o ano que iniciou o presente século, foi também, coincidentemente, o primeiro ano da presidência do torcedor do Vitória Ednaldo Rodrigues na FBF, que se estendeu até 2018, ao menos oficialmente. Duas matérias publicadas em A Tarde no mês passado dão conta de que a FBF seguiria sendo um feudo do rubro-negro Ednaldo, que continuaria dando as cartas por lá:

No último 31/01, publiquei uma coluna neste site (“No circo da FBF, o Bahia e sua torcida são os palhaços“), apontando o longo histórico de erros da arbitragem baiana em Bavis, invariavelmente a favor do Vitória e em prejuízo ao Bahia, e critiquei a inação institucional do Bahia, diante da insistência da FBF em continuar escalando seus próprios árbitros nos clássicos. Apenas dois dias depois da publicação daquela minha coluna, foi disputado o clássico da primeira fase do estadual deste ano na Fonte Nova, com nova atuação desastrosa do árbitro Bruno Vasconcelos – em prejuízo do Bahia, é claro, como sói acontecer -, ratificando a incapacidade da arbitragem da FBF para apitar Bavis. 

Diante 1) do expressivo histórico de erros da arbitragem baiana – invariavelmente contra o Bahia – em Bavis, 2) do retrospecto – 100% favorável ao Vitória – dos confrontos de mata-mata entre Bahia e Vitória com arbitragem baiana, neste século (em absurdo contraste com o retrospecto dos confrontos de mata-mata entre os mesmos clubes com arbitragem totalmente de fora do estado, no mesmo período), e 3) da atuação da arbitragem baiana em Bavis desde o ano passado (mais uma vez, em contraste com os disputados com arbitragem de fora), o Bahia não pode aceitar de bom grado mais uma final entre Bahia e Vitória com arbitragem baiana!

É imperativo que o Bahia, tanto a SAF quanto a Associação (que existe para defender os interesses do torcedor tricolor), rechace o papel de palhaço no circo da FBF e exija publicamente arbitragem totalmente de fora do estado nos dois Bavis decisivos do Campeonato Baiano, antes da realização do “sorteio”. E se a FBF, não obstante os apelos e todo o histórico problemático, insistir em escalar sua própria arbitragem, cabe ao Bahia, SAF e Associação, manifestar publicamente seus receios antes das partidas (chorar sobre o leite derramado não adianta nada!), bem como pensar seriamente em boicotar o deficitário Campeonato Baiano, a partir de 2026. 

A aceitação pacífica do Bahia à arbitragem baiana resultará em tragédia anunciada: jogadores do Vitória podendo bater, dar empurrões e cotoveladas na cara à vontade (que o diga Rodrigo Andrade); jogadores do Bahia pisando em ovos para não ser expulsos (que o digam Rezende e Jean Lucas); pênalti para o Bahia só em caso de homicídio, e olhe lá (que o diga Ademir); quiçá o árbitro fazendo gesto de comemoração logo após o oitavo êxito rubro-negro em oito Bavis decisivos neste século (que o diga Emerson Ricardo), entre outros escárnios. Não precisa ser vidente para vislumbrar isso, basta olhar para o (ano) passado.