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Publicada em 7 de junho de 2012 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Carta aberta a Falcão

Falcão, sei que você vai ler esse texto. Prometo caprichar.

Você tá careca de saber (e tá mesmo!) o quanto eu admiro sua postura em buscar novas coisas na sua vida. Estava muito cômodo ser um comentarista da grande rede nacional. Ótimo salário, visibilidade, viagens, amigos por perto e prestígio. Mas você saiu da zona de conforto, algo te inquietava. Você tinha saudade daquela adrenalina boa, que te fazia querer melhorar e estar em campo jogando com a elegância de sempre.

Você sabe o que pensava a seu respeito como comentarista, fiz questão de te dizer. E também sabe o quanto saí apaixonada (futebolisticamente falando) depois daquele maravilhoso bate-papo. Admirei seu conhecimento e seus ideais como treinador. Levei fé e quis que houvesse no Brasil mais gente como você. E como foi bom ver seu trabalho no Inter! Reconheci, em cada ação sua, a intenção correspondente em relação ao projeto que você havia apresentado. Sabemos, ambos, o que verdadeiramente fez você sair dali, o que não implica em nenhum demérito ao trabalho que você realizou enquanto possível, pelo contrário.

Quando soube que você estava sendo contratado pelo Bahia, fiquei muito feliz. Via um grupo carente de treinamento e técnica. Sabia que você poderia acrescentar muito ao plantel. E seu trabalho começou magistral, animador para quem o conhecia e intrigante (e até mesmo desconfiado) para quem por muito tempo foi acostumado à tentativa do mais-do-mesmo.

O Esquadrão, em suas mãos, jogando ofensivamente, valorizando a posse de bola e não recuando nem com vantagem garantida no placar. Lindo! Mas a primeira derrota aconteceu, vieram críticas injustas e pesadas e você, simplesmente, recuou! Passou pouco a pouco, a abrir mão das suas próprias convicções e buscou, nos famigerados recursos do lugar-comum, afirmar-se através de resultados. Somamos a isso desfalques, DM e a gritante limitação técnica de alguns jogadores, tudo ficou mais difícil.

O Campeonato Baiano até veio (ótimo para uma torcida que o aguardava por 10 anos), mas com absolutamente nenhuma garantia para um mercado onde o treinador precisa comprovar sua eficiência, em termos de resultados, a cada novo jogo. As barreiras começaram a aparecer, as deficiências foram sendo desfraldadas e a projeção da continuidade, se algo não for feito, não é nada promissora.

Por isso, fica o apelo de alguém que sabe o quanto você sabe. De alguém que enxerga no casamento Falcão-Bahia uma relação extremamente profícua à médio e longo prazo, se o inevitável desgaste do momento que se atravessa for minimizado em vista de uma revisão de posicionamentos e uma clara redeclaração de intenções, ainda que sem palavras, de ambos os lados.

Não recue! Tenha coragem pra fazer o que você acha certo, para implementar sua filosofia. Você nunca foi adepto da retranca. Cadê suas duas linhas de 4? Onde está aquele estilo que deu tão certo no começo do ano? Que nos encantou? Volta a fita (ou o dvd) e faça aquilo de novo! Até quando veremos essa atual marcação atrás da linha da bola?

O grupo é limitado, sabemos. Essa é a verdade. Doída, mas real. Souza faz uma falta, né? Lulinha não tá servindo nem pra time de várzea. Zé Roberto não é sombra do que poderia ser (já com os devidos descontos) e Gabriel, um menino com tanto talento, está sendo sacrificado nisso tudo.

Tá mais do que claro que nao vai dar certo implantar uma filosofia barcelonística no Bahia. Não existe em muitos o talento pra isso. Com esses jogadores no time isso nunca vai dar certo! Mude o esquema, fixe um (parece que no momento nada é assimilado por aquelas cabecinhas! Faça o basicão, feijão-com-arroz-e-raça! Só não deixe de ser Falcão.

Outra coisa: sei que você protege seu grupo, o que é louvável. Mas não se pode deixar de analisar (ou ao menos externar) o jogo de maneira realista. Você pode fazer isso sem martelar o grupo. Do contrário, fica a impressão de que tudo vai muito bem, quando é evidente que não. Às vezes acho que você viu um jogo completamente diferente que eu.

E, neste casamento, nesta necessária renovação de votos de ambos os lados, só resta um papel para a diretoria, justamente para evitarmos o papelão de termos de brigar para não cair. Contratações, cadê vocês?

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