é goleada tricolor na internet
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Publicada em 15 de agosto de 2006 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Crônica Aguda

Tenho ocupado de maneira bastante infreqüente e bissexta este espaço que me é tão gentilmente cedido. É bem possível que os internautas que acessam o ecbahia.com.br não estejam perdendo grande coisa, mas, em respeito a eles, geralmente procuro dar um conteúdo razoavelmente decente ao que escrevo, extrapolando às vezes o campo meramente futebolístico para tentar enriquecer o nível desse tipo de manifestação cultural. Não é bem o que vou fazer hoje. Vou me ater especificamente ao futebol. Vou falar a linguagem de torcedor e de torcedor apaixonado – por isso mesmo, assumidamente parcial.

Tou retado! Desde o final do jogo contra o Treze que estou ouvindo, em tudo quanto é veículo de comunicação, os mais variados pareceres sobre a marcação de dois pênaltis contra o Bahia, sobre a expulsão do zagueiro Josemar – envolvido em ambos os lances polêmicos -, e sobre o “choro” do técnico Charles Fabian em relação à arbitragem.

Um espírito de má vontade parece ter-se erguido contra o Bahia na crônica esportiva, desde o jogo contra o Colo-Colo, quando o Bahia ganhou com dois coincidentes gols de pênalti amplamente contestados. Houve um clamor quase histérico à época, advogando um pretenso roubo do árbitro Aristeu das Mercês contra o Colo-Colo (Campeão Baiano deste ano), que diziam se dar em função desse último ser um time modesto, do interior, blá, blá, blá. Vejamos os dois lances que suscitaram toda a série de reações uterinas:

1 – a bola sobra para Sorato, próximo ao gol; quando se prepara para dominá-la, um zagueiro do Colo-Colo, inadvertidamente, pisa no calcanhar do atacante derrubando-o na área. Houve intenção? Muito provavelmente não. Houve imprevidência do zagueiro? Certamente que sim. E o que diz a regra? Que a falta só existe quando há intenção? Não. Então cabe ao árbitro julgar se houve imprevidência ou força excessiva e marcar o pênalti. Lance semelhante ocorreu no último BaVi na Fonte, quando o goleiro Emerson foi imprevidente, derrubou Paulo César e o juiz não marcou nada.

2- bola lançada para Paulo César que dispara em direção à área. Recebe falta por trás do zagueiro e cai bem dentro da área. Juiz dirige-se ao local da falta e conclui que a mesma foi dentro da área. Repetições intermináveis do lance deixam dúvida quanto ao real local da falta: se dentro ou fora da área; se começou fora e se continuou até a área (ou até a linha da área, que é parte da mesma) ou se começou e terminou fora da área. Um lance similar ao acontecido com o atacante Luisão da Seleção Brasileira contra a Turquia na Copa de 2002. Difícil de esclarecer mesmo com replays e imagem congelada, mas mesmo assim o árbitro foi crucificado sumariamente.

Parte da crônica esportiva influente, no afã de mostrar isenção e aparecer bem na foto em defesa do aparentemente mais fraco na história, exagerou na acidez das acusações e ilações de que havia um “esquema” para beneficiar o Bahia, até o ponto de quase colocar em risco a integridade do time e dos torcedores do Bahia que se dirigiriam a Ilhéus no domingo seguinte para o jogo de volta, sem falar na pressão terrível que recairia sobre o árbitro desse segundo jogo. Felizmente a população de Ilhéus mostrou um nível de civilidade e equilíbrio bem elevados, ao contrário do demonstrado pelos cronistas da capital, e o jogo transcorreu sem incidentes, mesmo terminando com o time da casa derrotado em campo e com dois jogadores expulsos. A carnificina previsível não ocorreu, afortunadamente.

Agora vejamos os dois pênaltis marcados contra o Bahia e a favor do Treze :

1 – meio de campo do Bahia perde a bola em sua intermediária (como sempre), marca mal o armador adversário (nosso meio de campo tem muitos volantes e poucos marcadores) e este pára, pensa, ajeita e lança a bola na área para um atacante marcado mano-a-mano pelo zagueiro Josemar. Este acompanha o deslocamento do atacante com o seu corpo colado ao mesmo (lembrem-se que futebol é um jogo de contato físico e que o corpo-a-corpo é amplamente permitido – só lembramos disso quando vemos arbitragens européias ou na Copa do Mundo). Há uma disputa de braços entre ambos e o atacante ao receber a bola toca-a com a mão ao tempo em que se atira ao chão. O juiz, em vez de marcar toque de mão do atacante, opta por marcar pênalti e dá cartão amarelo a Josemar.

2 – cobrança de escanteio pela esquerda para o Treze; a defesa mal posicionada falha e a bola é cabeceada em direção a um jogador quase na pequena área pela esquerda, o qual toca em direção ao jogador Adelino, que está pela direita da pequena área. O zagueiro Josemar estica o pé para interceptar a bola antes que ela alcance Adelino. O atacante do Treze faz movimento de chute com a perna esquerda, atinge a parte posterior da perna de Josemar, sua perna naturalmente tem a trajetória desviada e ele não consegue atingir a bola: fura e cai ao chão. A bola sobra com o goleiro e o juiz, em vez de deixar o jogo prosseguir ou (se fosse muito exigente) marcar falta do atacante Adelino sobre o zagueiro (pontapé na panturrilha ou no tornozelo), dá pênalti a favor do Treze e o segundo cartão a Josemar, expulsando-o de campo.

Claro que essa descrição com riqueza de pormenores só me foi possível depois de ter visto e revisto os lances. Infelizmente as imagens são de apenas um único ângulo (diferentemente do que vimos na Copa ou do que estamos acostumados a ver em jogos de divisões mais valorizadas). Por tudo isso, não posso culpar o juiz nem chamá-lo de ladrão, de 12º jogador do Treze, de venal, etc. Claro que a gente sabe que ele não marcaria tão resolutamente esses pênaltis se o jogo fosse na Fonte Nova. Mas lances que só podem ser clarificados depois de assistidos 10 vezes ou mais já são suficientes para poupar o réu da guilhotina.

O que não se justifica em nenhuma hipótese é que cronistas, que vivem desse negócio chamado futebol, se coloquem em posição de fácil aceitação dessas marcações equivocadas e continuem achando que os pênaltis foram claros! Tenham santa paciência! A crônica esportiva também caiu para a Terceira Divisão.

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