Diz um ditado, muito do certo, que se você quer encontrar mais de um jornalista em qualquer parte da cidade deve procurar na redação de um grande jornal ou na primeira bodega copo sujo que transponha à noite.
Há quem discorde da vocação etílica da profissão, embora não seja bem essa a discussão em tela. O Esporte Clube Bahia, vanguarda que se gaba de ser, tem acrescido nova possibilidade ao zombeteiro adágio.
O presidente recém-eleito Marcelo SantAna, 33, jornalista de formação, tem recrutado outros de seus pares para compor sua gestão profissional. Uma de suas primeiras medidas na sua principiante administração foi contratar o também jornalista Éder Ferrari, 32, para tocar a gerência de futebol — função responsável pela interlocução entre atletas e o comando técnico.
O também jornalista Nelson Barros, 30, ao que tudo indica, deve ser mantido na gerência de comunicação. Ele foi trazido ao clube pelas mãos do ex-presidente Fernando Schmidt, que deixou o cargo em dezembro último carregando a chaga do rebaixamento em 2014.
A notícia mais nova que se move nos bastidores é a contratação de Darino Sena, 33, comentarista esportivo da TV Bahia, afiliada da Rede Globo. Darino, especula-se, ocuparia uma posição na diretoria de mercado, que engloba marketing, contrato e áreas afins.
SantAna confirmou, sim, que sondou seu antigo colega (e amigo) de Rede Bahia, embora negue que já tenha formalizado o convite.
Darino, por sua vez, segredou a indicação a algumas pessoas próximas desde que foi requisitado pelo presidente. No clube, extraoficialmente, o acerto é dado como favas contadas.
SantAna, Darino, Nelson e Éder são jornalistas de mesma faixa etária e que militaram juntos na cobertura esportiva. Noves fora julgamento por competência nas novas funções, a reunião deles traz um indicativo imediato, ao passo que abre espaço para outro de maledicente teor.
O de deletério efeito seria que o presidente estaria empregando amigos e compadres na sua gestão, algo que tem sido ventilado aqui e acolá entre redes sociais e buchichos afora. Prefiro dar um voto de confiança a acreditar nesta precipitada conclusão.
Mas há um outro indicativo mais concreto e menos venenoso. SantAna tem demonstrado dificuldades em preencher as vagas na formação da sua diretoria. Tanto que os anúncios têm sido a granel e, quebrando o protocolo da posse, nomeou apenas um diretor quando foi diplomado para o cargo.
Dito de outra forma, médicos tem amigos médicos. Advogados tem amigos advogados. Professores, engenheiros, pedreiros, leiteiros e carteiros idem. E jornalistas também. Quando se partilha dos mesmos símbolos, dos mesmos códigos se forma o propalado campo social, expressão cunhada pelo sociólogo Pierre Bordieu (1930-2002).
Por exemplo, eu consigo listar 100 jornalistas que conheço. Mas tenho dificuldades de lembrar de dez arquitetos ou oito farmacêuticos, ou quatro agronômos, três arqueólogos, dois teólogos ou mesmo um sequer gerontólogo que seja.
SantAna, que entrou agora na administração do futebol, tem tido dificuldades de encontrar nomes disponíveis no mercado. Seu campo social ainda é muito atrelado ao jornalismo, profissão que exerceu por dez anos. Suas cartas na manga são seus antigos pares. Isso há de mudar, clama-se, quando passar a adentrar o mundo esportivo por mais tempo.
Diante as últimas indicações, os mais ácidos têm chamado o clube de EC Bahia Press, em referência a uma fictícia redação que estaria sendo montada pelos cantos de Itinga. Brincam que o time pode até ir mal durante a temporada, mas as notícias no site não terão um erro de português que seja.
Sem dúvidas, quando o torcedor clamou por boas notícias do Tricolor em 2015 não tinha no horizonte a contratação de tantos jornalistas.
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