Eu acredito em você, Jean

Que não se sacrifique o jovem Jean. Grandes goleiros da história do futebol mundial já tomaram gols entre as pernas – esse é o autêntico frango, de outra forma é falha, mas se for de outra forma dirão do mesmo jeito que é frango sem se importar com o ser humano – e seguiram suas carreiras sem maiores problemas, porque isso faz parte do futebol, é do jogo, é do folclore que torna esse futebol cheio de magia, assim como é do jogo se perder um gol “feito” como se diz popularmente.

— Jean é um garoto promissor, cheio sonhos e amor pelo que faz, tem raízes fortíssimas no Bahia que precisam ser respeitadas. Mas se não querem respeitar o jogador, respeitem o ser humano. Doeu em mim o sarcasmo daqueles que buscaram audiência em cima da infelicidade do menino Jean.

Importante é que seus companheiros, comissão técnica e diretoria o apoiem mostrando-lhe a sua importância por méritos técnicos e não por proteção ou dó – coisa que em futebol profissional não existe e, se existir, não é profissionalismo – de quem quer que seja.

Aconteceu numa partida importante por ser decisão valendo o título do melhor campeonato do Brasil – pelo menos, em bilheteria e festa –, tudo bem, mas nem por isso tem de se crucificar o jovem goleiro, pois, a sua postura, aos 19 anos de idade, já é a de um veterano, posto que não é fácil jogar num clube de massa como é o Bahia e muito menos enfrentar um estádio – psicologicamente – com 42 mil pessoas, jogando numa posição dificílima, como goleiro.

Se alguma crítica tem de ser feita, construtivamente, essa é a quem o treina e o ensina fundamentos. Por exemplo, um goleiro ao se abaixar para uma defesa como aquela tem de juntar os joelhos, isso é bê-á-bá da posição, mas ocorreu ali um excesso de confiança por parte do Jean e a bola o ensinou como a posição de um goleiro deve ser tratada. Isto é, com cuidados extremos e alta concentração. Nada ali tem de ser raciocinado como “essa tá fácil”.

Erga a cabeça, Jean, treine exaustivamente com bola, seja o último a sair dos treinos e capriche piamente no mais simples fundamento da sua posição, valorize-o no mesmo patamar dos mais difíceis porque quanto mais treino, mais perto da perfeição você chega. Confie na sua idade e vislumbre o longe com a consciência de saber que jamais chegará na linha horizontal que limita os nossos olhos. Antes de chegar à linha imaginária desse horizonte, está o aprendizado sempre incompleto e interminável, por falta de tempo.

Ouça seus companheiros com humildade, o amadurecimento está na sabedoria do jovem que sabe ouvir, mas tente se aproximar desse amadurecimento com esmero mental e ouvidos sensíveis aos que convivem no ambiente de trabalho com você.

Não olhe redes sociais até que esse jogo que começou na quarta feira, 22, termine na próxima semana. Não dê ouvidos às criticas que não constroem, o que não falta é boca afeita a falar o que não sabe porque nunca praticou o que critica. Mas você sabe o quanto é difícil o chamado “último reduto” de um time em campo e deve se conscientizar ao máximo disso. Os críticos talvez não saibam, em sua maioria, quanto sacrifício é exigido de um goleiro nos treinamentos. Vá para o campo com a consciência daqueles que querem alcançar objetivos, trabalhando muito, porque o trabalho é o seu avalista e a sua segurança.

– “Ora, eu digo; uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! E nenhuma pessoa adulta jamais compreenderá que isto tenha tanta importância”

Torço muito pelo seu sucesso, embora não o conheça pessoalmente, mas você é egresso da Base e eu sou um defensor ardente dessa moçada “nascida” na fábrica tricolor. Se um conselho você me permite, faça do ontem infeliz seu começo de carreira e aproveite a lição porque nada acontece por acaso. Potencialmente, Bahia e o Brasil terá o melhor goleiro dos últimos tempos, e é assim que você deve pensar. Eu acredito em você, Jean.