O purgatório é o intervalo. O meio do caminho entre o que se pretende ser e o que, efetivamente, vai se tornar. A gestão do Bahia vive o drama deste hiato. Ao presidente recai, amiúde, um peso que ele tomou para si. E por vezes mostra incômodo por ter se aferrado a um conceito que — translúcido agora — não lhe parece vestir bem.
Motivado pelos últimos acontecimentos, a mim está claro que Marcelo Sant´Ana NÃO é um gestor MODERNO, como se autopropagandeou nas últimas eleições. É jovem. Mas não moderno. Cabe aqui esclarecer que não ser vanguardista não faz dele automaticamente um mau presidente. Talvez se possa, sim, fazer uma gestão louvável repetindo práticas arcaicas de pressionar arbitragem em intervalo de jogo, de vender jogadores da base abaixo do valor estipulado e de demitir técnicos após pressão da torcida. Por que não?
Excluindo um ou outro expediente, a gestão do Vitória tem seguido exatamente esta receita ancestral. O compromisso da diretoria rubro-negra é subir de divisão. O septuagenário Raimundo Viana não se furtaria em tomar medidas nesta vertente. A ele não se dobram constrangimentos. Ele não disse que era moderno.
Marcelo disse que era. Vendeu esta imagem como reflexo para a torcida. E, sejamos justos, até tentou ser progressista. Mas falhou justo nos momentos no qual foi pressionado. Entre a convicção e o imediatismo optou sempre por uma saída segura, em mares corroídos por decisões seculares.
As concessões que o presidente tricolor fez definiram seu modelo de gestão. No discurso criticou duramente as torcidas organizadas. Mas, em um momento de insciência, colocou os dedos médios em riste para, da forma mais grosseira possível, homenageá-la. Defendia uma posição austera da presidência, incorporando a figura de uma liderança esportiva. A imagem sofreu arranhões quando se viu na iminência de perder mais um Ba-Vi e partiu para questionar a arbitragem do jogo. Uma atitude apenas nociva à sua imagem, uma vez que, na esfera esportiva, nada alterou a decisão CORRETA do juiz em expulsar Kieza.
Minha última esperança de um vislumbre moderno era a permanência de Sérgio Soares. Os números do técnico são bons. Venceu Baiano, foi finalista da Copa do Nordeste e entregou o cargo a apenas um ponto do G-4 da Série B. Sant´Ana resistiu em tirá-lo. Aguentou xingamentos, críticas pesadas e bombardeios. Ali se mostrava convicto, nadando contra a corrente em nome de uma ideia. Mas quando foi frontalmente acuado apelou para a primeira receita de uma cartilha segura de velhas práticas: demitir (ao passo que também responsabiliza pelo fracasso) o treinador.
Em suma, Sant´Ana desagradou ambos. Para quem defendia a saída de Soares houve uma enorme demora em tirá-lo. E para quem acreditava na sua permanência como instrumento de uma nova mentalidade no futebol — no caso, eu — foi precipitada demais sua demissão. A gestão ficou no meio do caminho. Diz ser moderna, mas não suporta o peso que este tipo de postura realmente requer.
E agora, como passo final de uma ópera bufa, atira aos leões o treinador Charles, restando apenas OITO rodadas para o fim da Série B. Charles Fabian. O mesmo que a direção rejeitou a efetivação no início do ano dizendo ter um projeto para prepará-lo melhor para o futebol.
Agora, cretinamente pergunto eu, este era o projeto para Charles? Colocá-lo para treinar o time nesta pressão numa reta final de campeonato? Foi para isso que o “prepararam”?
A modernidade chegou. Mas, por enquanto, só em embalagem.
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