Era praxe eu acordar cedo assistindo o Jogo Aberto na TV Band, apresentado por aquele senhor que espancava mesas de jacarandá e mostrava cartolinas vermelhas gigantes aos problemas da cidade. Durante os intervalos desse programa, sempre tinha um reclame de conhecida funerária da capital da Boa Terra, cujo slogan dá o título a esta coluna.
Parabenizando o anônimo publicitário que assinou esta peça, de fato a hora da morte dispensa quaisquer tipos de comentários aos entes queridos do falecido além dos vezeiros “meus pêsames”, “meus sentimentos” e “ele/ela agora está ao lado de Deus”. Quem garante?! Bem, deixemos este assunto aos entendidos em moral. Eu, um veterano em adquirir carneiras, urnas e coroas de flores e especialista em prantos de beira-lápide, jamais teria palavras suficientes para lembrar-me dos meus entes que já se foram.
Quando a morte é repentina e vem ceifar nossas famílias de forma precoce e inesperada, o desespero toma conta de nossas almas de forma a parecer que nosso peito explodirá a qualquer momento. Quando a morte é anunciada, podemos até nos desesperar, especialmente quando os candidatos a cliente póstumo da tal funerária somos nós mesmos. Contudo, a morte anunciada dá tempo, tanto a familiares quanto ao postulante a defunto, tempo para refletir sobre a vida e para ler o livro “Sobre a Morte e o Morrer” de Kübler-Ross, um autêntico best seller do findável.
A fase de negação já tinha acontecido após a derrota para a Chapecoense dentro de casa. A de revolta, depois da lapiada com enema de pequi perante o Goiás no Serra Dourada. A fase de barganha, dali em diante, imbricou-se com a de aceitação diante do triunfo “melhora da morte” em Criciúma intercalado com a triste e inaceitável derrota para o desmotivado Atlético-PR em casa. No final, a crença na Síndrome de Charles perante o Coritiba foi pelo ralo quando o Palmeiras empatou com o time Sub-Menos 20 do Furacão dentro de casa.
Verde foi a cor predominante na campanha do Bahia, sendo que verde também é a cor da criptonita, elemento subjugador do Super-Homem seu mascote. Sucessivas estocadas dos clorofilados Chapecoense, Goiás, Coritiba e Palmeiras sacramentaram mais uma queda de divisão do Tricolor, acendendo o sinal vermelho perante a torcida e colocando o eleitorado do clube em alerta diante do sinal amarelo piscante. As causas da quarta queda da História, e da terceira na Era dos Pontos Corridos, já foram extensamente debatidas e podem ser resumidas no fracasso da gestão Schmidt em alterar o modelo vigente na gestão do futebol.
A torcida do Bahia não só entrou na fase de aceitação do rebaixamento anunciado de forma célere, como também aos poucos vai entendendo que seu clube é grandioso apenas dentro do seu coração. A realidade dos baianos (e nordestinos em geral) é essa da gangorra, e conforme anunciado algumas colunas atrás, um dia a casa do Sport cai – este por sinal o único nordestino momentaneamente confirmado na Primeirona.
Acabou a gasolina da estrela e acabou a pilha da sorte. Minha saudosa mãe sempre dizia que “Deus não ajuda gente descarada”; e o Criador tampouco “liga” para futebol. O místico na verdade quem faz é nossa própria mente e psicosfera vigente; e os vencedores muitas vezes são os que tem mais coração. Coração que se esvaiu na questão dos interesses pessoais dos atletas predominarem sobre os do clube num misto de má gestão e inversão de valores.
O próximo presidente tricolor, a ser escolhido nesta semana, terá como principal desafio aliar os interesses imediatistas de boa parte de torcida e quadro social em voltar desesperadamente à Série A, como também descobrir o mapa do tesouro da diversificação e ampliação de receitas, valorização da base e sua racional utilização, além de equilíbrio administrativo-financeiro que garanta o sucesso seja em curto, médio ou longo prazo.
2015 já começa a partir de agora, com o desafio de enxugar elenco de forma responsável e de planejar-se para o espetacular Campeonato Baiano, o qual defendo que deva ser disputado com o time Sub-Qualquer Coisa para fins de preparação para a Segundona. Disputar uma competição com o Rival entremeada por vários jogos de várzea não agrega a um clube que quer se profissionalizar de fato – a não ser que a meta desse clube seja continuar incorrendo no erro de se medir com um clube chafurdado na lama do chorume.
Não há mais nada a dizer sobre o Bahia, que recentemente reatou relações com a mesma fornecedora de material esportivo símbolo da Era Guimarães de tantas quedas, não-subidas e goleadas contra – certamente o último ato escatológico de uma gestão institucional confusa e desorganizada. Não há mais palavras. Aceitemos a morte e creiamos na Ressurreição engendrada pelo Messias Tricolor a ser escolhido dia 13 próximo. Amém.
Para quem interessar possa, de acordo com a propaganda, a referida funerária possui lojas no “Campo Santo, Jardim da Saudade e Terreiro de Jesus”, e funciona 24/7. Duas delas próximas ao Campo Grande, onde o Cabôco recebe a todos de braços abertos, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas. Eia, pois, Presidente eleito nosso, a vós suplicamos que um dia paremos de sofrer, mas esta frase já é da igreja do Neo Salomão da Celso Garcia.
A democracia esteja conosco!
(ela é realidade entre nós)
Corações ao alto!
(e a mente também, sem olhar pra trás)
Demos graças que agora podemos escolher o presidente!
(é nosso dever e nossa salvação)
Na verdade é justo e necessário, é nosso dever e salvação escolher com consciência e aprender com nossos erros, na unidade do azul, vermelho e branco. Amém.
Saudações Tricolores!
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.