é goleada tricolor na internet
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Publicada em 23 de janeiro de 2006 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

O bonde

“De notícias e não notícias faz-se a crônica”, já escreveu nosso grande mestre Carlos Drummond de Andrade. É precisamente da notícia publicada em jornal que escrevo mais esta crônica para o ecbahia. Estou em Portugal, e depois de assistir Sporting X Marítimo, no belíssimo estádio do Sporting, meio de banzo e meio triste, fico a pensar se o meu Baêeea ainda vai “cumprir seu ideal e tornar-se um imenso Portugal”, como no belíssimo fado de outro gênio: Francisco Buarque de Holanda.

Será que seremos, de novo, de 1ª Divisão? Não, não, a questão a ser colocada é: seremos, de novo, de 1ª grandeza?

Sim, nosso problema é o limitado cérebro, o pouco alcance da visão e o pequenino coração dos dirigentes que se apoderararm de forma imoral do clube que é a nossa paixão, e paixão de milhares de pessoas.

Em Portugal, leio em A Bola – principal jornal esportivo do país – alguns nomes dos clubes da 3ª Divisão do futebol português: Brito Sport Club, Associação Desportiva Esposende, Associação Desportiva Covilhã, Associação Cabeceirense, Sport Club Mirandela.

Recuso-me a aceitar, por muitas vezes, que o meu Bahia está nessa leva. Sem arrogância nem prepotência, serenamente e com todo respeito ao Cene, ao Estrela do Norte, ao Grêmio Coariense, ao Vila Aurora, ao Piauí, ao Mineiros, nós torcedores não merecíamos isso. Durante 75 anos nós construímos um grande clube; nossos avós, nossos pais, ex-dirigentes e, principalmente, os jogadores, construíram um Bahia vencedor, campeão. Se não ganhava, era ao menos valente; se perdia, nunca um submisso, que renuncia à luta por fraqueza, por medo, por resignação.

Hoje, somos humilhados pelo Ipitanga. Estou triste, repito, não porque perdemos, mas como estamos perdendo. Estamos sendo derrotados por nós próprios. Nossos inimigos não são o Itabuna, o Juazeiro, o Vitória, o Brasiliense, o Avaí, mas os próprios dirigentes que comandam o clube, sem inspiração, sem respeitar princípios comezinhos da democracia, como a visibilidade do poder e a possibilidade de controlar seu exercício.

Quem manda, de fato, no Bahia? Onde estão os tentáculos do poder que mantêm o clube a serviço de interesses pessoais, quase sempre escusos?

De notícias faz-se a crônica. De uma nota de um jornal de Salvador, de um episódio banal, podemos extrair toda a dimensão da catástrofe que vai nos consumindo e nos destruindo:

“Carlinhos chegou ao Bahia com muita fama, idealizado para ser o líder do time formado por Luís Carlos Cruz para tirar o tricolor da Série C. Ele havia ganho a terceirona pelo União Barbarense e pelo Remo e seria o xerife que toda a torcida esperava, mas acabou decepcionando. Nos três amistosos que participou foi uma lástima. Na estréia da equipe no Campeonato Baiano, contra o Itabuna, jogou tão mal que acabou barrado. Só que Carlinhos mostrou que não tem humildade: pediu para ir embora, alegando que não veio para o Bahia para ser reserva. Com salário de R$ 12 mil, mais apartamento, o clube acabou se livrando de um grande “bonde”.”

Por que Carlinhos ganhou a Terceirona, deu certo no União Barbarense e no Remo, mas foi uma “lástima” no Bahia?

Quem, verdadeiramente, não tem humildade?

Quem é, de fato, o “bonde”?

XXX

Esta crônica foi escrita antes do BA-VI. Espero que os meninos mudem o curso da história, nos restituindo a glória, ainda que efêmera. Vivemos somente, e tão somente, da espera de um milagre.

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