é goleada tricolor na internet
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Publicada em 5 de julho de 2009 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

O jeito é chamar Joel

Sempre que me defronto com uma situação dramática tenho a tendência de tentar contorná-la, torná-la mais digerível, através do humor. Dizem por aí que a capacidade de rir de si próprio é sinal de sanidade mental. Gosto de pensar que minha atitude ao zombar de coisa aparentemente séria e aflitiva pode ser um reflexo de boa eficiência da minha mente. Mas pode ser mesmo e apenas imaturidade e covardia para encarar a dura realidade sem disfarces e sem maquiagem.

Durante todo este ano de 2009 em que, após as transformações administrativas efetuadas pela nova gestão do Bahia, o clube montou um novo elenco sob o comando do técnico Gallo, eu evitei escrever sob o desempenho do time em campo. Parte disso se deveu ao fato de que as minhas opiniões eram coincidentes com o que a maioria da torcida veiculava nos meios de comunicação disponíveis: por não ter muito a acrescentar, preferi manter-me na condição de observador, para não ficar repetindo o que todo o mundo já comentava aqui e ali. Outro fator que justificou o meu silêncio foi o de tentar dar um voto de confiança à equipe técnica recém-montada, pois não achava possível cobrar resultados imediatos.

Surpreendentemente, o time pareceu encaixar-se no início do Campeonato Baiano e deslanchou a apresentar bons resultados e exibições bem convincentes. Jogadores como o goleiro Marcelo, a zaga com Alison e Nen, o meio com Leandro, Élton, Hélton Luiz e Léo Medeiros, pareciam formar uma espinha dorsal promissora. O estádio de Pituaçu começou a lotar e a manifestar uma vocação para tornar-se o “caldeirão tricolor”. Esse êxito precoce acabou por mostrar-se enganoso quando deixamos escapar a vantagem conseguida em campo, o campeonato caminhou para o seu desfecho com o time já meio descaracterizado e o técnico deu mostras de ter-se perdido um pouco.

Mais uma vez, a noção de que ainda era cedo para apresentar cobranças mais duras fez a mim e a muita gente ainda depositar confiança ou tolerância na continuidade do trabalho de Gallo, pois havia a manifesta esperança de que os frutos viriam inevitáveis durante o Campeonato Brasileiro da Série B. Todos estávamos à espera do pulo do gato de Gallo. Ele tinha que ter cartas na manga… Ele haveria de mostrar bem mais quando o grupo estivesse consolidado… Ele veio revestido do rótulo de formador de time! Era o nosso guia, com aquela voz de monge budista. O importante era a Série B e o time iria chegar lá estruturado.

Também havia a idéia de que PC, o huno, daria continuidade ao seu remoto histórico de boa garimpagem e ousadas contratações, mesmo com a penúria de recursos vigente. Não estou certo quanto aos números, mas ouvi falar em 35 contratações efetuadas, entre Cadus, Richellies e rancho.

E o tempo foi passando, o campeonato avançando, as promessas não vingando e as esperanças se desvanecendo. E o time foi caindo pelas tabelas e pela tabela. De repente nos demos conta que fomos logrados, engabelados, iludidos. Acordamos no meio de um pesadelo e notamos que, mesmo acordados, o pesadelo persiste como nossa realidade. O time com o qual contamos para tentar o acesso à Série A é uma piada. É fraco. Fraquíssimo. O técnico que nos conduziria à terra prometida mostrou-se confuso, equivocado e arrogante. Mandou o mar se abrir e o que conseguiu foi atrair um tsunami sobre nossas cabeças.

O gestor de futebol não conseguiu (ou não se empenhou para) nem mesmo contratar um só jogador que tivesse sido destaque no Campeonato Baiano (Neto Berola, Robert, Robinho) – foram todos parar no rival, que os contratou basicamente mais para impedir que o Bahia se reforçasse do que necessariamente para utilizá-los. E ainda andaram levando para lá o lateral direito Nino Paraíba, cuja contratação fora anunciada antes pelo Bahia!! Ramon foi esnobado e o rival mais que depressa o segurou. Foi uma porrada em cima da outra. O que se viu mesmo em termo de contratações foi a rotina de uma seqüência de jogadores que não estavam em atividade (Rogério Correia, Lima, Joãozinho, Alex Terra), cuja recuperação física e clínica se tornaram mais um ônus para o Bahia.

Aqui no meu prédio tem um porteiro atrapalhado que parece ter sido a inspiração para o “Porteiro Zé”, que tanto sucesso fez na internet. Quando o interfone toca e a gente reconhece a voz dele, sabemos imediatamente que devemos ligar um mecanismo de decodificação da mensagem que virá. Se, por exemplo, ele diz “Chegou o rapaz da pizza, aqui!”, devemos entender que o colega de meu filho chegou com as apostilas para estudar para a prova; se diz “Diga a Lucas que Vito tá aqui embaixo”, podemos concluir imediatamente que André ou Guga estão a caminho já subindo o elevador; se fala “Avise a Dona Ângela que o carro dela está com o farol aceso”, podemos ir logo preparando o macaco e chave de roda, pois o carro de Mateus está com o pneu furado. O nome desse simpático e útil porteiro é Joel.

Após essa fatídica derrota dentro de casa para o Figueirense, fui percorrendo as rádios em busca de notícias sobre as conseqüências que adviriam. Entre os muitos comentários sobre a possível demissão do técnico Gallo, um me chamou a atenção: o repórter Márcio Martins revelou que, no momento de uma substituição, o funcionário tricolor que foi levar o recado para chamar o jogador que iria entrar, entendeu que o jogador escolhido seria Beto. Quando gritou “Quem? Beto?”, pedindo confirmação do nome ao técnico, ouviu a resposta “Não, Paulo Roberto!”. Ato contínuo, Beto, retado, deu um chute num cone que foi parar num motel das proximidades do estádio. Aí Paulo Roberto entrou e foi aquela catástrofe, quase superando o insuperável Ávine.

Nada disso teria acontecido se o técnico fosse o nosso porteiro Joel. Os funcionários do clube já saberiam utilizar corretamente o decodificador das mensagens do técnico maluco e quando ele anunciasse a escalação ou pedisse uma substituição, fariam exatamente o oposto do solicitado. A solução para o Bahia, portanto, é chamar Joel. O meu prédio vai sentir saudades. Mas pelo menos eu vou rir.

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