Patinhos feios

Quem diria que veríamos num mesmo time Márcio, Elias e Chiquinho, saídos da base tricolor, conquistarem legitimamente uma vaga na Primeira Divisão com o Atlético Goianiense, hein?! De sã consciência, nenhum torcedor tricolor seria capaz de imaginar tal evento.

Não, não é saudades e nem achando que esses jogadores são craques, mas provaram que são capazes. Apenas quero chamar a atenção do torcedor para que ele perceba que futebol é antes de qualquer outro motivo, trabalho sério com objetivo definido e mais união, aliados à técnica.

Ainda bem que o Bahia não precisou disputar a vaga no último jogo – desde o embate com a Ponte Preta a coisa já houvera clareado – com a necessidade de vencer. Coisas do futebol, mas acima de tudo essas coisas deixam bem claro a necessidade de se enxergar esse futebol e os seus artistas com mais respeito e paciência.

Futebol diferenciado era o de duas décadas atrás. Craques não faltavam e o jogo era muito mais bonito de se ver. Atualmente não há muita diferença entre os times – vide o Duque de Caxias -, ganha quem tiver mais conjunto e qualidade. Ganha o clube que estiver mais profissionalizado e bem arquitetado dentro desse contexto.

Assim foi que os “refugiados” pelo Bahia conquistaram Goiânia e ascenderam à Série A. É claro que o time do Atlético vai precisar de reforços se quiser aspirar uma campanha razoável na Série A. Tecnicamente é um time fraco, porém teve determinação dentro do objetivo traçado, na diretoria e em campo. Uma coisa é consequência da outra.

Soube que Valdomiro, que estava (…) em Portugal, foi negociado para um clube da Alemanha. Será que esses “patinhos feios” só se tornam bonitos quando saem do Bahia? Ou será mesmo a falta de paciência junto com a ansiedade da torcida, ao exercer uma pressão estonteante em cima desses jovens?

Marcone, por exemplo, esteve o tempo todo na porta do inferno. Esse cara enfrentou uma onda contra que não foi brincadeira! Não sei como ressurgiu, só sei que da forma como está dando a volta por cima, não tenho dúvida, será de muita utilidade para o Bahia no próximo ano, até pela sua personalidade. Sou um dos que achava que Marcone não daria certo… Pois bem, rendo-me à sua capacidade de superação diante das dificuldades e das injustas cobranças.

Esses meninos que procuram espaços no futebol são pessoas que deixam seus pais e suas cidades em busca de condições para realizar seus sonhos, nem sempre bem sucedidos…

Ananias é outro exemplo. Quase expurgado, foi à luta e ensinou aos seus próprios críticos uma forma melhor de analisar os valores da Base. Será que Bonamigo abriria mão do concurso de Ananias? Não, porque o jogador é um dos principais artífices do seu esquema.

Marcos, um garoto da base que procede do Cruzeiro. Se continuar crescendo tecnicamente como vem acontecendo, vai voltar à sua origem e chegar à Seleção Brasileira num futuro não muito distante. Anote.

Tenhamos paciência com os nossos valores, saibamos compreendê-los. O futuro do Bahia como de qualquer outro clube está na formação de valores, mas isto requer muita perseverança e tempo. Não são dois ou três jogos que podem decidir futuro e condição técnica de um recém saído da Base.

Não sou contra a importação de jogadores, isto é, desde que ela seja criteriosa. Quando desenfreada e sem compromisso com o clube, na maioria das vezes, raramente dá certo.

Creio que os jogadores que estão ficando para 2010 são os que deveriam ficar. É o apurado pelo clube, digamos assim. Não me venham com sonhos esdrúxulos de formar um “timaço” porque isso não existe.

A torcida tem de encarar a realidade de quem não subiu, não chegou à Série A. Porém há clubes que estão na Série “A” dispensando treinadores e dirigentes remunerados acima do teto, isto porque chegaram à realidade dos fatos e colocaram os pés no chão.

Gosto da forma como está sendo pensado o futuro tricolor através desse bom trabalho de Eliseu Godoy. Será mantida a base de um time que demonstrou qualidade a partir do jogo contra o Vasco, no Rio de Janeiro. Pena que nem todos que demonstraram essa qualidade poderão continuar. Mas aqueles que permanecem, juntando aos que estão subindo da Base, certamente entrarão fortes no quesito conjunto em 2010.

Bonamigo me parece, senão um excelente estrategista, um bom motivador e disciplinador. Já não há como a torcida se queixar, o Bahia tem um técnico e um time e meio, ou mais. Pelo menos para começar o ano de 2010 sabendo por onde.

O Bahia do próximo ano não será uma base formada no campeonato estadual. Essa base foi formada no campeonato brasileiro da Segunda Divisão, e os que estão ascendendo vêm com a garantia e o carimbo desse indispensável profissional tricolor, Newton Mota.

Eu acredito em pessoas com a história profissional de Mota. Diria que ele é o senhor do destino do Bahia, pois dele depende o trabalho na Base e as realizações futuras no futebol.

Acredito no trabalho de Eliseu. Tem experiência e carisma, vestiu a camisa tricolor como poucos, foi brilhante em campo e fora dele. Jogava pelo Bahia com uma técnica incomum e uma garra digna do seu caráter. É por isso que o Bahia mudou desde a sua chegada, a olhos limpos. Eliseu é antes de superintendente um torcedor privilegiado que tem como se fazer respeitar, pela sua própria história no clube.

Um exemplar modo de operar a estrutura de futebol no Bahia é que no departamento das divisões inferiores quem manda é Mota. Mas manda com profissionalismo responsável. Quando um jogador ascende não é simplesmente o “olho clínico” do técnico que o enxergou, sim a responsabilidade e conhecimento de causa de dois departamentos bem entrosados.

São esses detalhes aparentemente sutis que o Bahia precisa para voltar a ser o velho Esquadrão de Aço.