Reflita

O Clube de Regatas Brasil das Alagoas não era nenhum estereótipo do Cavalo de Troia enviado à Bahia para nos pegar de surpresa. Tínhamos a consciência das dificuldades, afinal o time das Alagoas não chegou até aqui por acaso – este colunista não dava como favas contadas o sucesso na batalha, apenas esperava que o mando de campo favorecesse como de hábito o bom time do Bahia, mas futebol não é uma ciência exata, é sim, um jogo do imponderável. 

Pense, se o Fortaleza ganhar a Copa Nordeste! Arrisco dizer que imediatamente surgirão os adeptos de um Apocalipse no Tricolor reclamando contratações porque o atual elenco do Bahia não correspondeu às expectativas, já que perdeu a classificação para o CRB, como se o futebol não fosse também imprevisível. E se o CRB for o vencedor da CN derrotando o Fortaleza, o que dirão? Que nem Bahia e nem Fortaleza possuem bons times. Acho que seria mais sensato acreditar na capacidade, por mérito, do bom time das Alagoas. Reflita.  

No futebol, nas competições sem os pontos corridos, o que mais decide é a igualdade imposta pelo “mata, mata” onde os clubes favoritos não podem cometer erros em detalhes decisivos porque quem ganha o jogo não é o estrelismo do jogador, é a obediência técnica e tática. Foi esse o fator disciplinar que fez a diferença a favor do CRB contra o Bahia, numa tarde infeliz do Tricolor, onde nada deu certo. É assim o imprevisível mundo do futebol, que precisa ser olhado pelo prisma da coerência para reconhecer o mérito do adversário sem a necessidade de prejulgar e acusar profissionais como Marcos Felipe e Cauly – só para citá-los como exemplo. 

Domingo próximo o Bahia enfrentará o Atlético Mineiro em BH e qualquer resultado será naturalmente normal para qualquer lado – menos com goleada. Digamos que o Bahia perca o jogo; o grau de compreensão do torcedor das redes sociais e de parte da imprensa alternativa torna-se zero. Não há termômetro que controle essa febre, e consequentemente isto deixa o contexto mais tenso desnecessariamente.  

Cronologicamente o Bahia está no seu primeiro ano – maio a maio – sob comando do Grupo City, mas nesse curto espaço de tempo zerou o passado das dificuldades e está construindo uma nova estrutura, moderna em todos os seus departamentos, com tecnologia de ponta, fazendo ajustes na estrutura física atual, projetando um novo CT no Centro Industrial de Aratu – munícipio de Simões Filho –, com um time de futebol ainda em desenvolvimento, claro, mas realizando ótima campanha, e tudo isso ainda não dá uma visão clara do futuro do Bahia à grande parte dessa torcida? Prefira focar nos efeitos de longo prazo, torcedor, porque no futuro você detestará os benefícios do imediatismo. Acredite. 

Não ganhar pelo menos uma das duas competições, doméstica ou regional, já faz do Bahia um fracasso? Não. Como torcedor quero ver meu clube ganhando tudo! Mas na condição de formador de opinião tenho de lidar friamente com a realidade dos fatos porque essa é a cartilha do equilíbrio mental. Podemos reclamar e até ficar bravos, mas temos de compreender os tropeços para entender a realidade do revés que eventualmente poderá acontecer, e saber pensar positivamente em tudo que diz respeito ao futuro do Bahia e parar de fazer comparações criticas entre o futebol romântico, praticado há 30 anos, com o futebol atual, cada vez mais embasado na ciência.

No Bahia tudo se transforma de formiga para elefante no piscar dos olhos. Rogério Ceni falou que o clube dificilmente investirá muito dinheiro neste ano para adquirir grandes jogadores. Foi mal interpretado e isso virou um assunto cansativo ao extremo. As pessoas precisam entender melhor a resposta do entrevistado antes de polemizar o assunto. Ou simplesmente não desenvolver o corpo de um fato corriqueiro. Contratar ou não é algo opcional, ou prerrogativas que devem ser exercidas de acordo com as estratégias do clube. Vamos ao futuro.