é goleada tricolor na internet
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Publicada em 8 de outubro de 2024 às 10:21 por Victor Moreno

Victor Moreno

Síndrome de Roland Emmerich

Domingo, 06 de outubro de 2024

Dia de exercer o dever cívico é sempre um bom dia. De verdade, eu não consigo entender as pessoas que odeiam política e se abstêm do seu voto, privilégio esse que foi conseguido a duras penas pela turma que foi às ruas solicitar essa possibilidade de escolher qual indivíduo exercerá o papel de nos conectar aos direitos e deveres que o estado deveria propiciar e impor. Portanto, levantei cedo e fui cuidar dos meus afazeres domésticos antes de sair em busca da minha querida e amada Simões Filho, antigo distrito de Água Comprida, para depositar minha confiança nos meus representantes.

Chegando ao meu destino, encontro meu amigo Moacir, obviamente mais conhecido como Moa, um grande cinéfilo. É de praxe ao encontrar Moa escutar suas histórias e suas peripécias, trata-se de um sujeito boquirroto e que ama cagar goma. Gente fina, mas que só curte falar sobre si. Ele narrava entusiasmado que, ao sair da seção eleitoral, iria comprar um galeto para almoçar e, em seguida, assistir ao mais recente filme de um de seus diretores favoritos: o cineasta, produtor e roteirista alemão Roland Emmerich. O filme chama-se Moonfall (ou em título Pt-Br: Moonfall-Ameaça Lunar).

Eu também sou um consumidor ferrenho de produções cinematográficas e confesso que não gosto muito do trabalho desse diretor. Mas, como não tive tanta disposição assim para debater, escutei a sinopse narrada pelo amigo calmamente em silêncio, tentando não demonstrar no rosto o que eu pensava realmente sobre essa produção. E sabe por que não curto os filmes desse realizador? Explico: – Ele é uma caricatura de si mesmo. Roland é o diretor responsável por sucessos estrambóticos do ponto de vista comercial, faturando alguns bilhões de dólares em suas películas, com destaque para filmes como Independence Day; Godzilla; O dia depois de amanhã e o desastre retumbante ’2012’. 

Pra quem tem o hábito de se entreter utilizando filmes já deu pra perceber pela citação dos seus trabalhos o porquê eu imputei nele o rótulo supracitado. O diretor acertou uma vez um filme com a temática de catástrofe e se tornou um viciado em destruir o mundo. ‘Independence Day’, com Will Smith como protagonista, narra a humanidade tentando impedir uma invasão alienígena que trará o fim da espécie homo sapiens sapiens; O remake de ‘Godzilla’ (1998), por sua vez, retrata um monstro com aparência reptiliana que destrói tudo onde passa e dizima a humanidade; ‘O dia depois de amanhã’ inova, nele o mundo já acabou devido ao aquecimento global,  o enredo foca em sobreviventes;‘2012’ é uma tremenda hecatombe, uma tentativa de mostrar o apocalypse maia, um desastre em todos os sentidos,  um filme tão ruim que o John Cusack deveria pensar em desistir da carreira após participar de uma carniça daquela. Finalmente chegamos a Moonfall e advinha… Mais um filme de destruição do mundo, dessa vez a lua vai colidir com a terra.

O rapaz é persistente em sua missão de alertar a humanidade sobre sua destruição. Ou apenas é um realizador sem criatividade alguma. Você, caro leitor, que chegou até aqui deve estar se perguntando o porquê você está lendo essa resenha sobre cinema em pleno ecbahia.com, não é mesmo? E te digo agora. Esse preâmbulo extenso que você acabou de ler é para traçar o paralelo entre o diretor alemão e o ex-goleiro e treinador brasileiro nascido em Pato Branco-PR, Rogério Ceni, técnico do nosso fervorosamente amado Esporte Clube Bahia. Nós, enquanto torcedores apaixonados, deveríamos realizar uma abnegada investigação na vida do nosso técnico, um trabalho digno de um stalker. O objetivo seria encontrar, lá no longínquo ano de 1996, em que gruta, mata ou ambiente, Roland Emmerich e Rogério Ceni estiveram ao mesmo tempo. Se conseguirmos encontrar essa correlação, poderemos encontrar qual mosquito picou essas duas personalidades e entender a doença crônica que modificou o cognitivo de ambos e os tornaram tão limitados em seu trabalho.

Ironias a parte, é comovente a persistência de Rogério Ceni em cometer os mesmos erros. E digo persistência para não chamar de limitado o técnico responsável pelos melhores resultados esportivos do Bahia e Serie A nesse século. De verdade, eu gosto do blindado. O que eu não gosto é porque, já que ele sabe exatamente como todos os adversários vão jogar e nessa altura do campeonato não existem mais surpresas (palavras do próprio), ele não tenta fazer com os rivais o que todo mundo faz com ele: aproveitar as fragilidades e desvantagens do modelo de jogo das equipes brasileiras. Como por exemplo, o Bahia: – todo mundo sabe que se deixar Caio Alexandre jogar solto, Arias espetar na amplitude pelo lado direito, Everton não precisar voltar tanto, Cauly ficar nas entrelinhas e o time como um todo navegar junto entre as fases de construção até chegar à intermediária defensiva do adversário com bola dominada e a equipe disposta no campo de ataque com cada jogador em sua posição, vai passar mal. Tanto é que o tricolor tem um dos melhores ataques do campeonato e não saiu da primeira página da tabela de classificação.  

Mas, todo mundo sabe também que se Caio Alexandre não tiver espaço e, em efeito cascata, Everton e companhia limitada tiverem que baixar muito para fazer a saída de bola, quando o Bahia conseguir sair jogando, vai atacar sempre em inferioridade numérica e perder a bola, porque na frente não temos nenhum jogador capaz de reter a bola por muito tempo para que o time chegue para ajudar. Às vezes até consegue segurar, mas temos um time lento, logo o adversário chega ao mesmo passo, ou antes. Sabendo disso, todos os adversários que pressionaram o Bahia, causaram grandes dificuldades para o tricolor. É um roteiro repetido, um jogo que já aconteceu muitas vezes esse ano e foi o jogo responsável pelas nossas maiores frustrações na temporada. À bem da verdade houve equipes que fizeram o ‘protocolo criptonita’ do Bahia de Ceni e perderam mesmo assim, afinal, nosso time é bom (acredite, o Bahia tem um belíssimo time).

É aí que entra a ‘’síndrome de Roland Emmerich’’, como apelidei a doença que acometeu o técnico do tricolor de aço, causada pelo mosquito Aedes Repeat, se ele sabe que o adversário vai acionar o protocolo criptonita e ele tem intervalos gigantescos para treinar, por que ele não posiciona sua equipe para atacar o espaço nas costas da defesa do oponente? Por que ele não realiza as alterações necessárias no time titular para explorar a vantagem que o adversário dá a ele? Quando uma equipe sobe muito as suas linhas para marcar alto um adversário, ela deixa uma verdadeira Avenida Luís Viana Filho nas costas da última linha defensiva. É lógica, não precisa nem ser treinador pra ver isso. E o elenco do Bahia tem jogadores que conseguiriam explorar essa fragilidade com movimentos de corrida. A arapuca tá armada: – 2 ou 3 para correr na profundidade e mais 2 prontos para lançar. O resto da equipe poderia ser escolhida tendo jogadores fortes fisicamente para ganhar primeira e segunda bola e castigar o adversário. É o óbvio da bola.

Acontece que Rogério alega que sua equipe é montada para ficar com a bola o máximo de tempo possível e não está disposto a fazer concessões e adaptações em decorrência de como o adversário irá se portar. Tudo bem, aceito seu argumento, mas, questiono: – se sua equipe é montada pra ficar com a bola, porque que o Bahia é um dos piores times do campeonato em questão de ações defensivas no campo do adversário? É impossível ser uma equipe que fica com a bola o tempo inteiro se não tiver aquela ânsia de recuperá-la quando perde. Com isso, o Bahia se torna uma equipe engessada, que precisa de um cenário muito específico para fazer seu jogo, que é quando enfrenta adversários que não acionam o protocolo criptonita por não estarem engajados o suficiente para pressionar o Bahia, como por exemplos times bons desmotivados, ou quando encara times muito ruins, que mesmo que tentem pressionar o Bahia, sucumbam diante da qualidade técnica dos nossos jogadores.

Eu jurei que não cornetaria mais o Bahia este ano e curtiria a viagem. E estou dando meu máximo para me manter firme no meu propósito de ser feliz com o Bahia em 2024, principalmente depois do regozijo que foi fazer quarenta e cinco pontos em setembro, coisa inédita em minha trajetória como adepto, mas, o obstáculo Ceni é mais forte que minha disposição. O professor sabe o que vai acontecer, mas, ele tá viciado em repetir a mesma fórmula o tempo inteiro esperando resultados diferentes. E é nessa aí que viramos passageiros da agonia vendo o mesmo jogo acontecer várias vezes e repetindo as mesmas críticas, que ironia. E, já que eu estou feliz com o Bahia e Rogério pediu que fechasse pra balanço apenas no final da temporada, me resignarei e apenas torcerei que já esteja na pauta do nosso técnico e dos seus correligionários a busca pelo santo remédio que o curará dessa síndrome que o faz cometer os mesmos erros de sempre, com absoluta convicção, frustrando todo mundo, repetindo idiossincrasias e clamando para que não sufoquem o artista, pois, ele está criando algo inédito: – A caricatura de si mesmo.

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