é goleada tricolor na internet
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Publicada em 21 de agosto de 2007 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Técnico de botequim

Na crônica anterior, escrita aqui neste espaço há quase um mês, ainda sem ter visto nenhuma atuação do time do Bahia por conta dos jogos com portões fechados, eu dizia que Arturzinho não tinha o time na mão. Agora, depois de ter visto os jogos contra o Confiança, Linhares e Nacional, eu irei plagiar Carlos Heitor Cony e dizer: “Ledo e ivo engano!”. Pude constatar que Arturzinho está comandando, sim, quase todos os movimentos do time. Os posicionamentos, as jogadas de falta, de escanteio. Se isso é bom, só tempo dirá.

Antes que a galera aí comece a desqualificar minha competência para tecer considerações quaisquer sobre técnica e tática de futebol, devo ir me adiantando e concordando que não possuo nenhuma formação acadêmica nessa área; o mais próximo que já tive de um treino de futebol foi quando o técnico Gainete levou o time da Catuense para treinar nos fundos da minha casa de praia em Arembepe e me tirou o sossego por uma tarde.

Assim, desde já, assumo humildemente que não passo de um comentarista de boteco. Mas nós, comentaristas de botequim, é que lotamos aquela zorra de estádio e nos esgüelamos torcendo para o time que o técnico coloca em campo. Portanto, acho que devemos ter voz, embora reconheça o direito que têm os técnicos de não quererem nos ouvir nem levar em conta o que pensamos. Até porque nós, comentaristas de botequim, nunca concordamos uns com os outros e onde houver quatro de nós haverá cinco opiniões divergentes.

A imprensa esportiva daqui da Bahia não tem o bom costume de fazer o “scout” (estatística) dos jogos – se eu fosse comentarista de rádio e tivesse que preencher os 15 exasperantes minutos de intervalo com análise do jogo, eu certamente me apoiaria em dados estatísticos – não só para encher lingüiça, mas principalmente para dar mais consistência ou suporte à minha análise. Se algum jornalista menos preguiçoso tivesse feito o scout desses três jogos que eu assisti, provavelmente evidenciaria que o tempo de posse de bola dos adversários foi maior que o do Bahia.

Pelo menos essa foi a sensação que passou pra mim. Não estou dizendo que posse de bola, isoladamente, ganha jogo – não sou tão estúpido assim. Mas, para o torcedor no estádio, a bola estando em poder do nosso time dá um certo alívio e uma sensação de as coisas estarem sob controle.

O Bahia está se livrando da bola muito rápido, na tentativa de fazer lançamentos para os dois atacantes enfiados (lá nele). Quando dá certo, como contra o Linhares, pode sair um gol ou um lance perigoso atrás do outro (lá neles, novamente). Quando não dá, perdemos a posse de bola para o adversário e ficamos olhando eles a tocarem até se aproximarem da nossa área. E aí a defesa corta (quer dizer, Fausto faz o desarme). Pra mim, esse estilo de jogo já tem dedo de Arturzinho.

Outra razão para estarmos com tão pouca posse de bola é o desempenho insatisfatório dos dois meias: Cléber e Danilo Rios. Se vierem me perguntar o que eu faria, se fosse técnico e tivesse esses dois jogadores à minha disposição para escalar, eu responderia: coloco ambos no time, assim como Zagalo, em 1970, colocou Gérson e Rivelino – meias canhotos – na mesma equipe. Mas o diacho é que não está dando certo para Danilo e Cléber. Eles ainda não encontraram o lugar nem a forma correta de jogar nesse time.

Mas creio ser possível que isso possa vir a acontecer. Primeiro eles dois precisam voltar a ter um bom rendimento técnico. E isso não está acontecendo também porque, como ninguém mais é bobo ou em virtude de contarem com informantes aqui da nossa terrinha, todos os três times citados vieram para cá com marcações especiais sobre esses dois jogadores que deveriam ser a fonte primária de criação de nossas jogadas e retenção da bola.

Cabe a Arturzinho e aos próprios jogadores encontrarem alternativas para sair dessa marcação. Uma opção pode ser a inversão de posições de um meia com um volante: num momento do jogo, recuar Cléber e avançar Emerson Cris, por exemplo (assim como Gérson fez com Clodoaldo em 70, no jogo contra o Uruguai). Não pode recuar Cléber, porque ele não sabe marcar? Nonato também não sabia, mas está beirando a perfeição nesse quesito (entre outros). É só ter vontade de se empenhar e fazê-lo.

Aliás, no jogo de domingo contra o Nacional, houve um momento em que Arturzinho quase entra em campo e arrasta Cléber pela camisa para esse ficar atrás na marcação, cobrindo Carlos Alberto que se preparava para cobrar uma falta na lateral (a propósito: por que só Carlos Alberto é quem cobra as faltas do Bahia? Cléber desaprendeu?). E Cléber voltou direitinho e fez o que o técnico “pediu”.

Outra coisa: quando Arturzinho substituiu Cléber por Marcone, liberou Emerson Cris para avançar e esse, como não tinha ninguém destacado pelo adversário para marcá-lo, conseguiu reter mais a bola, fazer infiltrações, chutar a gol, etc. É simples? Parece. Mas se fosse tão fácil, eu era técnico de futebol e não comentarista da botequim.

Comentário final, antes da próxima cerveja: quem foi o especialista europeu que não aprovou o jogador Eduardo quando esse foi fazer testes na Holanda? Devem ter achado que ele não tinha físico de zagueiro! Quá-quá-quá! Nem vou elogiar esse menino para não valorizá-lo mais do que ele mesmo conseguirá naturalmente e para não o perdermos antes de terminar o campeonato. Apenas vou registrar o que eu ouvi ele dizer em entrevista radiofônica à beira do campo antes do jogo: “Vou me empenhar ao máximo para tirar o MEU Bahia dessa situação”. Esse é o meu garoto… Garçom, desce mais uma que eu fiquei emocionado!.

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